RAMÓN OTERO PEDRAYO

(05/03/1888 – 10/04/1976)

Autoria: José Esteves Pereira

Horizonte geracional

1920/GERAÇÃO NOS

País

ESPANHA/GALIZA

Data e local de nascimento

5 de Março de 1888, Ourense

Formação e acção

Ramón Otero Pedrayo fez estudos secundários, a partir de 1898, no Centro Provincial de Instrución, de Orense, cursos de Filosofia, e Letras e preparatórios de Direito, na Universidade de Santiago de Compostela (1904-1905) concluindo os dois cursos, uns anos depois, na Universidade Central de Madrid, em 1912, onde frequenta o Ateneo. Professor em Burgos, Santander e Orense. Em Abril de 1921 participa na III Asemblea Nacionalista de Vigo, e em Fevereiro de 1922 na IV Asemblea Nacionalista de Monforte de Lemos. Em 1926 publicou o Guía de Galicia na Espasa Calpe. Colaborou de forma activa no Seminário de Estudos Galegos e dirigiu a secção de Geografía desde 1926. Em 10 de Julho de 1930 foi eleito primeiro presidente da Associação de Escritores Galegos. Em 1929 rejeitou unir-se á Organização Republicana Galega Autónoma criada por Santiago Casares Quiroga. Na II República foi eleito para a Assembleia Constituinte realizada em 28 de Julho de 1931 tendo sido deputado nas Cortes pela Província de Ourense. Nas Cortes defendeu um modelo de estado federalista e confessional e a cooficialidade de castelhano e galego.

Na primavera de 1932 visitou a Generalitat da Catalunha junto com Castelao, a convite de Francesc Macià, e em abril de 1933 participou no Aberri Eguna, organizado polo Partido Nacionalista Vasco. Nas eleições de 1933 perde o lugar de deputado e afasta-se da primeira linha política enfrentando em Abril de 1935, na IV Assembleia do Partido Galeguista, a linha mais esquerdista. Entretanto, viria a defender a aprovação do Estatuto de Autonomia da Galiza, de 1936.

Em Maio de 1936 defendeu a sua tese de doutoramento,  Los orígenes de la Galicia moderna

No Verão de 1937, durante a guerra civil espanhola, foi destituído da cátedra e salvou a própria vida graças às boas relações que mantinha com os elementos da cúpula da igreja orensana. Retira-se, então, da vida política, vivendo nos anos seguintes na sua casa de Trasalba. Não obstante a pressão de amigos para que solicitasse a reintegração na Universidade Otero Pedrayo negou-se justificando a sua atitude pelo facto de que já que não pedira que lhe tirassem o trabalho, não ia pedir que lho devolvessem. Colabora, nesse tempo, na imprensa, em castelhano, sob os pseudónimos de Luís de Alba, Santiago Amaral, Luís Peñaforte, Juan Gallego, Tristán de Montenegro ou com as iniciais R.O.P. En 1946 começa a colaborar no jornal compostelano La Noche, na secção Parladoiro, escrita em galego e já assinada com o seu nome. Em 1947 desloca-se a Buenos Aires convidado polo Centro Galego, reencontrando-se com Castelao. Entre 1947 e 1949 participou na criação do patronato Rosalía de Castro, encarregado de adquirir a Casa da Matanza que viria a ser musealizada en 1971. Em novembro de 1948 reassume a docência no Instituto de Ourense e em Abril de 1950 ascende à cátedra de Geografia na Universidade de Santiago passando a viver nesta cidade. Nesse mesmo ano foi um dos fundadores da Editorial Galaxia assumindo as funções de presidente do respectivo Conselho de Administração. Participa, então, em vários congressos, como o celebrado em Braga em 1950 nas comemorações de Martinho de Dume. Em 1957 retoma a publicação em galego de que se destacam a coleção de relatos Entre a vendima e a castañeira, e em 1958 o seu primeiro poemario, Bocarribeira. Jubila-se em 5 de Março de 1958 proferindo a lição intitulada “Unha visión xeral de Galicia” e passa a viver em Orense e Trasalba. Volta a Buenos Aires em 1959 tendo ganho em 1962 o Premio Galicia da Fundación March. Em 1964 foi premiado pela Deputación de Ourense pelo trabalho de investigação El padre Feijoo. Su vida, doctrinas e influencias. Faleceu na casa natal a 10 de Abril de 1976 tendo sido sepultado no Cemitério de São Francisco de Ourense, vestido com o hábito da ordem de San Francisco e envolto na bandeira galega.

Actividade desenvolvida

Otero Pedrayo pertence à geração Nós e evidenciou-se em vários géneros de escrita: ensaio, novela, poesia, além dos estudos científicos de Geografia fruto da sai actividade docente na Universidade de Santiago. Depois do regresso de Madrid a Ourense, em 1912, integra-se no grupo “Os inadaptados”, fundado por Vicente Risco. A obra de Otero Pedrayo está marcada por uma obra de profunda reflexão identitária da Galiza que é servida por um pensamento de recorte idealístico-naturalísta, típico do ideário da Geração Nós, de uma filosofia da arte, em que se dá a libertação das formas a partir do devir temporal de que são originárias rumo à eternidade de que procedem. Otero Pedrayo defende, também, uma “ética da fidalguia”, de espiritualização e de estoicismo perante a adversidade, de amor à natureza e preservação de valores vivos da tradição. A expressão autobiográfica de muita da sua obra permite um acercamento à compreensão da geração Nós de que foi um dos principais integrantes.

Data e local de falecimento

10 de Abril de 1976, Ourense

Lema e linha filosófica

Neo-idealismo naturalista próprio do ideário do Grupo Nós subjacente às formulações teóricas do nacionalismo galego com propósitos e mentalidade universalista

Linha filosófica e caracterização geral da obra

O pensamento de Ramón Otero Pedrayo inscreve-se numa filosofia do devir, em que o real emana de uma dynamis espiritual sobre ele atuante, como força vital afim do élan vital bergsoniano. Tal força vital principial encarna-se na matéria primitiva objectivando-se em formas, elas próprias dotadas de idealidade fecundante e criativa a que chama, expressivamente, no galego de uso marinheiro, o “devalar das formas” qual incessante refazer cósmico em que o humano se integra. As formas são, pois, objectivação da ideia no tempo e no espaço. A concepção desta visão de natureza entendida numa perspetiva ao mesmo tempo ideal e sensorial ilustra-a Otero Pedrayo no devir das formas minerais e vegetais que se vão perder no mar, na reincorporação plena e livre das águas, nas “ondas devaledoiras” do mar confessadamente afim da linha de pensamento heraclitiano. Todavia, mais do que a caducidade e a morte que se podem inferir desse transito do devir há que exaltar a vida e a permanência. Nesta dialéctica ideal- naturalista o que move Otero Pedrayo é a desejada conciliação dos contrários. Valha o exemplo histórico que aduz sobre a contraposição Atlântico versus Mediterrâneo, ou o do Renascimento versus Classicismo. Salienta o pensador e escritor a esse propósito que, em boa verdade, o descobrimento do Atlântico se dá ao mesmo tempo em que ocorre o descobrimento cultural da Antiguidade.” Que faría Camoes sem educación clássica?”

A perspectiva a um tempo ideal e sensorial de onde parte Otero Pedrayo projecta-se numa visão dialéctica já referida, em que a questão identitária galega logra uma explicação profunda. Na “nebulosa maternal da Galiza” estão conjugados dois elementos contrários. Um espiritual, outro material. A primeira ideia da Galiza nasce quando de um originário ponto desconhecido saíram os “celtas migradoiros”, peregrinos, que se encontram com a realidade física do mar. Desse encontro fecundante, ideal e natural a um tempo, aparece plasmado nos elementos. Certamente sempre presente o mar mas também a chuva, os pinheiros, as pedras num desvelar intenso de formas que se manifestarão tanto positiva como negativamente e de que o homem participa. De sentido positivo emerge a arte na sua busca da eternidade ideal a partir do mundo concreto. Otero Pedrayo nesse entendimento dinâmico que atravessa toda a sua meditação desenvolve uma dialéctica de tradição e modernidade bem corporizado na sua reflexão ética sobre a “fidalguia” que não significa qualquer tipificação classista, atendendo ao facto que aquela categoria se pode transpor, mesmo, para o mundo natural. A “fidalguia oteriana será antes expressão, sentido ou actividade ao mesmo tempo ética e estética, de recorte estoico, em que emerge a excelência da dignidade humana num horizonte de progressismo ideo-vitalista e de afirmação de liberdade criativa contraponto para muitos aspectos negativos como a mercantilização ou a pura adesão acrítica à autoridade (“espritos tendeiros” versus “espritos fidalgos”)

Bibliografia activa

Pantelas, home libre (Pantelas, hombre libre – relatos breves) (1925).

O purgatorio de don Ramiro (El purgatorio de don Ramiro) (relatos breves) (1926).

Guía de Galicia (1926).

Escrito na néboa (Escrito en la niebla) (relatos breves) (1927).

Os camiños da vida (Los caminos de la vida) (novela en tres libros) (1928).

A lagarada (La lagarada) (teatro) (1928).

Síntese xeográfica de Galicia (1926).

Pelerinaxe (1926).

Arredor de si (Alrededor de sí) (novela) (1930).

Contos do camiño e da rúa (Cuentos del camino y de la calle) (relatos breves) (1932) .

A romaría de Xelmírez (1934).

Fra Vernero (novela) (1934).

”Teatro de máscaras (teatro) (1934).

Devalar (novela) (1935).

Ensaio histórico sobre a cultura galega (1939).

O mesón dos Ermos (El mesón de los Ermos) (relatos breves) (1936).

O desengano do prioiro (El desengaño del prior) (teatro) (1952).

Polos vieiros da saúde (1952).

Entre a vendima e a castañeira (Entre la vendimia y la castañera) (1957) (relatos breves).

Bocarribeira. Poemas pra ler e queimar (Bocarribera. Poemas para leer y quemar) (poesía) (1958) .

Rosalía (diálogo teatral) (1959).

O señorito da Reboraina’ (‘‘El señorito de la Reboraina”) (novela) (1960).

O espello no serán (1966).

Síntese histórica do século XVIII en Galicia (1969).

O fidalgo e a noite (”El hidalgo y la noche”) (diálogo aparentemente teatral) (1970) .

Noite compostelá (Noche compostelana) (diálogo aparentemente teatral) (1973).

O Maroutallo (”El Maurotallo”) (relatos breves). (1974)

Teatro de máscaras’ (1975)

Bibliografia passiva

FERNÁNDEZ, Anxel González, Otero Pedrayo, Ramón, Dicionario Enciclopedia do Pensamento Galego, Vigo, Edicións Xerais de Galícia, 2008, pp. 233-239.

BALIÑAS, C. Descubrindo a Otero Pedrayo, Santiago de Compostela, Fundación Universitária de Cultura, 1991.

CASARES, C., Otero Pedrayo,Vigo, Galaxia, 1981.

QUINTANA,X e VALCARCEL,M., Ramón Otero Pedrayo. Vida, obra e pensamento, Vigo, Ir Indo, 1988

Website:

https://gl.wikipedia.org/wiki/Grupo_N%C3%B3s