JULÍAN MARÍAS [AGUILERA]

(1914 – 2005)

 

Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo

Horizonte geracional

GERAÇÃO DO PÓS-GUERRA CIVIL – 1945

País

Espanha

Data e local de nascimento

17 de Abril de 1914, Valladolid

Formação e acção

Foi um filósofo e ensaísta espanhol, que, pela sua extensa obra, pela sua constante intervenção pedagógica e pela integridade do seu percurso de intelectual, pode ser considerado um dos mais interessantes discípulos de José Ortega y Gasset.

Juntamente com, por exemplo, Antonio Rodríguez Huéscar, Manuel Granell e a sua futura esposa, Dolores Franco, Marías foi aluno da Universidad de Madrid de 1931 a 1936, ou seja, durante a II República espanhola. Para além do seu grande mestre, teve também como professores Xavier Zubiri, José Gaos e García Morente. Durante a guerra civil vinculou-se aos republicanos, pelo que depois do triunfo do franquismo teve de enfrentar grande adversidade, nomeadamente após uma denúncia feita por um dos seus amigos.

Actividade desenvolvida

Não obstante a hostilidade do regime, que o impediu de concluir o Doutoramento, de iniciar no seu país uma carreira universitária expectável e, durante muito tempo, sequer de publicar na imprensa, Marías foi tradutor, professor, conferencista e autor de muitas obras que alcançaram uma enorme projecção.

Data e local de falecimento

15 de Dezembro de 2005, Madrid

Lema e linha filosófica

O objecto de pensamento mais constante em Julián Marías é a vida humana enquanto estrutura analítica, mas também empírica, enquanto individual, mas também pessoal.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

A seguir ao seu primeiro livro – Historia de la filosofía (1941) – que teve uma enorme difusão, foi autor de muitos outros, como, por exemplo, de entre os publicados nos 10 volumes das suas Obras: Miguel de Unamuno (1943), Introducción a la Filosofía (1947), El método histórico de las generaciones (1949), Idea de la Metafísica (1954), Biografía de la Filosofía (1954), Ensayos de teoría (1954), Los Estados Unidos en escorzo (1956), El oficio del pensamiento (1958), La Escuela de Madrid (1959), Ortega – I. Circunstancia y vocación  (1960), El tiempo que ni vuelve ni tropieza (1964), Antropología metafísica (1970). Mas depois da publicação de Obras, o autor continuará a sua profícua produção de livros, que se contam em dezenas de títulos.

A respeito do tema da vida humana, se é verdade que o filósofo parte da doutrina orteguiana da vida enquanto realidade radical, ele irá sujeitá-la a uma contínua hermenêutica filosófica traduzida numa antropologia original que, graças também à influência do pensamento de Unamuno e de Zubiri, culmina em personalismo. Assim, entre os diversos temas a que se dedicou, Julián Marías – sobretudo a partir da década de setenta do século passado, como ele mesmo reconheceu no Prólogo a Mapa del mundo personal – privilegiou a investigação da realidade pessoa, nos múltiplos aspectos da vida humana. Nas suas meditações filosóficas e enquanto sujeito confessadamente religioso, repudiou todas as modalidades de coisificação da pessoa humana, porquanto entendia esta como ser transcendente. Isto não diminuía, antes ampliava, a sua concepção de raiz orteguiana acerca da temporalidade histórica, constituinte do ser humano através da sua circunstância. E Marías, assumindo plenamente, tanto a sua dignidade, como a sua responsabilidade, posicionou-se sempre, em planos e perspectivas vários, a respeito da tradição cultural em que se integrava e dos acontecimentos ou tendências nacionais e internacionais do seu tempo.

A sua independência intelectual fez dele, quer um “inimigo do regime” aos olhos de Franco e dos franquistas, quer um nome a silenciar para os que após a transição democrática militavam numa esquerda incompatibilizada com todos os católicos. Coerentemente, Marías defendeu e viveu a radicalidade da tese acerca do ser humano como protagonista da sua realidade.

Do ponto de vista teórico-prático, o compromisso de cada um com a sua vocação é um imperativo da vida em sentido radical, cujo projecto assenta simultaneamente em obrigações e em preferências, e cuja concretização passa por mobilizar, com intuito de autenticidade, a força íntima da pessoa a que não é estranho o entusiasmo ou ânimo (“ilusión”). Por outro lado, as reflexões de Marías atendem igualmente à personalidade colectiva, que, em virtude da cultura, se consolida, afirma e traduz no desenvolvimento dos países e dos povos.

Confirmando a sua compreensão da Filosofia como “visión responsable”, nos termos em que a sintetizou, por exemplo no Prólogo, de 1968, a Nuevos ensayos de filosofía, Marías constrói um pensamento circunstancial que faz jus a Ortega e, por conseguinte, vai além dele e se centra na pessoa, como alguém que projecta uma vida singular, em que amor e entusiasmo são inseparáveis do dramatismo de ter de escolher o que julga ser melhor. Por isso o que pode designar-se no autor a sua ética do melhor inclui a consideração, não apenas das trajectórias realizadas, mas também das preteridas e até das falhadas, pois quem é protagonista da sua vida humana edifica um percurso biográfico, ao longo do qual não renuncia, por fidelidade ao futuro, nem ao que é impossível, nem à criação de possibilidades novas.

Bibliografia activa

Obras. 10 vols. Madrid: Revista de Occidente/Alianza Editorial, 1958–1970.

Visto y no visto. Crónicas de cine. 2 vols. Madrid: Guadarrama, 1970.

Imagen de la India e Israel: una resurrección. Madrid: Revista de Occidente, 1973.

La Justicia social y otras justicias. Ed. Seminarios y Ediciones, 1974.

Problemas del cristianismo. Madrid: BAC, 1979.

La mujer en el siglo XX. Madrid: Alianza Editorial, 1980.

Ortega. II. Las trayectorias. Madrid: Alianza Editorial, 1983.

Breve tratado de la ilusión. Madrid: Alianza Editorial, 1984.

España inteligible. Razón histórica de las Españas. Madrid: Alianza Editorial, 1985.

La mujer y su sombra. Madrid: Alianza Editorial, 1986.

Ser español. Barcelona: Planeta, 1987.

Una vida presente. Memorias. 3 vols. Madrid: Alianza Editorial, 1988–1989: I (1914–1951), II (1951–1975), III (1975–1989).

La felicidad humana. Madrid: Alianza Editorial, 1989.

Generaciones y constelaciones. Madrid: Alianza Editorial, 1989.

Cervantes, clave española. Madrid: Alianza Editorial, 1990.

Acerca de Ortega. Madrid: Espasa Calpe, 1991.

– La educación sentimental. Madrid: Alianza Editorial, 1992.

Razón de la filosofía. Alianza Editorial, Madrid 1993.

Mapa del mundo personal. Madrid: Alianza Editorial, 1993.

El cine de Julián Marías. Escritos sobre cine. Compilación de Fernando Alonso. 2 vols. Barcelona: Royal Books, 1994.

Tratado de lo mejor. La moral y las formas de la vida. Madrid: Alianza Editorial, 1995.

Persona. Madrid: Alianza Editorial, 1996.

España ante la historia y ante sí misma (1898–1936). Madrid: Espasa Calpe, 1996.

Sobre el cristianismo. Barcelona: Planeta Testimonio, 1997.

El curso del tiempo. 2 vols. Madrid: Alianza Editorial, 1998.

Tratado sobre la convivencia. Barcelona: Martínez Roca, 2000.

Entre dos siglos. Madrid: Alianza Editorial, 2002.

La fuerza de la razón. Madrid: Alianza Editorial, 2005.

Una vida presente. Memorias. Madrid: Páginas de Espuma, 2008.

– Notas de un viaje a Oriente. Madrid: Páginas de Espuma, 2011.

Bibliografia passiva

AAVV – Homenaje a Julián Marías. Madrid: Espasa Calpe, 1984.

AAVV – Un siglo en España: homenaje a Julián Marías. Madrid: Alianza, 2002.

CAÑAS, José Luis; BURGOS, Juan Manuel (eds.) – El vuelo del alción. El pensamiento de Julián Marías. Madrid: Páginas de Espuma, 2009.

CARPINTERO, Helio – Julián Marías. Valladolid: Diputación Provincial de Valladolid, 2001.

Una voz de la «Tercera España». Julián Marías, 1939. Madrid: Biblioteca Nueva, 2007.

Julián Marías. Una vida en la verdad. Madrid: Biblioteca Nueva, 2008.

CZAJKOWSKI, Marcin – El tema de Dios en la filosofía de Julián Marías. [Tese universitária] Pamplona: Universidad de Navarra, 2001.

DONOSO, Antón – Julián Marías. London: Tamesis, 1982.

HERNÁNDEZ-CASTRO, Clara Z. – Las ideas literarias de Julián Marías, una relación estrecha con su filosofía. [Tese universitária] Ann Arbor: University of Michigan, 1991.

HIDALGO NAVARRO, Rafael – Julián Marías. Retrato de un filósofo enamorado, Madrid: Rialp, 2011.

PADILLA, Juan – Ortega y Gasset en continuidad: sobre la escuela de Madrid. Madrid: Biblioteca Nueva/ Fundación José Ortega y Gasset, 2007.

PÉREZ DUARTE, Javier – Claves del pensamiento político de Julián Marías. [Tese universitária] Deusto: Universidad de Deusto, 2003.

RALEY, Harold C. – La visión responsable. La filosofía de Julián Marías. Prólogo de José Luis Pinillos. Madrid: Espasa Calpe, 1977.

  • Julián Marías: una filosofía desde dentro. Madrid: Alianza, 1997.

ROLDÁN SARMIENTO, Pilar – Hombre y humanismo en Julián Marías: la dimensión psicosocial de su antropología. [Tese universitária] Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2003.

SOLER PLANAS, Juan – El pensamiento de Julián Marías. Madrid: Revista de Occidente, 1973.