ANTÓNIO DE OLIVEIRA MARQUES

(23/ 08/ 1933 – 23/ 01/ 2007)

Autoria: Cecília Barreira

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE DE 1937– Novo Cancioneiro

País

Portugal

Data e local de nascimento

São Pedro do Estoril, 23 de Agosto de 1933

Formação e acção

Estudou nos liceus Camões e Gil Vicente e ingressou na Faculdade de Letras de Lisboa em Ciências Histórico-Filosóficas, curso que acabou em 1956 com um trabalho sobre a Idade Média portuguesa.

Ainda se deslocou à Alemanha, sob a supervisão do professor Hermann Kellenbenz, para aperfeiçoar o estudo de arquivos históricos.

Actividade desenvolvida

António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques é o autor de uma História de Portugal com mais de 10 edições, publicada em muitos países, tais como os EUA ou o Japão.

Historiador notável que introduziu os estudos do quotidiano em Portugal nos anos sessenta, pioneiro no trabalho sobre Idade Média, nos estudos sobre a I República e questionou a História muito factológica e repetitiva. Os seus trabalhos podem ver se como visões históricas globalizantes que vão muito para além das estruturas ou superestruturas.

Em Novembro de 1957 entrou como assistente na Faculdade de Letras de Lisboa onde de fendeu a tese de doutoramento Hansa e Portugal na Idade Média em 1960.

Na greve académica de 1962, tomou o partido dos estudantes e foi obrigado a retirar se do ensino em 1964.

Convidado por diversas universidades norte americanas para lecionar, foi professor exímio na universidade de Minnesota, Yale, Columbia, Wisconsin entre outras.

Regressado a Portugal em 1970, somente a partir da Revolução de 1974 pôde assumir cargos de direção. De 1974 a 1976 foi Diretor da Biblioteca Nacional. Foi um dos fundadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1977) e presidente do conselho científico dessa universidade entre 1981 e 1984.

Em 1973 entrara para a Maçonaria, tendo chegado a ser Grão Mestre Adjunto do GOL (Grande Oriente Lusitano).

Data e local de falecimento

23 de Janeiro, 2007, Lisboa

Lema e linha filosófica

Historiador notável que introduziu os estudos do quotidiano em Portugal nos anos sessenta, pioneiro no trabalho sobre Idade Média, nos estudos sobre a I República e questionou a História muito factológica e repetitiva. Os seus trabalhos podem ver se como visões históricas globalizantes que vão muito para além das estruturas ou superestruturas. Pensar a História pata além do facto é o sinal de uma revolução numa ciência  social muito  estreitada  a datas.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Em 1963, no prefácio à obra A Sociedade Medieval Portuguesa, referia:

O assunto focado – aspetos da sociedade medieval portuguesa na sua vida quotidiana- nunca mereceu a atenção dos historiadores, a não ser de Costa Lobo em algumas páginas da sua História da Sociedade em Portugal no século XV alusivas aos rendimentos individuais (Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, 6ª edição, A esfera dos livros, 2010, p. 15).

O que é um facto é que pela primeira vez, nos anos sessenta, se elaboravam estudos sobre o quotidiano em Portugal: “ O tempo era o sol e era a treva. Não havia relógios mecânicos. As divisões básicas do dia e da noite correspondiam apenas a cerca de um terço das que hoje existem” (Oliveira Marques, idem, p. 25).

Em 1991 vem a lume o volume Portugal Da Monarquia Para a República, escrita por ele próprio, com Fernanda Rollo, Sacuntala de Miranda e Luís Nuno Rodrigues, inserido na coleção pioneira Nova História de Portugal:

A Nova História de Portugal aspira a sugerir hipóteses, a colocar problemas, a suscitar trabalhos de investigação (Portugal Da Monarquia para a República in Nova História de Portugal, volume XI, editorial Presença, 1991, p. 7).

Como sempre, os aspetos da vida quotidiana têm o seu lugar cativo, desde a alimentação, ao vestuário, passando pelas distrações, higiene e saúde, amor e sexo:

O prazer sexual gozava se por toda a parte, embora predominasse em certos meios menos “recomendáveis” da sociedade. Grassava a prostituição, tanto nas grandes como nas pequenas cidades, vilas e até aldeias. Os costumes toleravam o adultério do homem (…) frequentador normal de bordéis ou mantenedor de amantes que lhe garantiam o prazer negado pelas esposas (Oliveira Marques, Portugal da Monarquia para a República, idem, p. 655).

Até aborda a questão da homossexualidade na I República, no que é inteiramente inovador.

Nas questões culturais refere museus, arquivos, revistas, grupos culturais onde enumera grupos de intelectuais em torno da águia, Orpheu, Seara Nova, Presença:

A cultura de uma Nação define se por variados fatores: índice de analfabetismo e de escolaridade; número e qualidade dos estabelecimentos de ensino; instituições científicas, literárias e artísticas, com seus projetos e realizações; produção de livros e periódicos e características da leitura; movimentos literários e filosóficos; invenção e difusão artística; etc. (Oliveira Marques, Portugal Da Monarquia Para a República, idem, p. 577).

A História de Portugal que foi sendo repetidamente editada dá origem em 1995 à Breve História de Portugal, volume de 778 folhas, que se publicita junto de variados públicos nacionais e estrangeiros.

Acerca da deterioração da I República verifica que a instabilidade política é sobremaneira fatal para o regime republicano. E que, desde a burguesia, passando pelos intelectuais, todos clamavam um herói salvador da Nação. Já que Sidónio Pais não o pudera ser durante tão escasso tempo. Em torno do ideário republicano referencia a perspetiva de Elias Garcia, Teófilo Braga, Basílio Teles e Sampaio Bruno enquanto filósofos de um republicanismo. O federalismo ibérico não ficara esquecido, mas com o Ultimatum inglês (1890) redobraram os nacionalismos lusos.

Falando do grupo Seara Nova (anos 20), onde estavam Raul Proença e António Sérgio, atribui lhe um “socialismo democrático”, mais avançado que o republicanismo.

Durante a 2ª Guerra Mundial os alemães quiseram invadir a Península Ibérica. Mas o mau desfecho para Mussolini da invasão à Grécia, desmotivou Hitler.

Sobre o 25 de Abril, diz:

Esquece se, muitas vezes, que a revolução de 25 de Abril de 1974 foi, sobretudo, uma revolta contra a chamada guerra colonial, feita pelas próprias forças armadas mas, sem sobra de dúvida, com o apoio tácito do povo português. (…) O 3º Império chegara ao seu termo. Das oito províncias ultramarinas ou colónias, existentes a partir de 1822, restava apenas Macau (Oliveira Marques, Breve História de Portugal, 6ª edição, Presença, 2006,pp.716-718).

Historiador prolixo, Oliveira Marques estende a sua produção científica pelas margens da Idade Média, passando pelo Republicanismo e, mesmo, pelas vertentes da Maçonaria, de que era membro. Um historiador fundamental do século XX português.

Bibliografia activa

História de Portugal. 3 Vols., Lisboa, Editorial Presença, 13.ª ed., corrigida e actualizada, 1997-98. (1.ª ed. 1972-74)

Publicada inicialmente, em 1972-1974, em dois volumes, refundida e depois ampliada para três tomos (1981), foi traduzida em várias línguas (castelhanofrancêsinglêsjaponês e polaco).

Nova História de Portugal  (coordenador, em parceria com Joel Serrão). 12 vols, Lisboa, Editorial Presença, 1987-2004.

História de Portugal. Lisboa, Comissariado para a Europália 91 : Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991, foi traduzida em várias línguas (francêsinglêschinês e romeno).

Breve História de Portugal. Lisboa, Editorial Presença, 8.ª ed., 2012 [Reimp. 2013] (1.ª ed. 1995).

Hansa e Portugal na Idade Média. Lisboa, Editorial Presença, 2.ª ed., corrigida e aumentada, 1993 (1.ª ed. 1959).

Introdução à História da Agricultura em Portugal: A Questão Cerealífera durante a Idade Média. Lisboa, Edições Cosmos, 3.ª ed., 1978 (1ª ed. 1962).

A Sociedade Medieval Portuguesa. Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 5.ª ed., 1987 (1.ª ed. 1959).

Guia do Estudante de História Medieval. Lisboa, Editorial Estampa, 3.ª ed., corrigida e actualizada, 1988 (1.ª ed. 1964).

Ensaios de História Medieval Portuguesa. Lisboa, Vega, 2.ª ed., 1980.  (1.ª ed. 1965).

Novos Ensaios de História Medieval Portuguesa. Lisboa, Editorial Presença, 1988.

Portugal Quinhentista: Ensaios. Lisboa, Quetzal, 1987.

Nova História da Expansão Portuguesa  (direcção da obra em conjunto com Joel Serrão). Lisboa, Editorial Estampa, 1986-2006.

Vol II, A Expansão Quatrocentista.

Vol III, A Colonização Atlântica:

Tomo I:

Tomo II:

Vol. V, O Império Oriental (1660-1820), Tomo II.

Volume VI, O Império Luso-Brasileiro – 1 (1500-1620).

Volume VII, O Império Luso-Brasileiro – 2 (1620-1750).

Vol. VIII, O Império Luso-Brasileiro – 3 (1750-1822).

Vol. X, O Império Africano – 2 (1825-1890).

Vol XI: O Império Africano – 3 (1890-1930).

História dos Portugueses no Extremo Oriente  (direcção da obra). 6 Vols., Lisboa

A Primeira República Portuguesa: Alguns aspectos estruturais. Lisboa, Livros Horizonte, 3.ª ed., 1980 (1.ª ed. 1971).

Afonso Costa. Lisboa, Editora Arcádia, 1972.

Bernardino Machado  (com a colaboração de Fernando Marques da Costa). Lisboa, Montanha, 1978.

Guia da Primeira República Portuguesa. Lisboa, Editorial Estampa, 1997 (1.ª ed. 1981).

Correspondência política de Afonso Costa: 1896-1910 (organização, prefácio e notas). Lisboa, Editorial Estampa, 1982.

Ensaios de História da I República Portuguesa. Lisboa, Livros Horizonte, 1988.

A Primeira Legislatura do Estado Novo  (organização, prefácio e notas). Mem Martins, Publicações Europa-América, 1973.

O General Sousa Dias e as Revoltas Contra a Ditadura (1926-1931)  (com a colaboração de A. Sousa Dias). Lisboa, Publicações D. Quixote, 1975.

A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo. Lisboa: D. Quixote, 1975.

Figurinos Maçónicos Oitocentistas: Um «Guia» de 1841-42  (Apresentação, introdução e anotações). Lisboa: Editorial Estampa, 1983.

Dicionário da Maçonaria Portuguesa. 2 Vols., Lisboa: Editorial Delta, 1986.

Ensaios de Maçonaria. Lisboa: Quetzal, 1989.

História da Maçonaria em Portugal. 3 Vols., Lisboa: Editorial Presença:

Vol. I: Das Origens ao Triunfo, 1990;

Vol. II, Política e Maçonaria: 1820-1869 (1.ª parte), 1996;

Vol. III, Política e Maçonaria: 1820-1869 (2.ª parte), 1997.

Antologia da Historiografia Portuguesa  (Organização, prefácio e notas). Mem Martins, Publicações Europa-América, 2.ª ed:

Vol. I: Das Origens a Herculano, 1974.

Vol. II: De Herculano aos Nossos Dias, 1975.

Para a História dos seguros em Portugal: notas e documentos. Lisboa, Arcádia, 1977.

Álbum de Paleografia  (com João José Alves Dias e Teresa F. Rodrigues). Lisboa, Editorial Estampa, 1987.

Ensaios de Historiografia Portuguesa. Lisboa, Palas Editores, 1988.

Colaboração muito significativa no Dicionário de História de Portugal dirigido por Joel Serrão.

Bibliografia passiva

COELHO, Maria Helena da Cruz. A. H. de, “Oliveira Marques, the Historian’s Legacy”, E.-Lournal of Portuguese History, V. 5, N. 2, Porto, 2007

  1. AA. A. H. de Oliveira Marques (1933-2007): 50 anos de historiador. Biblioteca Nacional de Portugal, Exposição Bibliográfica: 21 de junho a 14 de setembro de 2007.