O trabalho de compositor é um trabalho de planeamento, de uma projecção no futuro. Tal como a improvisação pode ser considerada composição em tempo real, a composição no sentido tradicional remete-nos a uma ideia de tempo projectado, tempo diferido. O compositor, no papel de projectista, evita o tempo real que é o da performance. O seu trabalho passa-se num espaço privado, é um trabalho de mesa, longe da audiência e do nervosismo da oportunidade única (do erro), e da pressão da exposição pública. No entanto, o acto de compor constitui uma actividade com uma ontologia própria que se manifesta no registo, seja a partitura, desenho, escrita, ou na criação de peças em suporte digital. O trabalho de mesa, torna-se performativo (trabalho de palco) com uma mesa de trabalho que sonoriza (e expõe visualmente) o gesto da escrita. O trabalho do compositor passa a ser não uma projecção, mas uma realização sonora e visual, uma partitura em tempo real, ou um poema visual e sonoro.
Diogo Alvim estudou arquitectura e composição em Lisboa. Fez um doutoramento em composição/ artes sonoras no SARC (Belfast). O seu trabalho inclui música instrumental e electrónica, e projetos de arte sonora, tendo sido apresentado em vários países da Europa e no Brasil. Desenvolve colaborações com artistas plásticos e de som, coreógrafos e encenadores.