ANTÓNIO SARDINHA

(09/09/1887 – 10/01/1925)

Autoria: Cecília Barreira

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1915

País

Portugal

Data e local de nascimento

Monforte, 9 de Setembro de 1887

Formação e acção

António Sardinha frequentou Direito na Universidade de Coimbra, entre 1906 e 1911. Publicou os seus versos ainda muito novo, com apenas 15 anos.

Actividade desenvolvida

Em 1914 funda a Revista A Nação Portuguesa que viria a dar origem ao Integralismo Lusitano.

Chegou a ser deputado no tempo de Sidónio Pais, em 1918.

Tendo participado no movimento Monarquia do Norte, é obrigado a exilar-se, durante um pouco mais de dois anos em Madrid.

Retornando do exílio, em 1921, fica como director do jornal A Monarquia.

Data e local de falecimento

10 de Janeiro de 1925, Elvas

Lema e linha filosófica

Integralismo Lusitano, Hispanismo e Latinidade

Linha filosófica e caracterização geral da obra

O teórico António Sardinha foi aprofundado em grande parte por Ana Isabel Sardinha Desvignes que desde 2006 tem dado a público teses e correspondência deste grande nome.

Recuando à juventude do então poeta António Sardinha, ainda antes da declaração da República, começou por distinguir-se no republicanismo radical.

Tal como nos indica o historiador Fernando Martins, o teórico chegou a dar-se com Teófilo Braga, que, curiosamente vetou a possibilidade de ele ser professor na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1914, ao fazer parte de um juri. O poeta e teórico publicou a tese com o nome O Valor da Raça.

Nas conferências da Liga Naval, é com esse mesmo título que consta no programa de monárquicos integralistas e tradicionalistas. Aliás, logo após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, basta lermos a poesia do autor, para percepcionarmos o quão longe estava do ideário republicano.

O nome de António Sardinha é indissociável do movimento do Integralismo Lusitano que evolui em Portugal desde 1914 a 1926: a revista Nação Portuguesa pontua, desde 1914, a actividade política e filosófica do movimento.

Influenciado por Maurice Barrès e por outros nacionalistas franceses, o Integralismo é a base de um nacionalismo pan-expansionista.

Aquando do consulado de Sidónio Pais, enquanto presidente da república, Sardinha e mais alguns monárquicos chegaram a deputados da nação e fundaram o diário A Monarquia. Ainda Sidónio Pais não tinha sido alvejado mortalmente já Sardinha se lhe opunha. O que é um facto, é que ao integrar o fracassado movimento Monarquia do Norte, é exilado, por ordem governamental, em Madrid (1919). Cumprida a pena regressou a Portugal em 1921 para dirigir o já referido jornal A Monarquia.

A estadia em Madrid deu muitos frutos ao ir beber de ideias de “utopia hispânica”, num  caldo de pensamento nacionalista que culminaria em 1922 com Primo de Rivera e, mais tarde, com Franco.

A última publicação de Sardinha, que só viveu 37 anos, foi o livro Aliança Peninsular (1924), cuja utopia deu azo a dezenas e dezenas de estudos académicos.

A América Latina, o Brasil e o Norte de África cobririam os limites territoriais de um “império” verdadeiramente “latino”. Para o ideólogo, sobretudo nas questões da “Raça” e do “Império”, teria de se medir índices cefálicos, pormenores biológicos e etnológicos para percepcionar o “Génio Peninsular”. Aliás, desde o século XIX que se problematizam as questões etnológicas de raças perfeitas com vista à genialidade.

O “supernacionalismo” de Sardinha teria dado muito jeito ao jovem professor e ideólogo de Coimbra, António Oliveira Salazar (nas vertentes  tradição,  nacionalismo e império).

O estudioso George Manuel Gomes referencia a dimensão sul-americana de António Sardinha, no que é apoiado teoricamente pela já citada Ana Isabel Sardinha Desvignes.

Uma outra vertente emerge, mais ou menos em 1923, com a revista Nação Portuguesa a dar a temática, sobre o Brasil. Gilberto Freire (1900-1987), com o seu luso-tropicalismo, corresponde-se com o português António Sardinha, exibindo uma ironia sobre Portugal e os portugueses. O nosso autor apercebeu-se da situação. Outro pensador brasileiro que se correspondeu com o teórico português foi Jackson de Figueiredo (1891-1928), o qual nunca acreditou numa aliança hispano-sul americana (1924).

Outros grandes nomes do pensamento nacionalista brasileiro que se cruzaram, na correspondência, com o português foram Ronald de Carvalho (1893-1935), Elísio de Carvalho (1880-1925), Oliveira Lima (1867-1928), etc.

Outra das questões muito abordadas por António Sardinha foi a tese de um “colonialismo ibérico”, muito benévolo por comparação a todos os outros colonialismos.

A Revolução Francesa é particularmente odiada e rejeitada, juntamente com tudo o que fosse parlamentarismo.

A obra A Aliança Peninsular, foi alvo de muitas reflexões por parte de integralistas que deram continuidade às ideias do líder. Ramiro de Maeztu (1874-1936), grande figura do pensamento de direita espanhol, reconheceu a importância da obra de Sardinha.

Como nos referencia George Manuel Gomes, o futuro poder do General Franco muito deve a este pensamento antiparlamentar na Península Ibérica.

Bibliografia activa

Tronco Reverdecido, sem editora atribuída, 1910

Epopeia da Planície: poemas da terra e do sangue? F. França Amado, Editor, 1915

Quando as Nascentes Despertam , ?, 1821

Na Corte da Saudade : Sonetos de Toledo, Coimbra: Lumen, 1922

Chuva da Tarde: sonetos de amor , SARDINHA, António; VASCONCELOS, Carolina M., VASCONCELOS, Joaquim, Lisboa: Lumen, 1923

Era uma Vez um Menino…elegias, Lisboa: A. J. Tavares, 1926

O Valor da Raça: introdução a uma campanha nacional, Almeida, Miranda & Sousa Edit., 1915

O Território e a Raça, Lisboa: Tipografia do Anuário Comercial, 1916

Ao Princípio Era o Verbo, Lisboa: Edições Gama, 1924

A Aliança Peninsular, Porto: Livraria Civilização Editora de Américo Fraga Lamares & Cª Limitada. 1924.

A Teoria das Cortes Gerais (1924);

Ao Ritmo da Ampulheta, Lisboa: Lumen, 1925

A Aliança Peninsular: Antecedentes & Posssibilidades, Porto: Civilização Editora, 1925.

Durante a Fogueira. Páginas de Guerra, Lisboa: Livraria Universal, 1927

O Roubo da Europa, sem editora atribuída, 1931.

A Prole do Comum…doutrina e história, Lisboa: Férin, 1934

À Lareira de Castela, Famalicão: Edições Minerva, 1943

Bibliografia passiva

BARREIRA, Cecília: Três Nótulas sobre o Integralismo Lusitano (evolução, descontinuidade, ideologia, nas páginas da “Nação Portuguesa”, 1914-1926), Lisboa: «Análise Social», p. 1421-1429, 1982

BARROS, João de: A Aproximação luso-brasileira e a paz, Paris-Lisboa: Aillaud-Bertrand, 1919

CABRITA, Maria da Conceição Vaz Serra Pontes: A “questão ibérica” em António Sardinha, Cáceres: Crisis y Ruptura Peninsular, p. 229-240, 2014

CARVALHO, Paulo Archer de: Integralismo Lusitano: Reacção, Recristianização, Retorno, Locus. Revista de História, p. 27, 2012

CASTELO, Cláudia: O Modo português de estar no mundo. O luso-tropicalismo e a ideologia colonial portuguesa (1933-1961), Porto: Afrontamento, 1998

CASTELO, Cláudia: Leituras da correspondência de portugueses para Gilberto Freyre, Porto: “As Ciências Sociais nos Espaços de Língua Portuguesa: Balanços e Desafios”, p. 422-444, 2002

CUEVAS, Carlos Gonzalez: El Integralismo Lusitano: Su Recepcion en España, «Proserpina», p. 79-110, 1995-1996

DESVIGNES, Ana Isabel Sardinha: António Sardinha (1887-1925), Um Intelectual no Século, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2006

DESVIGNES, Ana Isabel Sardinha: “Hispanismo e relações luso-brasileiras: a última cruzada contrarrevolucionária de António Sardinha”, Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, p. 75-104, 2016

DESVIGNES, Ana Isabel Sardinha: A correspondência de António Sardinha, Lisboa: Universidade Católica, 2008

GOMES, George Manuel: «A construção do “hispanismo” na obra política de António Sardinha (1915-1925)», Ler História, Lisboa, p. 109-127, 2015

GOMES, George: António Sardinha. Du séparative hostile à l’Aliança Peninsular (1915-1924), Paris: École Pratique d’Hautes Études, 2011

GOMEZ, Hipólito de la Torre: Do “perigo espanhol” à amizade peninsular: Portugal-Espanha (1919-1930), Lisboa: Estampa, 1985

LEAL, Ernesto Castro: A Ideia de Confederação luso-brasileira nas primeiras décadas do século XX, «Ibérica», p. 5-20, 2010

LEAL, Ernesto Castro: Nação e Nacionalismos. A cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira e as Origens do Estado Novo, 1918-1938, Lisboa: Cosmos, 1999

LEAL, Ernesto Castro: Nacionalismo e Antiliberalismo em Portugal. Uma visão histórico-política (1820-1940), Espanha, 2015

MAEZTU, Ramiro de: António Sardinha, La Alianza Peninsular-Antecedentes y Posibilidades, Madrid: Junta de Propaganda Patriótica y Ciudadana, p. LXVI, 1930

MARTINS, Fernando (recensão crítica): Ana Isabel Sardinha Desvignes: António Sardinha (1887-1925), Um Intelectual no Século, Lisboa: «Análise Social», p. 213-217, 2009

PEREIRA, Pedro Teotónio: António Sardinha e o Iberismo, Acusação Contestada, Lisboa: Biblioteca do Pensamento Político, p. 27-28, 1974

PINTO, António Costa: Os Camisas Azuis. Ideologia, elites e movimentos fascistas em Portugal, 1914-1945. Lisboa: Estampa, 1994

RELVAS, Susana Rocha: António Sardinha e suas relações culturais com Espanha e América Latina, Lisboa: tese de mestrado apresentada à FCSH da Universidade Nova de Lisboa, 1998