Confronto entre jornalismo e poder em debate na FCSH

/Confronto entre jornalismo e poder em debate na FCSH
Confronto entre jornalismo e poder em debate na FCSH2012-05-09T00:00:00+00:00

O jogo de forças entre o poder político e os meios de comunicação foi um dos temas em destaque na conferência “Um Dia com os Media”, no passado dia 3 de Maio, na FCSH, uma iniciativa conjunta com o CIMJ.

A ameaça da censura em regimes democráticos e os interesses que cercam o escrutínio jornalístico foram alguns dos temas debatidos, acompanhados por uma forte preocupação com o futuro do jornalismo.

O encontro, que assinalou o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, deu especial atenção aos papéis do jornalista e do poder político em democracia, bem como à relação tensa que deles emerge. “A censura, de uma ou de outra forma, está sempre presente em qualquer governo ou seja qual for a natureza do regime político”, afirmou Ana Cabrera. A investigadora do CIMJ, que na sua intervenção fez uma análise da actuação da censura no Estado Novo, salientou que, apesar de vivermos em democracia, “os meios de comunicação são apetitosos para os políticos”, pela sua possibilidade de instrumentalização, acrescentando, no entanto, que “muitas vezes, as questões mais polémicas são escrutinadas pela comunicação social”.

José Rodrigues dos Santos, também presente no painel de oradores, reconheceu as tentativas de controlo da comunicação social por parte de governos pós-25 de Abril, em especial os de Cavaco Silva e José Sócrates, mas ressalvou também que nos dias de hoje, com a ajuda da Internet, é mais difícil para um governante interferir com os media. “Graças ao pluralismo, não é possível controlar tudo. Há-de sempre haver alguém que vai noticiar e que rompe com essas tentativas de silenciar”. O jornalista e docente da FCSH salientou o papel de denúncia do jornalismo nos casos da licenciatura de José Sócrates e a sua alegada tentativa de controlo da TVI – ainda que Rui Cádima, professor e vice-presidente do CIMJ, tenha frisado que “alguns dos problemas nacionais não foram devidamente acompanhados pela comunicação social em termos de escrutínio da coisa pública”.

Baseando a sua intervenção numa ideia do liberal alemão Max Otte de um “crash de informação”, Rui Cádima referiu casos nacionais em que os media não actuaram como deviam, como a degradação das escolas, a construção do Campus da Justiça e o início de construção das linhas do TGV. “Os sistemas político e económico acabam por cercar as múltiplas possibilidades dos media e dos jornalistas de chegar a um determinado ponto e tentar esclarecer determinada questão”. Um contexto “violento” que trouxe para o debate com a audiência, maioritariamente constituída por alunos da licenciatura de Ciências da Comunicação, outros assuntos nacionais que não tiveram uma cobertura jornalística adequada, como as Parcerias Público-Privadas.

O futuro da profissão jornalística e os desafios que esta enfrenta foram questões recorrentes por parte da audiência, preocupada com as más perspectivas de empregabilidade, com a aposta nas qualidades de cada um e no desenvolvimento do empreendedorismo a surgirem como possíveis respostas à crise no sector. Rui Cádima prevê, nessa medida, que o departamento de Ciências da Comunicação da faculdade crie uma unidade curricular ligada ao empreendedorismo e aos “new media” nos próximos anos.

Texto: Pedro Zambujo (aluno da licenciatura em Ciências da Comunicação da FCSH)

Foto: Andreia Martins (aluna da licenciatura em Ciências da Comunicação da FCSH)