JAIME CORTESÃO

(29/04/1884 – 14/08/1960)

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1912 – “Renascença Portuguesa”

País

Portugal

Data e local de nascimento

Ançã/ Cantanhede, 29 de Abril de 1884

Formação e acção

Jaime Cortesão, destacou-se pela investigação e produção literária em torno do pensamento político e da cultura histórica do seu tempo. Foi também médico, poeta, intelectual e político. O seu percurso académico, longo e um pouco errático, revela bem o seu espírito eclético onde convergem múltiplos interesses. Em Coimbra estudou Grego e Direito, seguindo depois para Medicina, curso que concluiu em 1910, com uma tese intitulada “A Arte da Medicina. Antero de Quental e Sousa Martins”. Foi professor no Porto de 1911 a 1915. Tendo sido eleito deputado em 1915, defendeu a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial onde colaborou como capitão-médico voluntário, experiência que o levará anos mais tarde a publicar essas memórias.

Actividade desenvolvida

Com Leonardo Coimbra e outros intelectuais, fundou em 1907 a revista anarquista Nova Silva. Começa a publicar a sua poesia em 1910. Nesse mesmo ano, com Teixeira de Pascoaes, colaborou na fundação da revista A Águia, e em 1912 dá início à Renascença Portuguesa, que publicava o boletim A Vida Portuguesa, onde desenvolverá a sua intensa actividade literária, poética e interventiva.

Em 1912 dá por concluída a sua carreira médica e muda-se para o Porto, onde se dedica ao ensino de História e Literatura. Em 1915 é eleito deputado. Foi deputado do Partido Democrático de Afonso Costa, do qual se viria a afastar em 1917. Defensor de um republicanismo democrático, lutou contra o Sinodismo e em 1919 contra as sublevações monárquicas.

Abandona a Renascença Portuguesa e em 1921 funda a revista Seara Nova, onde vai manifestando o seu ponto de vista crítico face à política vigente. Em 1919 foi nomeado  Director da Biblioteca Nacional, cargo que exerceu até 1927.

Numa linha ideológica próxima de Antero de Quental, é adepto de uma revolução intelectual e espiritual, que o conduz a uma participação cívica cada vez mais activa e revolucionária, chegando à tentativa de derrube da ditadura militar, acção pela qual foi demitido e o levou ao exílio em França e Espanha de onde saiu em 1940. Ao regressar a Portugal é preso, em Peniche e Aljube. Mais tarde vai para o Brasil onde permanece até 1957. Aí mantém a sua intervenção cívica e intelectual, lutando tanto contra o Estado Novo como contra a Ditadura Militar.

No Brasil residiu no Rio de Janeiro, deu continuidade à sua investigação histórica, colaborou com diversos periódicos, proferiu conferências e dedicou-se ao ensino universitário, especializando-se na história dos descobrimentos portugueses e na formação do Brasil.

Regressou definitivamente a Portugal em 1957, dando continuidade à sua luta pela Democracia, envolvendo-se com a campanha de Humberto Delgado, o que lhe valeu a prisão em 1958 juntamente com António Sérgio por quatro dias. Ainda em 1958 foi nomeado presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 1960 foi o primeiro signatário do Programa pela redemocratização da República em Portugal. Morre nesse mesmo ano, tendo a sua morte sido amplamente noticiada. No seu funeral laico foi coberto pela bandeira de Portugal e do Brasil e sepultado no cemitério dos Prazeres em Lisboa.

Data e local de falecimento

14 de Agosto de 1960, Lisboa

Lema e linha filosófica

O seu pensamento fica marcado essencialmente pelo envolvimento político, tendencialmente anarquista, republicano e democrático, pelo forte envolvimento pedagógico, cívico e contestatário, sob o lema de uma cidadania activa e interveniente.

A sua linha filosófica ficará associada à exaustiva produção poética, literária e crítica, e sobretudo pela sua dedicação à Investigação em História da Expansão portuguesa no mundo, onde através de uma dimensão tão material como espiritual, revela uma tendência universalista e conciliadora da teoria da História.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Jaime Cortesão destaca-se por uma reflexão crítica e interventiva e por uma produção literária eclética que acompanha conturbados momentos da agenda política portuguesa, da Primeira República ao Estado Novo.

A Morte da Águia (1910) foi o seu primeiro livro de poesia, precedido já por algumas intervenções poéticas em diversos periódicos como por exemplo a Nova Silva em 1907. A sua poesia pela sua componente romântica e heroica e espiritual pode facilmente inserir-se na corrente do Saudosismo Português, trazendo contudo a clara especificidade de uma tónica dinâmica e interventiva.

Fernando Pessoa, numa carta dirigida a Jaime Cortesão (1913)[1], apesar de criticar uma certa tendência para se deixar “embriagar de heroísmo”, inclui-o entre os grandes Homens da Renascença, destacando-o entre os novos poetas pela sua capacidade construtiva, cujo género apelida de «dinamismo heroico». É precisamente para a História que Pessoa lhe reconhecerá o seu máximo talento. É talvez por isso, que este impulso heroico já pressentido na obra poética se revela fortemente no seu Drama Histórico onde se destacam obras como: O Infante de Sagres (1916), Egas Moniz (1918) ou Adão e Eva (1921).

O seu pensamento é marcado por uma aguda consciência da decadência do tempo presente, que o conduz a uma atitude moralizadora e interventiva que materializa tanto na Renascença Portuguesa (1912) como na Seara Nova (1921). A sua aspiração a um ideal republicano e renovador que trouxesse de novo o esplendor da pátria, encontra na Águia o perfeito veículo de expressão. Será contudo na Seara Nova que Cortesão revelará o seu génio político e interventivo, alicerçado numa aguda consciência social, privilegiando a necessidade de reformar a educação, como forma de consciencializar para a própria elevação portuguesa, da qual os tempos dos descobrimentos davam forte testemunho, mensagem sobretudo veiculada através das Cartas à Mocidade, entre 1921 e 1940.

Da sua actividade como Historiador, onde se dedicou mais precisamente no tema da Expansão Portuguesa, destacam-se as obras dos anos 20: Expedição de Pedro Álvares Cabral e O Descobrimento do Brasil. Nas palavras de José Esteves Pereira[2], é a tendência para teorização da história que o faz convergir os aspectos materiais com os espirituais, num discurso marcado tanto pela dramaticidade como pelo constante rigor metodológico e hermeutico. A sua abordagem histórica revela ainda uma preocupação pedagógica e moral: aspecto que se pressente na vontade de aceder aos documentos da história à luz de uma grelha interpretativa atemporal onde confluem múltiplos factores. É assim que com uma visão universalista e dinâmica, Cortesão almeja a uma análise clara dos factos, alicerçada numa filosofia da vida.

O Jornal O Norte (1914- 15) que dirigiu, bem como A Cartilha do Povo (1916), expressam bem o pensamento político de Cortesão, próximo dos ideais anarquistas e republicanos mas sempre pautado por uma participação activa e social. A sua luta por uma revolução cultural e espiritual vai-se manifestando em artigos que publica na Seara Nova, chegando ao ponto de colaborar na tentativa de golpe de estado em 1927 que o levará a um exílio prolongado.

No Brasil onde reside até 1957, não descurando as suas preocupações políticas e a causa democrática, dedicar-se-á essencialmente à actividade pedagógica e à investigação histórica em torno de estudos que já nos anos 20 tinha iniciado. Aqui publica diversos livros e artigos em torno da História de Portugal, dos quais se destacam por exemplo: A História do Regime Republicano em Portugal (1929), a História de Portugal (1931-34) ou a História da Expansão Portuguesa no Mundo (1940). A sua investigação acerca do período histórico dos Descobrimentos à Expansão portuguesa será pautada por uma atitude que concilia o espírito heroico do seu anterior saudosismo com um espirito crítico e rigoroso de análise histórica.

Bibliografia activa

A obra Bibliografia de Jaime Cortesão, de Neves Águas (1962, 1985) faz um inventário completo e detalhado de toda a extensa obra publicada pelo autor, pelo que se sugere a consulta.

Obras Completas de Jaime Cortesão: Lisboa: Portugália Editora, 1964 (…)

Obras Completas de Jaime Cortesão, Lisboa: Livros Horizonte, 1975 – 1978

Jaime Cortesão- Obras Completas, Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1990- 2009

Bibliografia passiva

ÁGUAS, Neves, Bibliografia de Jaime Cortesão: Contribuição para um Inventário completo, Lisboa : Arcádia, 1962

—, Bibliografia de Jaime Cortesão, Lisboa: Biblioteca Nacional, 1985

BAPTISTA, Jacinto, Jaime Cortesão/Raul Proença: Idealistas no mundo real, Lisboa: Biblioteca Nacional, 1990

—“Jaime Cortesão, príncipe (republicano) da sonhada Renascença”, João Medina (dir.) História de Portugal dos tempos pré-históricos aos nossos dias, Vol. XI, Alfragide, 1993

GARCIA, José Manuel, O essencial sobre Jaime Cortesão, Lisboa, 1987

GODINHO, Vitorino Magalhães, “Presença de Jaime Cortesão na Historiografia Portuguesa”, Jaime Cortesão, Os Factores Democráticos na Formação de Portugal, Lisboa, 1964

LOPES, Óscar, Jaime Cortesão, Lisboa: s.d.1962

RODRIGUES, Urbano Tavares, Jaime Cortesão, Prosador, Lisboa: Faculdade de Letras, 1985

SANTOS, Alfredo Ribeiro dos, Jaime de Cortesão. Um dos grandes de Portugal. Porto: Fundação Eng. António de Almeida,1993

SARAIVA, Ricardo, Jaime Cortesão, Subsídios para a sua biografia, Lisboa, 1953

SILVA, António José da, Naturalismo e Religiosidade em Jaime Cortesão, Lisboa: 2000

SILVA, José Manuel Azevedo e, O Sagrado e o Profano no Pensamento Etnográfico de Jaime Cortesão, Coimbra: Faculdade de Letras, 1986

TRAVESSA, Elisa Neves, Jaime Cortesão. Política, História e Cidadania (1884- 1940) Porto: Asa, 2004

  1. AA. Cadernos das Revista de História Económica e Social, números 6-7: Cidadania e história em homenagem a Jaime Cortesão, Lisboa, 1985
  2. AA. Homenagem a Jaime Cortesão, separata da Revista Ocidente, Vol. LXI,1961

    VV.AA. Nova Renascença (nº de Homenagem a Cortesão), Vol. 5, nº 17, Porto, 1985

  3. AA. República, números de homenagem a Jaime Cortesão, na secção Republica das Letras, 11 e 18/ VI/ 1960
  4. AA. Revista da Biblioteca Nacional, série 2, vol.1, Lisboa, 1986
  5. AA. Seara Nova, número de homenagem a Jaime Cortesão, nº 1266-69, Lisboa, 1952

 

[1] Fernando Pessoa Carta a Jaime Cortesão – 22 Jan. 1913 http://arquivopessoa.net/textos/3111

[2] José Esteves Pereira. Percursos de História das Ideias, Lisboa, IN-CM, 2004, pp.383-394.