REMEDIOS VARO

(16/12/1908 – 08/10/1963)

Autores: Teresa Lousa – José Mikosz

Horizonte geracional

 GERAÇÃO DE 1930

País

México

Data e local de nascimento: 16 de Dezembro de 1908, Espanha, Anglès, Gerona.

Formação e acção

Remedios estudou num colégio católico, apesar do seu pai não concordar com a educação religiosa e lhe tentasse passar uma visão independente intelectual e livre, o que veio a ter um forte impacto na sua maneira determinada e curiosa de ser.

Desde muito jovem foi desenvolvendo o desenho também por influência do seu pai que era engenheiro hidráulico e revelava forte sensibilidade artística.

Com 15 anos entrou para a Real Academia de Belas Artes de S. Fernando em Madrid onde se formou em 1930 e aí tomou contacto pela primeira vez com o Surrealismo.

Madrid também contribuiu para um maior conhecimento da história da arte e da pintura, onde revela particular interesse por Bosch e Goya.

É nesta fase que se casa com o pintor Gerardo Lizárraga. Mudam-se para Paris, o centro do mundo artístico da Europa à época. Um ano depois muda-se para Barcelona, divide o estúdio com Esteban Francés, separa-se do marido em 1936, e participa com três trabalhos na exposição organizada por um grupo vanguarda chamado «Logicofobistas».

É em Barcelona que inicia uma relação amorosa com Benjamin Péret, poeta surrealista francês. Em 1937 voltam para a França sobretudo devido à violência da Guerra Civil. Ela nunca mais voltaria a Espanha.

Actividade desenvolvida

Em Paris explora novas técnicas (pastel, aguarela, parafina e óleo) e temas de pintura dentro do imaginário surrealista. Conhece artistas em Paris de quem se aproxima como Max Ernst e Leonora Carrington (1917- 2011), pintora que mais tarde também vai para a cidade de México onde serão sempre companheiras.

Esta fase de Paris foi de intensa produção artística, participa em várias exposições colectivas, como a Exposição Internacional de Surrealismo em Tóquio em 1937, na Galeria de Belas Artes em Paris 1938, e na Galeria de Arte Mexicana em 1940. Neste mesmo ano os Nazis invadem Paris e Remedios Varo decide abandonar esta cidade, passa por Marsella onde aguarda uma oportunidade para ir para a América. Acaba por ir para o México, e fixa-se com Péret na Cidade do México, onde ficará a viver até ao final da sua vida. Aqui dedicar-se-à a várias actividades como por exemplo a decoração de móveis, a fazer design e decors para bailados juntamente com Marc Chagall, a fazer desenhos publicitários para a casa Bayer. Em 1947 separa-se do seu companheiro Benjamin Péret. Mais tarde, Varo juntou-se a Walter Gruen. Neste período e até à sua morte será quando varo mais se dedicará à pintura e desenvolverá um trabalho extraordinário de maior originalidade e coerência. É nesta fase também que se dedicará à escrita, à escultura e à fotografia. Ela morrerá no auge de sua carreira de um ataque cardíaco

Data e local de falecimento

08 de Outubro de 1963, Cidade do México

Lema e linha filosófica

A obra de Remedios Varo é inspirada no seu imaginário interior onde se misturam harmoniosamente interesses diversos da artista como no autoconhecimento, na ciência, no misticismo, na alquimia, no esoterismo e na magia.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Não pertencendo propriamente a uma linha filosófica, a sua pintura evolui de uma estética surrealista a uma expressividade autónoma e a um aprofundamento espiritual de autoconhecimento. A sua ida para o México acaba por ser uma viagem ao seu interior, onde explora toda uma iconografia que vai muito além do surrealismo. No México Remedios encontrou sobretudo a paz que não teve nem em Espanha nem em Paris, talvez por isso sempre manteve uma postura pacifista e apolítica que lhe conferiu a liberdade de explorar a sua identidade artística e consciência íntima em grande profundidade.

Ela costumava trabalhar com tinta óleo sobre painéis que ela mesma preparava. Embora esta seja a sua técnica de eleição, as suas pinceladas são muitas vezes realizadas com traços muito finos e próximos, técnica que lembra a que se realizava no Renascimento com têmpera-ovo. As pinturas de Varo enquadram-se dentro das buscas que envolvem características do Simbolismo e do Surrealismo, ou seja, há uma aproximação com a estética Romântica, porém voltada não tanto aos aspectos emocionais, mas à experiência mais directa da alma, do eu interior, do inconsciente e do sonho.

Varo desenvolve, a partir de 1949, um estilo maduro, fortemente enigmático e facilmente reconhecível, onde a temática esotérica está muito presente nas suas obras.

Os últimos 9 anos de vida são os de maior produtividade e dedicação exclusiva à arte sem as constantes preocupações de a conciliar com actividades que garantissem a subsistência económica. É sobretudo na pintura desta fase, que revela a maior força e energia psíquica de grande influência mística.

Os seus conhecimentos filosóficos, de tradição hermética, vão desde a filosofia neoplatónica vigente no Renascimento a teorias contemporâneas, como a psicologia de Jung, assim como do ponto de vista da literatura sofre influências de Julio Verne, Aldous Huxley, Edgar Allan Poe, H.G. Wells, Jorge Luís Borges, etc. Destacamos também o forte impacto dos filósofos místicos George Ivánovich Gurdjieff e Piotr Demiánovich Ouspensky (autor dos livros Tertium Organum e Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido – Em Busca do Milagroso), que formaram parte do pensamento de Varo, sendo que a artista possuía livros desses autores na sua biblioteca, além de frequentar grupos de estudos relacionados com eles. Essa influência é possível encontrar em pinturas como “La Tejedora Roja” onde pode ser estabelecido um paralelo com a metáfora da lã nos ensinamentos dos grupos, onde o trabalho de tecer, bordar e pintar tinham como finalidade desenvolver um agudo sentido de atenção que pode ser observado nas pinturas de extrema finura e no uso magistral dos pincéis de Varo.

Para além da Pintura Remedios também produziu uma obra escrita notável. Esta varia entre uma relação explícita com certas obras de arte como expressão de algo maior, ou num registo independente com uma tónica autobiográfica e ainda psicanalítica de registo onírico, mas também de inspiração esotérica de múltiplas fontes, muitas vezes pautados de humor e de uma dimensão lúdica admirável (a qual se prende ainda com a escola do surrealismo). A escrita acaba por ser resultado de uma energia criativa no seu todo, e revela nesta acepção as mesmas fraturas com o racional e com a lógica que a sua pintura, que nos depõe num universo único de imaginação, simbolismo e de múltiplas realidades paralelas e inter-dimensionais.

 

Bibliografia activa

VARO, Remedios; CASTELLS, Isabel. Cartas, Sueños y otros Textos. México: Ediciones Era, 1997.

Bibliografia passiva

ARCQ, Tere; BOGZARAN, Fariba. Cinco llaves del mundo secreto de Remedios Varo. Ciudad de México: Artes de México, 2008.

ANDRADE, Lourdes. Remedios Varo: La Metamorfosis. Circulo de Arte, México, 2002.

CIRLOT, Lourdes; MANONELLES, Laia.  Las Vanguardias artísticas a la luz del esoterismo y la espiritualidad. Edicions Universitat Barcelona, 2014.

GONZÁLEZ, Juliana. Mundo y trasmundo de Remedios Varo. Catálogo razonado/Catalogue raisonné. Compilación por Ricardo Ovalle y Walter Gruen, México D.F.: Editorial Era, 2008.

GONZÁLEZ MADRID, Maria José. Surrealismo y saberes mágicos en la obra de Remedios Varo. Universitat de Barcelona, Departament d’Història de l’Art. Tesis Doctoral, 2013.

GRUEN, Walter. El Catálogo Razonado. Ciudad de México: Editorial Era, 2008.

KAPLAN, Janet A. Viajes Inesperados. Ediciones Era. México D.F., 1989.

LUCAS, José Luis Antequera, “Remedios Varo (1908-1963): el viaje interior” in Espacio, Tiempo y Forma, Serie VII, H. del Arte, t. 20-21, 2007-2008, pp. 341-361

https://www.researchgate.net/publication/286166610_Remedios_Varo_1908-1963_el_viaje_interior [acedido a 11de Março de 2018].

NONAKA, Masayo (Author); VARO, Remedios (Artist). Remedios Varo: The Mexican Years. 2012

RIVERA, Magnolia. Trampantojos: El Circulo en la obra de Remedios Varo. Siglo XXI, México, 2005.

VARO, Beatriz. Remedios Varo: En el centro del microcosmos. Madrid: Fondo de Cultura Económica (FCE), 1990.