CAROLINA MICHAËLIS

(15/03/1851 – 22/11/1925)

Autoria: Cecília Barreira; Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE ULTIMATUM INGLÊS

1890

País

Portugal

Data e local de nascimento

Berlin, 15 de março de 1851

Formação e acção

Carolina Michaëlis, nascida a 15 de Março de 1851, em Berlim, era filha de professores. Com apenas 11 anos a sua mãe faleceu. Respirava-se um ambiente intelectual na família, visto que Gustav Michaëlis, seu pai, era professor universitário. Dos sete aos dezasseis anos, Carolina frequentou um colégio feminino em Berlim. Foi autodidata, porque os cursos universitários estavam interditos às mulheres. Estudou línguas e literaturas românicas, linguística, filologia e outras disciplinas. Aos dezasseis anos publicava trabalhos sobre língua e literatura italiana e espanhola.

Actividade desenvolvida

Entre 1873 e 1875 colaborou na Bibliografia Crítica de História e Literatura, editada no Porto, por três directores: Teófilo Braga, Francisco Adolfo Coelho e Joaquim de Vasconcelos. Este último inicia com ela uma correspondência em língua alemã, que desemboca em casamento. O enlace desenrola-se a 27 de Março de 1876 em Berlim, percorrendo o casal, em viagem de núpcias, a Alemanha, a França, Espanha, fixando-se no Porto. Os anos que Carolina tem residência no Porto (1876-1912), são os mais produtivos do ponto de vista académico. Desenvolve temas linguísticos e literários dos períodos medievais e renascentista da Cultura Portuguesa. Realiza edições críticas das Poesias de Sá de Miranda (1885); do Cancioneiro da Ajuda (1904); os Estudos sobre o Romanceiro Peninsular, Romances Velhos em Portugal (1907-1909); a monografia A Infanta D. Maria de Portugal (1521-1577) e as suas Damas (1902); e, finalmente, valiosos trabalhos sobre Luís de Camões. Em 1893 recebeu o grau de doutor honoris causa da Universidade de Freeburg; também da Universidade de Hamburg (1923) e da Universidade de Coimbra (1916). Apresenta vasta correspondência científica com estudiosos nacionais e estrangeiros. Wilhelm Storck, grande estudioso camoniano e Hugo Schuchardt, especialista literário e linguístico, muito ajudaram nas investigações de Carolina. Conviveu com eruditos e escritores portugueses: Antero de Quental, Teófilo Braga, Leite de Vasconcelos, António Sérgio, Jaime Cortesão, Eugénio de Castro, entre outros. Carolina inseriu-se nos meios cultos da cidade do Porto e defendeu activamente actividades pedagógicas inovadoras, dedicando-se a divulgar como se poderia introduzir as primeiras letras às crianças. Já durante a I República, em 1911, torna-se professora ordinária da Faculdade de Letras de Lisboa. Foi a primeira mulher a ter o estatuto de professora universitária na Universidade de Coimbra, a partir de 1912, leccionando Filologia Portuguesa e Filologia Românica. Em 1912 torna-se sócia da Academia das Ciências de Lisboa.

Dirigiu, na sua fase inicial a revista Lusitânia (1924) Até morrer, foi professora na Universidade de Coimbra, na área da Filologia Românica.

Data e local de falecimento

18 de Novembro de 1925, Porto

Lema e linha filosófica

Carolina Michaelis trabalhou a fundo as obras dos clássicos portugueses e até se espraiou pelos estudos de etnografia. Filóloga reconhecida era uma apaixonada da Literatura e Língua portuguesas. Era uma académica que foi eleita para a Academia das Ciências. Representou como uma pioneira o papel das mulheres no seio da intelectualidade, ainda assim era muito moralista e, em relação ao papel das mulheres na sociedade, só concebia uma mulher casada e obediente ao marido

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Carolina foi uma professora com fortes preocupações pedagógicas, que ficaram bem patentes nos seus esforços a favor da instrução das mulheres e em prol da criança. Foi sempre de uma enorme dedicação aos alunos e fazia, várias vezes por semana, a viagem do Porto para Coimbra e regresso, durante as quais aproveitava para preparar as aulas.

Apesar de haver um estudo em língua alemã que refere Carolina Michaëlis a respeito do feminismo na grande Península Ibérica (1901), não cremos que se lhe possa atribuir esse mérito já que o seu discurso é marcado por uma cultura patriarcal, onde a mulher, sempre na subalternidade, deve ser dedicada sobretudo ao marido e à família. O seu contributo nessa linha poderá estar relacionado com o artigo que publica sobre a educação feminina em Portugal, e um outro sobre essa mesma condição em Espanha.

Ao longo da sua vida Carolina produziu uma obra gigantesca, sobretudo como filóloga à escala internacional. Conseguiu, numa época muito avessa à intelectualidade no feminino, trabalhar, escrever, leccionar e ainda fazer o quase impossível, conjugar sabiamente com as exigências afectivas e familiares.

Destacamos também como, em todas as áreas da sua acção, como docente, como linguista, como investigadora, Carolina tentou sempre aproximar a cultura germânica da cultura portuguesa, agindo como mediadora entre ambas.

Bibliografia activa

– Poesias de Sá de Miranda, 1885
– História da Literatura Portuguesa, 1897
– A Infanta D. Maria de Portugal e as suas Damas (1521-1577), 1902
– Cancioneiro da Ajuda (2 volumes), 1904
– Dicionário Etimológico das Línguas Hispânicas
– Estudos sobre o Romanceiro Peninsular: Romances Velhos em Portugal
– As Cem Melhores Poesias Líricas da Língua Portuguesa, 1914
– A Saudade Portuguesa, 1914
– Notas Vicentinas: Preliminares de uma Edição Crítica das Obras de Gil Vicente, 1920-1922
– Autos Portugueses de Gil Vicente y dela Escuela Vicentina, 1922
– Mil Provérbios Portugueses

Bibliografia passiva

CAMINHA, Pedro de Andrade, Subsídios Para O Estudo Da Sua Vida E Obra / Carolina Michaëlis de Vasconcelos; [Ed. Lit.] Adrien Roig, Olívio Caeiro,

CORREIA, Maria Assunção Pinto, O Essencial sobre Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Lisboa, IN-CM, 1986

DELILE, Maria Manuela Gouveia, A vida e a obra de Carolina Michaëlis de Vasconcelos: evocação e homenagem: exposição bibliográfica e documental, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra / Coimbra University Press, 2009

DELILE, Maria Manuela Gouveia, Carolina Michaelis de Vasconcelos 1851-1925: Uma Alemã, Mulher e Erudita, Em Portugal, Coimbra, s. n. , 1985

MÜHLSCHLEGEL, Ulrike, Dona Carolina Michaëlis e os estudos de filologia portuguesa, TFM, 2004

VASCONCELLOS, José Leite, Carolina Michaëlis: Lista de seus trabalhos litterarios acompanhada de um preâmbulo e de um apêndice, Imprensa Nacional, 1912