AGOSTINHO DA SILVA

(13/06/1906 – 03/04/1994)


Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

1927- GERAÇÃO DE PRESENÇA

País

Portugal

Data e local de nascimento

Porto, 13 de Junho de 1903

Formação e acção

Agostinho da Silva nasceu no Porto em 1906, mas viveu até aos seus 6 anos em Figueira Castelo Rodrigo (Barca d’ Alva), regressando depois ao Porto, onde estudou na Escola Primária de São Nicolau. Realizou os seus estudos secundários no Liceu Rodrigues de Freitas entre 1916 e 1924.  Formou-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Em 1931, defende a sua dissertação de doutoramento a que dá o nome de “O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas”. Após o encerramento da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, frequenta em Lisboa a Escola Normal Superior com o objectivo de obter o grau de professor de liceu.

Em 1931 ganha uma bolsa e vai estudar História e Literatura para a Sorbonne em Paris e para o Collège de France. Regressa em 1933, e inicia a sua actividade docente no ensino secundário em Aveiro até cerca de 1935, altura em que é demitido por se recusar a assinar a Lei Cabral (uma lei do antigo regime que obrigava todos os funcionários públicos a declararem que não participavam em organizações secretas). Ganha uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e vai estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid. Em 1936 regressa a Portugal. Em Lisboa retoma o ensino mas no privado. A partir de 37 inicia com Fernando Rau um projecto pedagógico e educativo, cuja promoção o Estado Novo encara como uma afronta e a leva à prisão no Aljube e a uma posterior medida de coacção de residência fixa, que cumpre na sua casa da Praia da Rocha no Algarve.

Em 1944 parte com a sua família para o Brasil em exílio. Aqui face à pluralidade multicultural que encontra adapta e desenvolve o seu modelo educativo. Neste país passará grande parte da sua vida, acabando por se dedicar à investigação de temas bastante díspares como a Biologia, a Zoologia, História, Geografia, Física, Literatura, Filologia, Filosofia, etc. Colabora com outros portugueses exilados que se encontravam no Brasil, como foi o caso de Jaime Cortesão. No Rio de Janeiro, em São Paulo, Paraíba, Bahia, Santa Catarina, Brasília, e outras cidades brasileiras desenvolve um amplo e sólido trabalho académico e cultural.

Viajou um pouco por todo o mundo, foi ao Japão, a Macau, a Timor, onde equiparado a bolseiro da Unesco ensinou Português. Voltou ao Brasil onde fundou a escola Casa Paulo Dias Adorno, e em 1969 regressa a Portugal.

Sobretudo a partir do 25 de Abril será plenamente reconhecido no seu país onde acaba por morrer aos 88 anos.

Actividade desenvolvida

A sua actividade foi multifacetada: de professor a pedagogo e filósofo, de ensaista a poeta, etc. A sua atitude desprendida, humilde e humana caracteriza essencialmente o seu carácter. Agostinho da Silva, dedicou-se globalmente e de forma ímpar à cultura portuguesa na sua acepção lusófona.

Como autor ensaísta, já nos seus tempos de estudante universitário publica diversos artigos, na Revista Águia, Seara Nova, Porto Académico, etc. Em 1929 publica a sua tese de Doutoramento e a obra Breve Ensaio sobre Pérsio. Mais tarde na Seara Nova dedicar-se-á ao Projecto das Biografias pedagógicas e com a colaboração de António Sérgio às Tertúlias. Ao longo da sua vida pública inúmeras obras e artigos sobre pedagogia, literatura portuguesa, lusofonia, etc.

Como pedagogo irá fundar o Núcleo Pedagógico Antero de Quental em 1939. Com Fernando Rau irá desenvolver um programa educativo e cultural ao nível nacional, inviabilizado pelo Antigo Regime que, como medida de coacção o conduz ao termo de morada fixa que cumprirá no Algarve onde publicará diversos Ensaios Filosóficos.

Em 1944 parte para o Brasil onde desenvolve a sua vocação lusófona e universalista: da pedagogia, à filosofia, à botânica e zoologia, Agostinho da Silva irá explorar diferentes áreas do saber, em diversos Estados e cidades e sempre que possível estabelecendo contacto com outros exilados portugueses.

Em Santa Catarina foi, para além de professor, Director da Cultura do Estado, colaborou na Direcção-geral do Ensino Superior. Aqui também redigiu diversas obras sobre Literatura Portuguesa.

Em 1959 na Universidade Federal da Baía funda o Centro de Estudos Afro Orientais.

Em 1962 institui um Centro de Estudos Portugueses na Universidade de Brasília, a qual ajudou a fundar.

Redigiu muitas obras, viajou pelo mundo quase todo e no fim da sua vida em Portugal atingiu uma ampla notoriedade que se ficou a dever em grande medida às Entrevistas televisivas promovidas pela RTP “Conversas Vadias”, gravadas em 1990 e através das quais conquistou facilmente o público com a sua simplicidade e exímia capacidade oratória.

Data e local de falecimento

03 de Abril, 1994, Lisboa.

Lema e linha filosófica

A maior preocupação de Agostinho da Silva foi a Pedagogia, a Educação e a Portugalidade, no sentido da cultura de língua portuguesa com vista aos países lusófonos e não apenas a Portugal.

Portador de uma filosofia de cariz universalista, foi um representante do Quinto Império, governado pelo Espírito Santo, numa perspectiva de fé em que o franciscanismo e o joaquimismo imperava, e que podemos caracterizar como um império do espírito, apto para servir.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Consciente das limitações do positivismo, Agostinho da Silva adopta na sua obra a tranquilidade da crença e da fé. A sua filosofia parte de uma reflexão assente na crença e não nas ciências exactas.

O seu sonho do Quinto Império, fundado na Lusofonia, coincide com um império de sentido, de doaçcão, com uma esperança num humano melhor desprovido de ambição e de sede do poder, num mundo sem segregação, sem divisões por classes. O seu sonho ultrapassa o anterior sonho de uma Europa  unida, o qual a seu ver teria sido deturpado pela ganância. O império com que sonha está centrado no ser e não no ter.

Agostinho da Silva é o principal representante do pensamento messiânico português que de certa maneira descende de grandes figuras como Luís de Camões, António Vieira ou Fernando Pessoa. A sua crença no Quinto Império remete para a ideia de um destino do povo lusófono, de todos os portugueses da comunidade de língua portuguesa. Para que tal destino se cumprisse seria necessário que o ser humano adoptasse um espírito de comunhão, de comunidade, de convergência no espaço e no tempo. “Tal cumpre-se, em primeiro lugar, pela libertação e realização pessoal, primeiro no individuo depois na comunidade. Uma liberdade criativa, possibilitada por um tipo de educação que promova o deslumbramento e a interrogação, a invenção e a imaginação criadora (cf. Considerações), por forma a atualizar, a cada momento, Deus no mundo (cf. Glossas).”[1]

Para Agostinho da Silva a criança simboliza a esperança redentora do humano, a nossa essência livre e desprendida, uma espécie de esperança num resgate interior, a qual denota certa influência do mito do bom selvagem. Como em Rousseau, o homem é, por natureza, um ser livre e dotado de bondade. Talvez por isso a pedagogia tivesse tido um papel tão importante na sua obra e na economia de sua vida, pois é esta que quando adequada, e desde que respeite a verdadeira identidade da criança, sem a tiranizar e modelar em função da óptica do adulto, permitirá à criança que se transforme num adulto eticamente equilibrado, que saiba manter viva a esperança da sua criança interior, como a verdadeira essência humana, livre, desprendida e apta à realização pessoal.

Bibliografia activa

Sentido Histórico das Civilizações Clássicas  (dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto), 1929, pp. 49- 109, Breve Ensaio Sobre O Pérsio, pp. 17-44; A Religião Grega pp. 111-188 in Estudos Sobre Cultura Clássica, org. de Paulo A.E. Borges, Lisboa, Âncora, 2002.

Textos Pedagógicos, org. de Helena M. Briosa e Mota, Lisboa, Âncora, 2000          

Biografias, org. de Helena M. Briosa e Mota, Lisboa, Âncora, 2003

Considerações E Outros Textos, Lisboa, Assírio & Alvim, 1988, 1994.

Estudos E Obras Literárias, org. de Paulo A.E. Borges, Lisboa, Âncora, 2002

Herta. Teresinha. Joan., Lisboa, Portugália, 1953

As Aproximações, Lisboa, Guimarães Ed., 1960; Lisboa, Relógio d’Água, 1990;

Carta Vária, Lisboa, Relógio d’Água, 1988/ 1990 (3ª).

Dispersos, introd. de Fernando Cristóvão, apres. e org. de Paulo A. E. Borges, Lisboa, ICALP, 1988/ 1989 (2ª ed. revista e aumentada).

Uns Poemas De Agostinho, Lisboa, Ulmeiro, 1989/ 1997 (4ª).

Quadras Inéditas, Lisboa, Ulmeiro, 1990/ 1997 (2ª).

Do Agostinho em Torno do Pessoa, Lisboa, Ulmeiro, 1990/ 1997 (2ª).

Vida Conversável, org. e pref. de Henryk Siewierski, Brasília, Núcleo de Estudos Portugueses, CEAM/ UNB, 1994; Lisboa, Assírio & Alvim, 1994/ 1998 (2ª).

Conversas Com Agostinho Da Silva, entrevista de Victor Mendanha, Lisboa, Pergaminho, 1994/ 1998 (9ª).

A Última Conversa, entrevista de Luís Machado, pref. de Eduardo Lourenço, Lisboa, Notícias, 1995/ 2001 (8ª).

Reflexões, Aforismos e Paradoxos, Brasília, Thesaurus, 1999.

Ensaios Sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira, org. de Paulo A.E. Borges, Lisboa, Âncora/ Círculo de Leitores, 2000/ 2001, 2 vols.

Estudos Sobre Cultura Clássica, org. de Paulo A.E. Borges, Lisboa, Âncora/ Círculo de Leitores, 2002.

Estudos e Obras Literárias, org. de Paulo A.E. Borges, Lisboa, Âncora/ Círculo de Leitores, 2002.

Biografias, org. de Helena M. Briosa e Mota, Lisboa, Âncora/ Círculo de Leitores, 2003, 3 vols.

Textos Vários/ Dispersos, org. de Paulo A.E. Borges, Lisboa, Âncora/ Círculo de Leitores, 2003.

Agostinho Da Silva: Uma Antologia, org. e apres. de Paulo Borges, Lisboa, Âncora, 2006.

Agostinho Da Silva: Ele Próprio  (transcrição de uma gravação realizada por António Escudeiro), Lisboa, Zéfiro, 2006.

Viva a República! Viva o Rei! Cartas Inéditas De Agostinho Da Silva, org. de Teresa Sabugosa, pref. de Paulo Borges, anexo de Artur Manso, Lisboa, Zéfiro, 2006.

Caderno de Lembranças, fixação do texto, transcrição, introdução e notas por Amon Pinho Davi e Romana Valente Pinho, Lisboa, Zéfiro, 2006.

Citações e Pensamentos de Agostinho da Silva, org. de Paulo Neves da Silva, Lisboa, Sílabo, 2009.

Bibliografia passiva

BORGES, Paulo, Tempos de ser Deus: a espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, Lisboa, Âncora, 2006

—, Uma Visão armilar do mundo, Lisboa: Verbo, 2010

BRANCO, João Maria de Freitas, Agostinho da Silva: um perfil filosófico, Lisboa, Zéfiro, 2006

CASTRO, Maria Teresa R.N., Agostinho da Silva: naturalidade e transcendência no acesso a Deus  (TM-UM), Guimarães, Editora Cidade Berço, 2005.

EPIFÂNIO, Renato, Visões de Agostinho da Silva, Lisboa, Zéfiro, 2006

—, Perspectivas sobre Agostinho da Silva, Lisboa, Zéfiro, 2008.

GOMES, Pinharanda, Agostinho da Silva: História e Profecia, Lisboa, Zéfiro, 2009.

LOPES, Amélia dos Santos,  A dimensão pedagógica e cultural de Agostinho da Silva, Profedições, 2006

MANSO; Artur, Agostinho da Silva: aspectos da sua vida, obra e pensamento  (TM-UM, 1998), Gaia, Estratégias Criativas, 2000-

—, Agostinho da Silva 1906-1994, Gaia, Estratégias Criativas, 2004

PINHO, Romana Valente, O Essencial sobre Agostinho da Silva, Lisboa, IN-CM, 2006.

REAL, Miguel, Agostinho da Silva e a Cultura Portuguesa, Porto, Quidnovi, 2007.

  1. AA., Tradição e Inovação: sua unidade em Agostinho da Silva, Porto, CADA, 1996- 1999

—, Agostinho da Silva, São Paulo, Green Forest do Brasil Editora, 2000

—, Agostinho da Silva, um pensamento a descobrir, Torres Vedras, Cooperativa de Comunicação e Cultura/ Associação Agostinho da Silva, 2004

, Agostinho da Silva e o pensamento luso-brasileiro, org. de Renato Epifânio, Lisboa: Âncora Ed. / Associação Agostinho da Silva, 2006

—, Agostinho da Silva, pensador do mundo a haver, Actas do Congresso Internacional do Centenário, pref. de Paulo Borges, org. e introd. de Renato Epifânio, Lisboa, Zéfiro, 2007.

—, Agostinho da Silva e o Espírito Universal, Sesimbra, CMS, 2007.

Presença de Agostinho da Silva no Brasil, org. de Amândio Silva e Pedro Ago­stinho da Silva, Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa/ Ministério da Cultura, 2007

—, Agostinho e Vieira, mestres de sujeitos, Lisboa, Profedições, 2006

 

[1] Luís Loia, Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa, Lisboa: Círculo de Leitores, 2016, p. 500