Este é um projecto de experimentação em documentário expandido, onde, a partir de uma acumulação digital fragmentada se pretende criar novas composições audiovisuais e de sentido.
A proposta de um auto-retrato digital no seu plural, autoretratos, convoca o paradoxo entre traçar uma aparência própria e a impossibilidade da partilha de multitudes. Assim, um auto-retrato digital, performance solitária perante o reflexo no écran, procura recortar contornos recentes para esse teatro do eu, na relação íntima com o objecto total que é um computador pessoal.
Como uma entrevista de emprego, por ser um momento de interacção, de relação com um outro, onde todas as forças centrípetas e centrífugas da energia própria se activam, conflituando a eficácia com a verdade, a intimidade com a competição, a vulnerabilidade com o sucesso.
Uma ante câmara do sentido do precário, do latim percem, “dependente da prece de alguém”.
Porque precário é também o mundo do trabalho, de forma exterior e imposta, com regras que escapam à escala da pessoa, num jogo de poder sem poder de jogar. E uma entrevista de emprego é o primeiro momento que condensa essa precariedade, muitas vezes onde ela começa.
Este projecto procura potenciar as entrevistas de emprego de um outro mundo do trabalho, talvez utópico, talvez possível, que não sejam visões precárias, mas emancipadas de trabalhadores no contemporâneo.
Foi desenvolvido no âmbito do seminário de Laboratório dos Media, no programa de doutoramento em Media Digitais (FCSH-UNL/UT Austin Portugal), sob a orientação de João Mário Grilo.
Autoria e Desenvolvimento: Madalena Miranda