LIMA DE FREITAS

(22/06/1927 – 05/10/1998)

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1957 – (Movimento de Cultura Portuguesa)

País

Portugal

Data e local de nascimento

Setúbal, 22 de junho de 1927

Formação e acção

Lima de Freitas nasce em Setúbal. A sua família muda-se para Évora onde frequenta o liceu Garcia de Resende. Em 1945 concluí o curso liceal e faz exame de admissão à Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde estuda Arquitetura.

Em 1946 começa a fazer exposições individuais.

Trava conhecimento e torna-se amigo de importantes vultos da cultura portuguesa como Vergílio Ferreira, Ernesto de Sousa, Mário Cesariny, Alexandre O’Neill, Teixeira de Pascoaes, Natália Correia e tantos outros que o admiram e reconhecem o seu génio.

Foi Pintor, ilustrador, desenhador, professor, investigador. Viveu em Paris entre 1954 e 1959 e trabalhou para editoras norte-americanas; ilustrou romances de J. Conrad (Nova Iorque), Afonso Schmidt (Varsóvia) e inúmeros contos em revistas francesas, alemãs, espanholas, brasileiras.

Em Portugal destacam-se por exemplo as suas ilustrações para Os Lusíadas e para a Lírica de Luís de Camões.

Actividade desenvolvida

Se Inicialmente aderiu ao Neo-Realismo, onde teve um importante papel tanto como artista, como teórico, esta adesão não tardará a evoluir ao longo da década seguinte para um estilo totalmente divergente: uma pintura espiritual, simbólica visionária e esotérica, ou antes, um Realismo Fantástico.

O seu percurso artístico teve início nos anos 40. A partir dos anos 50, sai do país. Em 1956 fixa-se em Paris, onde permanece durante oito anos. Em 1964 muda-se para a cidade de Aarhus na Dinamarca. Regressa a Portugal em 1965, onde permanece e desenvolve trabalhos relacionados com as raízes míticas e simbólicas portuguesas. Em 1967 Lima de Freitas conhece pessoalmente Almada Negreiros.

Podem assinalar-se três fases principais da sua produção artística: a neorrealista, a surrealista-expressionista e a do realismo fantástico a partir dos anos 70 onde a sua pintura se vai tornando cada vez mais simbólica e esotérica. Em especial nos anos 80 irá produzir uma série de obras que denominou Mitolusismos, onde desenvolveu a temática dos mitos nacionais que teve grande impacto no pensamento e obra artística de Lima de Freitas, como o próprio Gilbert Durand afirmará: a esta fase corresponde a sua plena maestria e maturidade enquanto pintor (AA. VV, 1998, p. 132). Aqui Freitas propõe revisitar os mitos lusitanos enquanto mitos fundadores e por isso essenciais da consciência tanto colectiva como individual.

Ocupou os cargos de Diretor-Geral da Acção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura. Foi o primeiro Director e Professor no IADE, de 1969 a 1972. Foi Presidente da Comissão Instaladora do Teatro Nacional D. Maria II, que reabriu as portas ao público em Maio de 1978, após longos anos de encerramento.

Recebeu múltiplas homenagens: a Câmara Municipal de Setúbal condecorou-o com a Medalha de Honra da Cidade. O Governo Francês atribuiu-lhe a “Chevalier et Officier de L’Ordre du Mérite”. Recebeu o título de comendador da Ordem de Santiago.

Para além dos textos publicados em jornais, revistas ou catálogos de exposições, publicou títulos como Pintura incómoda (1965), Almada e o número  (1977) e Imagens da imagem  (1977).

Foi um respeitável Mestre da Maçonaria. A atividade artística de Lima de Freitas que decorreu entre os anos 40 e 90, foi muito profícua, extensa e diversificada foi, de certa maneira, sistematizada pelo próprio no volume “Lima de Freitas 50 anos de pintura” (Lisboa: 1998), publicado pouco antes do seu falecimento.

Data e local de falecimento

05 De Outubro de 1998 (71 anos), Lisboa.

Lema e linha filosófica

Neo-Realismo, Realismo Fantástico, Mitolusismo, Pintura Esotérica e Simbólica

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Lima de Freitas, para além de artista plástico, desenvolveu um conjunto de textos escritos sobre vários temas, nomeadamente sobre arte, geometria, mitos, símbolos, etc., para além disso a sua pintura engloba uma dimensão intelectual, espiritual, mítica e simbólica inegável.

As suas reflexões artísticas prendem-se com as suas preocupações enquanto artista. Assume uma posição crítica, umas vezes a favor, outras vezes contra, em relação a correntes artísticas nomeadamente aquelas que acompanharam a sua vida produtiva: o modernismo e o surrealismo.

Freitas foi amigo de Gilbert Durandt (1921-2012), académico do imaginário e mitologia, tendo ambos trocado múltiplas considerações sobre a obra um do outro e acerca dos grandes temas estéticos. Ambos consideram, por exemplo, que a evolução do modernismo irá desembocar na valorização da pura abstracção, que é quebrada por sua vez a partir do Surrealismo e a sua revalorização da figura que não é mais do que um voltar nostálgico ao real, na opinião de Freitas e de Durandt.

A dimensão teórica e prática da sua obra complementam-se. Sobre este assunto Lima de Freitas refere o seguinte: “Foi a pintura que exigiu um questionamento geral, …, mas não se pode esquecer que foi o questionamento de ordem muito mais geral que exigiu a pintura (ou a pesquisa plástica). (…) Numa era de fragmentação, de amnésia, desmembramentos labirínticos e de furores redutivos, a via mais promissora será a de não se fixar substantivamente numa identidade fixa (pintor, ensaísta, eleitor, pai, emigrante, etc.) que limita a liberdade de descobrir (de descobrir-me)” (Freitas, 2005, p. 28).

Como escritor podemos identificar a sua primeira actividade no âmbito da crítica de arte. A sua especulação estética irá muito mais além e com o passar do tempo Freitas dedicar-se à ao estudo da geometria, dos símbolos e arquétipos. Como principais publicações podemos apontar “Pintura Incómoda” (1965), “O Labirinto” (1975), “Almada e o Número” (1977) e “Imaginações da Imagem” (1977).

É reconhecido como um autor polivalente, constituindo uma referência nacional e internacional nas áreas da pintura e da ilustração, no estudo dos números e da geometria sagrada (na esteira de Almada Negreiros), na reflexão filosófica e artística, na revalorização dos mitos e dos símbolos, bem como na concretização de peças para a numismática, para a filatelia e também para a cerâmica. O seu trabalho continua a inspirar o olhar atento das pessoas que observam a sua arte em livros, em museus, em coleções particulares ou em edifícios públicos, entre outros.

Bibliografia activa

(obras publicadas pelo autor)

FREITAS, Lima de. Pintura Incómoda. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 1965

FREITAS, Lima de. A Voz Visível: ensaios. Lisboa: Edição de Autor.1971

FREITAS, Lima de. O Labirinto. Lisboa: Editora Arcádia S.A.R.L., 1975

FREITAS, Lima de. Almada e o Número. Lisboa: Editora Arcádia S.A.R.L., 1977; Almada e o Número. 2ªed. Lisboa: Editora Soctip, 1990

FREITAS, Lima de, As Imaginações da Imagem. Lisboa: Editora Arcádia S.A.R.L. 1977

FREITAS, Lima de e PEREIRA, Fernando António Baptista (org.). Lima de Freitas: retrospectiva 1946-1984. Setúbal: Minerva do Comércio. 1984

FREITAS, Lima de, Uma Lisboa Imaginal. Lisboa: Ed. Soctip.1986

FREITAS, Lima de. “Mitolusismos”. In Mitolvsismos de Lima de Freitas. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1987, pp. 125-128.

FREITAS, Lima de. Pintar o Sete: ensaios sobre Almada Negreiros, o Pitagorismo e a Geometria Sagrada. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa de Moeda. 1990

FREITAS, Lima de. Le lieu du miroir. Art et numérologie. Paris: Albin Michel. 1993

FREITAS, Lima de. Mitos e Figuras Lendárias de Lisboa. Os azulejos de Lima de Freitas na estação dos caminhos de ferro do Rossio. Lisboa: Hugin Editores. 1997

FREITAS, Lima de. “Retratos”. In Lima de Freitas 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin Editores. 1998

FREITAS, Lima de. “A cidade e o labirinto dos sonhos”. In Do mundo da imaginação à imaginação do mundo. Lisboa: Fim de Século. 1999

FREITAS, Lima de. 515 O Lugar do Espelho – Arte e Numerologia . Lisboa: Hugin Editores, Lda. (com prefácio de Gilbert Durand). 2003

FREITAS, Lima de. Um caminho secreto: Ensaios inéditos, Fernandes, Maria João (Org.). Lisboa: Hugin Editores, Lda. 2005

FREITAS, Lima de. Porto do Graal: a riqueza oculta da da tradição mítico- espiritual portuguesa. Lisboa: Esquilo Edições e Multimédia, Lda. 2006

Bibliografia passiva

  1. VV. Lima de Freitas 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin Editores, Lda. 1998

BOYER, Rémi. “Lima de Freitas, peintre, hermétiste et franc-maçon”. In Les Cahiers de l’A illeurs, n .º1, s/l, septembre , 2012, pp. 35-53.

DIAS, Mariana Tavares. “No Mundo das Artes Plásticas com… Lima de Freitas”. In Dimensão revista de actualidades moda & móveis. N.º 11. Fevereiro-Março, 1985, pp. 44-49.

DURAND, Gilbert, Mitolusismos de Lima de Freitas. Lisboa: Perspectivas & Realidades. 1987

DURAND, Gilbert. Imagens e Reflexos do Imaginário Português. Lisboa: Hugin Editores, Lda. 2000

DURAND, Gilbert “José Lima de Freitas, un peintre et une pensée. In Sigila n.º7, Paris: Primavera-Verão, 2001, p. 22.

DURAND, Gilbert. Portugal Tesouro Oculto da Europa. Lisboa: Esquilo Edições. 2008

FERNANDES, Maria João. Retrospectiva do Museu de Setúbal, Junho / Agosto 1984. In Jornal de letras, Artes e Ideias 7-13 Agosto 1984.

FERNANDES, Maria João. “Lima de Freitas um caminho secreto”. In Galeria de Arte, n.º 8. Ano IV, 1998, pp.6-10.

PEREIRA, Fernando António Baptista. “Os Tempos do Pintor”. In Lima de Freitas 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin Editores, Lda. 1998

POSSOLO, Luísa. ”A Arte Analógica de Lima de Freitas”. In Lima de Freitas 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin Editores, Lda. 1998

QUADROS, António. “Os paradigmas perdidos e reinventados na pintura de Lima de Freitas”. In Lima de Freitas: 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin, 1998

QUADROS, António. “Profetas, Anjos e Demónios”. In Lima de Freitas: 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin, 1998

ROCHA, Lígia Maria Fernandes da. Lima de Freitas: O Simbólico da Obra Pública – contributos para uma estética educacional, UMinho: Tese de Doutoramento em Ciências da Educação Especialidade em Filosofia da Educação, 2014

SOBRAL, José Braamcamp. “Palavras Prévias”. In Mitos e Figuras Lendárias de Lisboa. Os azulejos de Lima de Freitas na estação dos caminhos-de-ferro do Rossio. Lisboa: Hugin Editores. 1997

SOUSA, Ernesto de. “Um Artista Intimo do Romantismo”. In Lima de Freitas 50 anos de pintura. Lisboa: Hugin Editores, Lda, 1998