Revista Media & Jornalismo nº 5 – As Mulheres e os media

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Revista Media & Jornalismo nº 5 – As Mulheres e os media2010-03-22T20:19:48+00:00

As mulheres e os media é o tema de abertura deste número de Media & Jornalismo e percorre vários dos seus conteúdos.

A partir das preocupações dos movimentos feministas sobre a escassa e estereotipada representação das mulheres nos media, Maria João Silveirinha dá a ver outras linhas de investigação neste campo. São pesquisas associadas aos estudos de recepção por parte de audiências femininas e também ao próprio crescimento da participação das mulheres como profissionais dos media, nomeadamente como jornalistas. Será que as representantes afectam a imagem das representadas? A autora questiona os possíveis contributos dessa maior presença feminina para que se verifiquem mudanças nas representações de género.

A investigadora britânica Janice Winship, com uma vasta pesquisa sobre revistas femininas, analisa o conteúdo de três campanhas de publicidade nos finais dos anos 90, orientadas para a “mulher ganhadora” e que puseram em causa formas convencionais de representação do masculino e do feminino. Saltando das páginas dos media para os grandes cartazes de rua, estas campanhas publicitárias suscitaram, pelo seu conteúdo e por essa visibilidade pública, uma grande controvérsia e debate na sociedade britânica. Este artigo traz assim não só contributos para pensar a representação de género nos media mas também para discutir de forma mais crítica o próprio lugar da publicidade no espaço público.

Por sua vez, Isabel Ferin, na continuidade com pesquisas suas sobre imigração, analisa a possível influência das telenovelas e da imigração no olhar dos portugueses sobre as imigrantes brasileiras, interrogando-se sobre se existe uma inter-relação entre as imagens e as representações sensuais e sexualizadas veiculadas pelas telenovelas e os (subtis) fenómenos de discriminação da mulher brasileira em Portugal. O trabalho desenvolve-se em duas vertentes: por um lado, a autora recorda algumas das telenovelas transmitidas pelos canais portugueses, desde Gabriela, Cravo e Canela e procede ao levantamento dos grandes temas Família, Mulher e Sexualidade nas referências de imprensa. Por outro, procede à análise de conteúdo das imagens fortes da prostituição em jornais televisivos dos canais generalistas RTP, SIC e TVI.

O artigo de Nelson Traquina dá conta dos resultados finais da sua investigação sobre a cobertura jornalística do HIV/Sida em dois jornais portugueses, Diário de Notícias e Correio da Manhã. Nos 20 anos cobertos pelo estudo (1981-2000), o autor identifica semelhanças e diferenças entre um “jornal de referência” e um “jornal popular. Nas primeiras, destaca a atenção aos mesmos valores-notícia neste campo, nomeadamente a proximidade, a infracção, o factor tempo, a morte, a notoriedade do actor do acontecimento. Nas diferenças, salienta que enquanto o Diário de Notícias privilegiou a “história” biomédica e deu alguma atenção a géneros jornalísticos como a reportagem, o Correio da Manhã destacou a “história” da epidemia e as notícias sobre sexo e celebridades.

Com o título A fabricação televisiva dos monstros do Mediterrâneo, o ensaio de Daniel Dayan, investigador do CNRS e do Instituto de Estudos Políticos de Paris, reflecte a partir das imagens televisivas do conflito do Médio Oriente transmitidas por vários canais de televisão, em França. Na sua leitura, essas imagens põem em evidência estilos de argumentação, estratégias retóricas e escolhas ideológicas que escapam a estudos quantitativos mas que não podem ser entendidas dissociadas dos imaginários de mundialização que destaca (da liberdade, da equidade, da pureza). O autor questiona ainda dois mitos sobre televisão: televisão é imagem; imagem é informação e chama a atenção para a evolução dos muitos dos grandes telejornais para o reino do fait-divers.

Com a entrevista de Cláudia Álvares a Mica Nava, investigadora britânica dos Cultural Studies que tem pesquisado o feminismo e o consumo modernos, retoma-se de certo modo o tema central deste número da revista. Mica Nava dá conta da sua pesquisa sobre o (silenciado) papel económico, social e cultural das mulheres na modernidade, papel que a investigadora britânica explora, associando-o a novas práticas de consumo em espaços urbanos, como o que aconteceu nos emergentes “grandes armazéns de Londres e Paris, no princípio do século passado. A entrevista percorre outras dimensões do conceito de identidade cultural, reflectindo sobre o racismo, o cosmopolitismo, a miscigenação e apresenta reflexões de Nava sobre as marcas pessoais do investigador e das suas próprias influências na pesquisa realizada.

Nas recensões, a atenção a obras recentemente editadas recai em estudos sobre a mais recente campanha presidencial brasileira e o desempenho da televisão, realizados por investigadores latino-americanos, na extensa e profunda revisão de estudos sobre o jornalismo a partir de várias perspectivas científicas, de Barbie Zelizer. A fechar, e de certa forma retomando o tema do artigo de Isabel Ferin neste número, dá-se conta da investigação de Jorge Paixão da Costa sobre os contextos de produção da telenovela no Brasil e em Portugal.

Artigos

Representadas e Representantes: as mulheres e os Media
Maria João Silveirinha

Janice Winship, Cartazes de Mulheres. Publicidade, controvérsia e disputa do feminismo nos anos noventa

Isabel Ferin, Da telenovela à prostituição

Nelson Traquina, A Sida como notícia: Análise de Caso sobre a cobertura jornalística da problemática VIH/SIDA nos jornais Diário de Notícias e o Correio da Manhã

Daniel Dayan, A fabricação televisiva dos Monstros do Mediterrâneo

Percursos

Entrevista de Cláudia Álvares, Consumos, Cosmopolitismo e Cultura Quotidiana no olhar de Mica Nava

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