FIDELINO DE FIGUEIREDO

(20/07/1888 – 20/03/1967)

 

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1921

País

Portugal

Data e local de nascimento

Lisboa, 20 de Julho de 1888

Formação e acção

É já na sua infância que Fidelino revela a sua sensibilidade e predisposição para ser um natural “coleccionador de angústias”. Foi criado por uma ama e pelo seu marido até aos 8 anos, aspecto que o marcou profundamente e que relata nas suas autobiografias.

O seu espírito livre e crítico cedo o fez afastar de qualquer tipo de partidarismo, sectarismo político, bem como da religião praticada institucionalmente. Da religião guardou mais na memória o culto místico à Rainha Santa que a sua mãe praticava do que o formalismo institucional de seu pai quando ia à missa mais por obrigação.

Estudou no Liceu Central de Lisboa no Largo do Carmo. Licenciou-se em Ciências Histórico-Geográficas na Faculdade de Letras, em 1910. Dedicou-se inicialmente ao ensino, primeiramente liceal e depois superior e à vida política no período instável que se seguiu à implantação da República. Teve vários cargos públicos: foi deputado no Sinodismo, exerceu funções no Ministério da Educação e foi Director da Biblioteca Nacional.

Envolveu-se politicamente com o consulado de Sidónio Pais, e depois em 1927, no chamado golpe dos Fifis, movimento de oposição ao governo saído da revolução de 28 de Maio de 1926 –facto que esteve na origem da sua deportação para Angola e  consequente exílio de 2 anos em Espanha. Foi durante esse período Professor de Literatura Portuguesa na Universidade Central de Madrid.

Regressou a Portugal e nos anos 30 celebrizou-se nas actividades de conferencista e professor convidado de Literatura em várias universidades europeias e norte-americanas. Esteve nos Estados Unidos, no México e no Brasil. Neste último ficará por cerca de 13 anos, criando fortes raízes e relações intelectuais. A principal actividade aí desempenhada será a docência como tutelar da cátedra de estudos portugueses, onde deixará vários ilustres seguidores.

Devido a uma doença crónica e degenerativa neuro-muscular regressa a Lisboa em 1951 onde residirá até à sua morte.

Actividade desenvolvida

Fidelino de Figueiredo foi professor, historiador, hispanista, crítico literário, intelectual e filósofo.

Deixou uma vastíssima obra, nos campos dos Estudos Literários, da Crítica Literária e do Ensaio, da História e da Literatura Comparada e da Teoria Literária e a Literatura Portuguesa (de onde podemos destacar os seus estudos dedicados à épica camoniana). Contribuiu fortemente para a modernização teórico-metodológica destas disciplinas.

Foi pioneiro na nova área da Literatura Comparada em Portugal. No campo filosófico dedicou-se a uma consistente reflexão ensaística de cariz filosófico e existencial, mais desenvolvida no final da sua vida.

Fundou e dirigiu a Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos e a Revista de História entre 1912-e 1928. Colaborou ainda nas Revistas Portugália entre 1925 e 1926,  Feira da Ladra  (1929-1943) e Anais das Bibliotecas, arquivo e museus municipais (1931-1936).

Data e local de falecimento

20 de Março de 1967, Lisboa

Lema e linha filosófica

A sua linha filosófica é essencialmente definida na obra “O Medo da História”. Com uma concepção liberal defende o papel central da Instituição. Podemos também considerar que o seu lema é o humanismo, já que a sua obra é marcada por um esforço de considerar e compreender o “homem total” em todas as suas dimensões, nomeadamente a existencial, a contingente e a concreta. Foi também exímio hispanista como bem testemunha a sua obra “As duas Espanhas”.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

A sua obra pode dividir-se em dois grandes blocos: as obras de cunho literário e as de pendor filosófico.

Recebeu uma forte influência da filosofia de Unamuno, em parte facilitada pelo exílio forçado em Madrid entre 1927 e 29, estabelecendo com este uma ampla correspondência. O seu existencialismo apesar de não se abrir à esperança na imortalidade como em Unamuno. A sua filosofia remete para a percepção do fenómeno humano como existencial, numa angústia estruturante e consciente da sua finitude, naquilo que podemos encontrar um certo Estoicismo Lusitano e não uma resignação: “O Homem de Fidelino não é revoltado, embora padeça de um certo mal estar uma vez que se encontra «oprimido entre dois universos, o atómico ou infinitamente pequeno e o cósmico ou infinitamente grande. (Entre Dois Universos).”[1]

Revela também alguma simpatia com o Pragmatismo de John Dewey, autor com o qual se correspondeu. Defensor de um saber empírico e crítico da especulação abstracta, afirmará que fora da experiência não há salvação possível.

A sua abordagem filosófica será profundamente marcado pelo pensamento de Antero de Quental, sobretudo a problemática da morte, tema que a partir da década de 40 irá aprofundar. Para esta motivação poderão ter contribuído a amarga consciência da sua doença e a perda de uma filha em São Paulo.

Ainda do ponto de vista filosófico podemos dizer que Fidelino se afasta do Positivismo dogmático, do determinismo mecanicista e do eruditismo estéril, os quais substitui com a intuição, a emoção e o existencialismo. É leitor e admirador da estética de Benedetto Croce, de quem traduziu e prefaciou em 1914 o Breviário de Estética, e representou em Portugal essencialmente um espírito inovador e pioneiro no campo dos estudos Literários.

Uma Filosofia da Literatura faz-se sentir ainda nos seus pensamentos acerca dos limites da linguagem humana. Aqui uma vez mais o existencialismo adverte para a finitude e angústia de uma linguagem que jamais pode expressar o universal, mas apenas de cada vez a experiência humana na sua subjectividade. Uma expressão universal e absoluta será apenas possível à Música, por isso Fidelino afirma (em Música e Pensamento) com Beethoven que “a Música é uma revelação mais alta que a Filosofia”.

Bibliografia activa

O Espírito Histórico, Lisboa, Typ. da Cooperativa Militar, 1910;

A Crítica Literária como Ciência, Porto, Typ. da Empresa Litteraria e Typographica, 1912,

História da Literatura Romântica, Lisboa, Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira, 1913;

História da Literatura Realista, Lisboa, Clássica Editora, 1914;

Características da Literatura Portuguesa, Lisboa, Clássica, 1915;

História da Literatura Clássica, 3 vols., Lisboa, Livraria Clássica Editora- Portugália, 1917-24;

Estudos de Literatura, 5 vols., Lisboa, Clássica, 1917-51,

História da Literatura Portuguesa, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1918,

Epicurismos, Lisboa, Empresa Literária Fluminense, 1922;

A Torre de Babel, 1924;

Sob a cinza do Tédio, Lisboa, Empresa Literária Fluminense, 1925;

História dum «Vencido da Vida», Lisboa, Parceria António Maria Pereira,

1930;

A Épica Portuguesa no Séc. XVI, Gaia: Pátria, 1932;

O Dever dos Intelectuais, Porto: Lello & Irmão, 1936; As Duas Espanhas, 1932;

Depois de Eça de Queirós, Coimbra, Imprensa da Universidade,1933;

Pyrene, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1935;

Aristarchos, São Paulo, Departamento Municipal de Cultura,1939;

Últimas Aventuras, Rio de Janeiro, Emp. A Noite,1941; Antero, São Paulo,

Gráfica da Prefeitura), 1942;

Cultura Intervalar, Coimbra, Nobel,1944;

História Literária de Portugal, Coimbra, Nobel, 1944;

A Luta Pela Expressão, Coimbra, Nobel, 1944;

Um Pobre Homem da Póvoa do Varzim, Lisboa, Portugália, 1945;

Um Coleccionador de Angústias, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1951;

Música e Pensamento, Lisboa, Guimarães Editores, 1954;

O Medo da História, La Habana, 1955;

Um Homem na sua Humanidade, Lisboa, Guimarães Editores, 1956;

Diálogo ao Espelho, Lisboa, Guimarães Editores,1957;

Entre Dois Universos, Lisboa, Guimarães Editores, 1959;

Símbolos e Mitos, Lisboa, Europa-América, 1964;

Ideias de Paz, Lisboa, Portugália, 1966;

Paixão e Ressurreição do Homem, Lisboa, Portugália, 1967.

Bibliografia passiva

CARNEIRO, Mário, “Fidelino de Figueiredo”, in Pedro Calafate (dir.) História do Pensamento Filosófico Português, vol. V (O Século XX), Tomo 1, Lisboa, Caminho,2000, pp. 402-424.

GARCÍA MOREJÓN, Júlio – Dos Coleccionadores de Angustias (Unamuno e Fidelino de Figueiredo), São Paulo, Fac. de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, 1967.

MARTINS, José Cândido de Oliveira, Fidelino de Figueiredo e a Crítica da Teoria Literária Positivista, Lisboa, Edições Instituto Piaget, 2007

OLIVEIRA, António Braz de (coord.), Fidelino de Figueiredo, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1989;

PEREIRA, Carlos Assis (Org.) – Ideário Crítico de Fidelino de Figueiredo, São Paulo, Universidade de São Paulo, 1962.

QUADROS, António, Figueiredo, Fidelino de, in Logos- Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa: Verbo, 1999, pp. 559- 563

REGO, Maria José de Figueiroa, “Figueiredo, Fidelino de” in Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa, Lisboa: Círculo de Leitores, 2016

[1] Maria José de Figueiroa Rego, “Figueiredo, Fidelino de” in Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa, Lisboa: Círculo de Leitores, 2016, p. 103