Maria do Carmo Piçarra promove entre hoje e amanhã o ciclo “Os cinemas das independências africanas”

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Maria do Carmo Piçarra promove entre hoje e amanhã o ciclo “Os cinemas das independências africanas”2015-03-25T18:01:51+00:00

No âmbito do projeto pós-doutoral que está a desenvolver no CECS, Maria do Carmo Piçarra promove entre hoje e amanhã o ciclo "Os cinemas das independências africanas"  na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (anfiteatro III, 18h00).

Maria do Carmo Piçarra (CECS/CIMJ) e Marta Lança apresentarão respectivamente "Deixem-me ao menos subir às palmeiras…" (1972), de Joaquim Lopes Barbosa, e "Nelisita" (1983), de Ruy Duarte de Carvalho. 
Após a exibição de cada filme seguir-se-á um debate.

Deixem-me ao menos subir às palmeiras…

Ficção, Moçambique, 1972, 67’. Falado em Ronga. 
Realização: Joaquim Lopes Barbosa; Produção: Somar Filmes; Actores: Gabriel Chiau (capataz), Malangatana Valente (guerrilheiro), Marcelino Comiche (Djimo), Helena Ubisse (Maria), Estevão Macumguel (Madala), Eugénio Ferreira (machambeiro) e Eulália Mutemba (Maria).

Deixem-me ao menos subir às palmeiras…(1972), de Joaquim Lopes Barbosa (n. 1944), foi proibido pelo regime do Estado Novo. Como tal, antes do 25 Abril de 1974 nunca teve estreia comercial. Depois disso, raramente foi projectado, tendo permanecido praticamente desconhecido do público e sido pouco referenciado na história do cinema. 
O poema Monangamba do angolano António Jacinto (1926-1991), que descreve as duras condições de vida dos trabalhadores negros contratados, foi a primeira inspiração para a realização deste filme. Uma segunda influência foi o conto Dina, do moçambicano Luís Bernardo Honwana (n. 1942), publicado na obra Nós matámos o cão tinhoso. 
Pela primeira vez na história do cinema português, um filme de ficção, falado em Ronga, foi interpretado quase exclusivamente por negros, para cuja participação foi determinante a colaboração de Malangatana Valente (1936-2008). A todos os actores foi pedido que “exprimissem essencialmente o que sentiam e como viviam os seus conterrâneos – o que lhes era familiar”. As sequências iniciais que retratam os trabalhadores são documentais.
Passado numa machamba, o enredo do filme centra-se na figura de um capataz que submete os trabalhadores a trabalhos duros que culminam, frequentemente, no colapso dos mais fracos. Um dia, o capataz violenta sexualmente Maria, filha de Madala. Incitado à revolta, Madala não só não reage à ofensa como aceita a garrafa de vinho que o capataz lhe oferece. Acaba por sucumbir ao sofrimento, físico e emocional, o que provoca a revolta dos trabalhadores. 

Texto: Maria do Carmo Piçarra