AARÃO DE LACERDA

(1890 – 1947)

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1912

País

Portugal

Data e local de nascimento

1890, Porto

Formação e acção

Aarão de Lacerda estudou Direito em Coimbra, chegando mesmo a abrir escritório no Porto, actividade que não teve grande continuidade, pois cedo reconheceu nas Artes e nas Letras a sua vocação.

Regressa à Universidade de Coimbra onde estuda Ciências Histórico- Filosóficas. Aí conhece Joaquim de Vasconcelos, professor que virá a exercer uma forte influência no seu pensamento e acção e por quem será convidado a leccionar as cadeiras de História da Arte na Escola de Belas Artes do Porto, actividade que desempenhará como professor regente a partir de 1918. A partir de 1921 lecciona as cadeiras de Estética e de História da Arte na Faculdade de Letras do Porto, até ao encerramento desta faculdade em 1931. Aqui desenvolve também as disciplinas de Arqueologia e História Geral da Civilização. Por esta altura apresenta a sua dissertação de licenciatura em Coimbra com a tese “O Fenómeno Religioso e a Simbólica (Subsídios para o seu estudo)”. No ano de 1926 foi-lhe atribuído o grau de Doutor em Letras e Ciências Históricas pela Faculdade de Letras do Porto. Nesse mesmo ano ocupa também o cargo de director do Museu de Arqueologia e História de Arte da mesma Universidade.

Posteriormente regressa à Escola de Belas Artes do Porto onde leccionará História da Arte e Arqueologia Artística. Em 1944 deu aulas no Conservatório de Música do Porto as cadeiras de Acústica e de História da Música. Em 1945 começa a leccionar Estética e História da Arte na Faculdade de Letras de Coimbra, actividade à qual se dedicou em regime de exclusividade até à sua morte a 7 de Setembro de 1947 na Curia.

Actividade desenvolvida

Para além da sua actividade notável de docente conduzida no ensino superior entre a Faculdade de Letras do Porto, a Escola de Belas Artes do Porto e a Faculdade de Letras de Coimbra, foi ainda no teu tempo de estudante fundador da revista literária “Dionysos” e coorganizou no Porto, em 1915, a primeira exposição de “Modernistas e Humoristas”.

Foi em 1918 um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia. Foi sócio da Renascença Portuguesa desde 1915 e exerceu um papel activo na Revista Águia onde publicou uma multiplicidade de artigos entre 1911 e 1932. Foi vogal da Academia Nacional de Belas Artes e membro da Academia Portuguesa de História.

Data e local de falecimento

7 de Setembro de 1947, Curia

Lema e linha filosófica

A sua linha filosófica pode situar-se numa Estética religiosa, onde o simbólico e o vocabulário artístico assumem plena expressão do fenómeno religioso.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

O seu ensaio académico, O Fenómeno Religioso e a Simbólica (Subsídios para o seu estudo), lançado no Porto em 1924 numa edição belíssima ilustrada, apresenta o principal conteúdo filosófico de Aarão de Lacerda. A obra que teve origem na sua dissertação de licenciatura apresentada à Universidade de Coimbra, propõe aquilo a que se pode chamar uma Estética religiosa. Como afirma o autor o seu ensaio não constitui nem uma profissão de fé nem uma apologia do racionalismo, ateísmo, ou fanatismo, mas sim uma proposta despretensiosa e livre de preconceitos que tem por base o sentimento da transcendência assente na vivência concreta do humano. É na vida concreta, na experiência tangível, que Aarão encontra o ponto de partida da sua Estética religiosa.

É na simbólica gótica, presente nos vitrais e em especial na arquitectura que o autor encontrará o vocabulário estético do fenómeno religioso. O sentimento do sagrado entendido como um sensus numinis pode ser exaltado por essa estética da transcendência.

Entre múltiplas conferências, artigos e a importante História da Arte em Portugal, que se seguiram à obra académica, Aarão não mais perdeu de vista o fenómeno religioso e a sua simbólica, que soube integrar numa abordagem estética e ampla que dedicou ao estudo da música, das artes visuais e dos vestígios arqueológicos.

Bibliografia activa

“A Música Cristã”, in A Águia, s. I, 3 (1911);

“A Música Medieval – I”, in A Águia, s. I, 7 (1911);

“A Música Medieval – II”, in A Águia, 10, (Jul. 1911);

Dionysos: Revista mensal de philosophia, sciencia e arte / dir. Aarão de Lacerda e João de lebre e lima, Coimbra: Casa Minerva, 1912- 1928

“A Exposição da Sociedade de Belas-Artes do Porto em 1914”, in A Águia, s. II, 35 (1914);

“Artistas de hoje – João Augusto Ribeiro”, in A Águia, s. II, 38 (1915);

“A propósito de duas obras de arte”, in A Águia, s. II, 41 (1915);

Da Ironia, do Riso e da Caricatura: Ensaio Esthetico, Porto: Tip. da Pap. A. J. d’Almeida, 1915;

“O Povo Português por Bento Carqueja”, in A Águia, s. II,58-60 (1916);

“Arte Portuguesa – O Museu Grão-Vasco”, in A Águia, s. II, 71-72, (1917);

Arte Portuguesa- I: O Museu de Grão Vasco, Coimbra: 1917;

Estética da Arte Popular, Coimbra: Tip. Da Renascença Portuguesa, 1917;

“Arte Portuguesa – O Museu Grão-Vasco”, in A Águia, s. II, 73-74, (1918);

“Arte Portuguesa – O Museu Grão-Vasco” (cont.), in A Águia, s. II, 75-76 (1918);

Para a Filosofia da Guerra, Porto: 1919

Templo das Siglas: a igreja da Ermida do Paiva, Porto: 1919;

“O Monumento (Ermida de Paiva) ”, in A Águia, s. II, 91-93 (1919);

“Fausto Goncalves”, in Exposição de pintura a óleo de Fausto Gonçalves, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1920;

“A Madre de Deus”, in Portugal: a arte – os monumentos – a paisagem – os costumes – as curiosidades: Lisboa, Barcelos: Portucalense Editora, s.d.;

Para uma finalidade da educação no actual instante, Porto: Américo Fraga Lamares: Eduardo Tavares Martins, 1922;

“A Capela de Nossa Senhora da Conceição (em Braga) ”, in Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, I, (5-6, 1923);

“Notas bibliográficas”, in Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, (5-6, 1923);

O Fenómeno Religioso e a Simbólica (Subsídios para o seu estudo) Porto,1924 (2ª ed. Guimarães Editores, 1998);

“Notas bibliográficas”, in Revista de Estudos Históricos: Boletim do Instituto de Estudos Históricos da Faculdade de Letras do Porto, II,2, 1925;

O Panteão dos Lemos na Trofa do Vouga, Porto, 1928;

“Arte [Seculos XII- XIV] ”,“Arte: a) arquitetura (Séculos XVII-XVIII) ”,“Arte: b) escultura, pintura e artes decorativas (Séculos XVII-XVIII) ”, “Arte: a) arquitetura (Século XIX) ”, “Arte: b) escultura, pintura e artes decorativas (Século XIX) ”, in Damião Peres, História de Portugal: Edição Monumental Comemorativa do 8º Centenário da Fundação da Nacionalidade, vols. II (1929), VI (1934), VII (1935), Barcelos: Portucalense Editora, 1928-1954;

Marques de Oliveira” in Quadros do grande mestre Marques de Oliveira, Exposição no Salão Nobre do Ateneu Comercial do Porto, 1929;

Beethoven, o primeiro romântico, Porto: 1931;

“Reintegração de um monumento – Capela de S. Frutuoso”, in A Águia, s. V, no 2, (1932);

Arte Negra (resumo de conferência em Actas do I Congresso Nacional de Antropologia Colonial), Porto: Ed. da 1ª Exposição Colonial Portuguesa, 1934;

“Palavras na récita popular, no Jardim do Palácio de Cristal, aos 12 de junho de 1937” in Ministério da Educação Nacional – Centenário de Gil Vicente (1537-1937): livro em que se contêm as obras do Poeta apresentadas nas récitas vicentinas…acompanhadas das palavras que então foram ditas, Lisboa: M. E. Nacional, 1937;

Influência da Expansão Ultramarina na Arte, in António Baião, Hernâni Cidade e Manuel Múrias, História da Expansão Portuguesa no Mundo, v. III, Lisboa, Ática, 1937-1940;

Estudos Portugueses: a sua atividade nos anos lectivos de 1938-39 e de 1939-40, Porto: Edições Maranus (Sep. Boletim Cultural da Camara Municipal do Porto, III, 4), 1940;

Prefácio a Arminda Fortes, Micaela: romance, Porto, Domingos Barreira- Editor (2ª ed.), 1940;

“A recordar uma exposição de Ayres de Gouvêa”, in Sociedade Nacional de Belas Artes – Exposição de pintura, pastel e desenho de Alberto Ayres de Gouvêa, Lisboa: S. N. B. Artes,1941;

História da Arte em Portugal, v. I, Porto: Portucalense Editora, 1942; “Acácio Lino”, in Livro de Ouro: homenagem ao pintor Acácio Lino, Porto/ Lisboa: 1942- 1943;

“Trofa do Vouga”, in Guia de Portugal, Lisboa: Biblioteca Nacional de Lisboa, 1944;

Recensões críticas”, in Biblos: Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, XXI (1945);

“A arte em Portugal no seculo XIX”, in Portugal: breviário da Pátria para os Portugueses ausentes, Lisboa: Edições SNI,1946.

Bibliografia passiva

CUNHA, Rodrigo, S, “Lacerda, Aarão Soeiro Moreira de”, in Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa, Lisboa: Círculo de Leitores, 2016

EIRAS, Adriano, Faculdade de Letras do Porto (contribuição bibliográfica para a sua história), Porto, Biblioteca Publica Municipal do Porto: 1989.

PERES, Damião, Professor Doutor Aarão de Lacerda, Coimbra: Coimbra Editora, 1948.

SÁ, Maria de Lurdes Rocha de, Vida e Obra de Aarão de Lacerda: subsídio para o estudo da historiografia da arte portuguesa, Porto: s. n., 1991.

TEIXEIRA, António Brás, Ética, Filosofia e Religião, Évora: Pendor, 1997.

  1. AA. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, XIV, Rio de Janeiro/Lisboa: 1946