Mercado de Media em Portugal no Período Marcelista, de Susana Cavaco, Prémio FCG

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Mercado de Media em Portugal no Período Marcelista, de Susana Cavaco, Prémio FCG2012-11-12T00:00:00+00:00

O livro recentemente publicado pela Colibri, da nossa colega Susana Cavaco, professora de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, e investigadora do CIMJ, intitulado “Mercado media em Portugal no período marcelista – Os media no cruzamento de interesses políticos e negócios privados”, acaba de ser distinguido com o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História Moderna e Contemporânea de Portugal – Prémios da Academia Portuguesa de História.

Trata-se, com efeito, de uma excelente obra sobre o período em questão, abordando a trajectória inicial de Marcello, as relações com a imprensa, as eleições de 1969, as questões de regulação, públicos e mercados e, por fim, as encruzilhas do mercado de imprensa entre o poder político e o poder económico. Este trabalho começa, por assim dizer, com um desafio que ainda hoje nos questiona e que foi lançado em 1971 por Francisco Pinto Balsemão: Que pensar hoje da chamada “censura económica” no sistema de media? Miller Guerra dizia, então (final dos anos 60) que havia um duplo sistema de censura – a censura prévia e o sistema económico. Hoje, é certo e sabido que a censura prévia já lá vai, mas a dita “censura privada”, invocada por Miller Guerra?

No quadro das hipóteses da obra,  é confirmado que o  movimento de concentração de imprensa durante o marcelismo nem sempre se submeteu ao controlo de Caetano (caso do grupo Quina). Além disso, desaparecem o Diário da Manhã e A Voz (1971) para dar lugar à Época e emergiu o Expresso (1973). Este sim (para além do DL, do República, e de alguma Rádio – do Página Um (de José Manuel  Nunes) da RR, do Zip-Zip da RTP, etc.) um forte anúncio de necessidade de abertura que escapava claramente ao regime.

Refere que Caetano pautou a sua actividade na procura de uma boa imprensa  e de distanciamento face aos grupos de pressão económica “plutocráticos e latifundiários”, distanciamento ainda face ao tráfico de influência (de tendência contrária, por suposto). A estratégia de comunicação seguida enquadra-se em geral nesse pressuposto, muito embora no sector de imprensa tal não se tenha verificado a contento, dir-se-ia.  A marcha da história é inexorável e em 1968, quando Marcello Caetano ascende ao poder, 20% dos jornalistas já tinham formação académica, o que fazia uma diferença significativa no novo contexto, pós-lutas académicas dos anos 60.

Escreve a pp. 573, que “perante o dilema: abertura política (“melhor imagem”) mas sem controlo da informação ou retrocesso na abertura política (“má imagem”) mas controlo mais eficaz da informação, Caetano optou por sacrificar a evolução política do regime e a imagem que pretendeu dar no início do seu primeiro mandato.” (p. 573). A “imagem” de Caetano nos anos 70 seria fundamentalmente aquela que era dada pela televisão, que era absolutamente idólatra e propagandística, a tal ponto que chegou a ser motivo de críticas regulares na própria entourage de Caetano (vejam-se as cartas – citadas no livro – de Jorge Rodrigues a Marcello).

Fica finalmente a ideia de que uma má opção sobre a política africana é central neste tema, o facto da ditadura portuguesa nada ter aprendido no início dos anos 60 com a independência generalizada das colónias africanas dependentes de nações europeias, essa falta de visão política, acabou por estar na origem de vários anacronismos que protelaram a entrada de Portugal no contexto das nações democráticas europeias. Um livro a reter, no quadro da bibliografia portuguesa de história dos media. (FRC)