ÓSCAR ROMERO

(1917-1980)

Autora: Isabel Araújo Branco

Horizonte geracional:

Geração 1950 (Teologia da Libertação)

País:

El Salvador

Data e local de nascimento

Ciudad Barrios, 15 de Agosto de 1917

Formação e acção

Óscar Romero entrou no Seminário na cidade salvadorenha de San Miguel em 1930, passando para o Seminário de San José de la Montaña de São Salvador sete anos depois. Prosseguiu os estudos de Teologia na Pontifícia Universidad Gregoriana, em Roma (Itália) em 1937, sendo ordenado sacerdote em 1942. No ano seguinte tornou-se pároco em Anamorós, no seu país-natal, sendo mais tarde transferido para San Miguel, onde serviu na Catedral de Nossa Senhora da Paz. Em 1968 foi nomeado secretário da Conferência Episcopal de El Salvador e, dois anos depois, foi designado Bispo Auxiliar de São Salvador. Em 1974 tornou-se Bispo de Santiago de María e, em 1977, Arcebispo de São Salvador.

Actividade desenvolvida

Monsenhor Óscar Romero foi arcebispo metropolitano de São Salvador entre 1977 e 1980. Tornou-se popular pelas suas posições e apelos públicos contra a violência e em defesa dos direitos humanos. Como o Vaticano faz questão de afirmar, não foi um revolucionário.

Romero adoptou uma posição mais activa após o assassinato do seu amigo P. Rutilio Grande, juntamente com dois camponeses em Aguijares, onde tinham promovido a criação de comunidades cristãs de base e a organização de trabalhadores. Desde então, passou a defender activamente os camponeses, os operários e os sacerdotes que não estavam a favor do governo. Num sermão aos ricos de El Salvador dizia:

Sou simplesmente o pastor, o irmão, o amigo deste povo, um amigo que conhece o seu sofrimento, a sua fome, a sua angústia e, em nome dessas vozes, eu levanto a minha voz para dizer: não idolatrem as vossas riquezas, não as defendam de maneira a deixar morrer de fome os outros. Partilhem, para que vocês e todos os outros possam ser felizes.

Na sua última entrevista, à agência Efe, Óscar Romero afirmou que «o mal de tudo é a injustiça social. Quem não quer mudanças são os grandes malfeitores. A mim, podem matar-me. Mas que fique claro que a voz da Justiça já não pode ser calada por ninguém.»

«Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado» é uma das suas frases mais conhecidas. Outra é a seguinte: «O Evangelho impulsiona-me a fazê-lo e em seu nome estou disposto a ir para os tribunais, para a prisão e para a morte.»

A 23 de Março de 1980, Óscar Romero apelou ao governo e ao exército para que cessassem a violência contra a população de El Salvador, inclusive aconselhando os soldados a desobedecer às ordens dos seus superiores e a não matar. No dia seguinte, enquanto dava uma missa em São Salvador, em plena eucaristia, foi morto com um tiro no coração. Morreu imediatamente.

Como se lê na edição de 26 de Março de 1980 do jornal espanhol ABC, «um indivíduo armando com uma pistola com silenciador disparou contra ele um único tiro, acertando no coração. Enquanto o assassino iniciava a sua fuga em direcção à rua, alguém fez dois disparos para assustar as pessoas, que se lançaram ao chão. Os assassinos fugiram sem dificuldade.»
Nos primeiros dias acredita-se que os autores do assassinato são membros da extrema-direita, mas apenas em 1993 tal teoria é comprovada pela Comissão da Verdade, uma instituição prevista nos Acordos de Paz de Chapultepec e criada para investigar crimes cometidos durante a guerra civil. A comissão concluiu que Romero foi morto por um esquadrão da morte formado por civis e militares dirigidos Álvaro Saravia e Roberto d’Aubuisson. Este último foi fundador do partido ultra-conservador ARENA.

A consternação pela sua morte foi geral e chegaram mensagens de pesar por parte do secretário-geral das Nações Unidas, do Papa João Paulo II, da Amnistia Internacional, etc.

O funeral de Romero foi palco de mais violência. Milhares de pessoas concentraram-se na Plaza de la Libertad, em frente à Catedral de San Salvador, onde padres de vários países oficiavam a missa. Uma bomba explodiu e a multidão correu para se refugir dentro do edifício, em pânico. Morreram quarenta pessoas e duzentas ficaram feridas.

Em Outubro de 2018 Óscar Romero foi canonizado como santo pelo Papa Francisco, em Roma, concluindo um processo iniciado em 1994. Trata-se do primeiro salvadorenho considerado santo e do primeiro arcebispo mártir da América. Antes, já fazia parte do calendário litúrgico da Igreja Luterana. Também a Igreja Anglicana já o tinha incluído no seu santoral.

Data e local de falecimento

São Salvador, 24 de Março de 1980 (62 anos)

Lema e linha filosófica

«Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado.» Esta é uma das frases mais carismáticas de Monsenhor Óscar Romero e que condensa o seu pensamento em defesa dos direitos humanos e da dignidade da população em geral, atentando contra as posições e práticas do exército salvadorenho e dos grupos paramilitares, que acabam por o assassinar durante a celebração de uma missa na capela do Hospital Divina Providencia. Já então muito popular dentro e fora do país, Óscar Romero transforma-se num símbolo da Teologia da Libertação.

Um dia antes de ser morto, faz um apelo público: «Eu gostaria de apelar, de forma especial, aos homens do exército e, em concreto, às bases da Guarda Nacional, da polícia, dos quartéis. Irmãos são do nosso próprio povo. Matam os seus próprios irmãos camponeses. E, face a uma ordem de matar dada por um homem, deve prevalecer a lei de Deus que determina “Não matar”. Nenhum soldado é obrigado a obedecer a uma ordem contra a Lei de Deus. Ninguém tem de cumprir uma lei imoral. É tempo de recuperar a vossa consciência e obedecer antes à vossa consciência do que à ordem do pecado. A Igreja – defensora dos direitos de Deus, da Lei de Deus, da dignidade humana, da pessoa – não pode ficar calada perante tanta abominação. Queremos que o governo compreenda que de nada servem as reformas se estão tingidas com tanto sangue. Em nome de Deus e em nome deste sofrido povo, cujo lamento sobe ao céu cada dia mais tumultuoso, suplico-vos, rogo-vos, ordeno-vos em nome de Deus: que a repressão acabe.»

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Pela sua luta pela justiça e pelos direitos humanos, Monsenhor Óscar Romero integra-se na Teologia da Libertação. À semelhança de numerosos sacerdotes salvadorenhos (e de outros países da América Latina em geral e da América Central em particular), foi assassinado pelas suas convicções e pelo trabalho desenvolvido no seio desta corrente.
Poucos dias antes da tomada de posse de Romero como arcebispo, os sacerdotes Bernard Survill (de nacionalidade norte-americana) e Willibrord Denaux (de origem belga) foram presos e expulsos de El Salvador. O mesmo aconteceu passado pouco tempo com o espanhol Benigno Fernández e o nicaraguense Juan Ramón Vega Mantilla. Muitos outros foram mortos no decorrer da sua acção junto de camponeses e pelas suas posições em defesa dos direitos humanos.

Teologia da Libertação teve início na América Latina após o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín e foi lançada com o livro Historia, Política y Salvación de Una Teología de la Liberación, do sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez Merino, em 1973. Esta corrente procura compreender o significado das classes sociais e a sua relação com a pobreza, cruzando o marxismo e outras ideologias sociais com o cristianismo e assumindo Cristo como «libertador» da condição da pobreza material.

Para a Teologia da Libertação, apenas é possível alcançar a salvação cristã depois da libertação económica, política, social e ideológica e, para tal, é necessário acabar com a exploração, a ausência de oportunidades e as injustiças, desenvolvendo o sistema democrático, garantindo o acesso à educação e à saúde e transformando o regime político vigente. A pobreza e a ignorância atentam contra Deus, por isso é necessário tomar partido pelos pobres, ganhando consciência da luta de classes. Procura-se formar um «homem novo», no processo de transformação social, com pessoas solidárias e activas, longe da especulação e da mera busca pelo lucro do capitalismo.

O Vaticano e o Papa João Paulo II desautorizaram a Teologia da Libertação ao defender que, apesar do compromisso da Igreja com os pobres, não se deve aceitar postulados de origem marxista, considerando-os incompatíveis com a doutrina católica. Um dos aspectos que mais incomodava o Vaticano era a ideia de que a redenção apenas era possível de alcançar através do compromisso político.

Bibliografia activa

A Igreja Não Pode Calar-se. Escritos inéditos 1977-1980, Prior Velho, Paulinas Editora, 2015;

Homilías de evangelización. Ciclo C (1977), Madrid, BAC Biblioteca de Autores Cristianos, 2019;

Homilias y discursos (1977-1980), KKIEN Publ. Int., 2015;

La violencia del amor, Bilbao, Sal Terrae, 2002.

Bibliografia passiva

MATA, Santiago, Monseñor Óscar Romero, Madrid, Palabra, 2015;

MAIER, Martin, Óscar Romero: mistica y lucha por la justicia, Barcelona, Herder Editorial, 2010;

Página da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes sobre Óscar Romero in www.cervantesvirtual.com/portales/monsenor_romero/