TEIXEIRA DE PASCOAES

(1877- 1952)

Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1912

País

Portugal

Data e local de nascimento

Amarante, 2 de Novembro de 1877

Formação e acção

Teixeira de Pascoaes é o nome adoptado pelo escritor Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcellos, a partir da designação do solar, em Gatão, de que era proprietária a sua abastada família.

Após realizar os estudos primários, iniciados em 1883, foi aluno do ensino secundário no Liceu Nacional de Amarante, tendo, desde muito novo segundo todos os testemunhos, revelado uma personalidade extraordinariamente sensível, quer na sua profunda ligação com a paisagem natural da região em que nasceu, quer na sua meditação poética, entre filosófica e mística, acerca do mundo e da vida.

Exceptuando os anos de formação universitária em Coimbra (de 1896 a 1901) e aqueles em que exerceu advocacia no Porto (de 1906 a 1911), Teixeira de Pascoaes viveu na sua atmosfera natal, que tem presença evidente em muitos dos seus textos, tanto em poesia, como em prosa.

No lirismo de Sempre (1898) estão já patentes os caracteres de uma obra que é um hino à emoção e que, em dada altura, se dedica a definir Portugal, a partir de uma concepção ontológica que confere ao ser humano e às coisas uma condição transcendental. São os poetas os mais capazes de detectar essa condição, convertendo-se em lugar de revelação, sob a forma de fulgurações e de contradições, do mistério do ser. Por isso e uma vez que considera o génio do povo português acima de tudo poético, Teixeira de Pascoaes proclama o papel redentor da Pátria, através de uma missão que passa pela educação nacional, mas serve um desenvolvimento universal.

Actividade desenvolvida

O pensamento de Pascoaes é singular pela forma como mobiliza e exprime os seus anseios de intimidade com todo o cosmos e com um fundo do ser, numa constante atitude de escuta à mágoa da finitude e ao afã de plenitude que palpitam na saudade. Na vivência saudosa, seja individual, seja colectiva, a lembrança de uma plenitude originária é a outra face do desejo ou da esperança de um regresso ao divino, às raízes que permitem renascer e elevar-se espiritualmente. Assim se compreende a proposta de Pascoaes enquanto mentor do movimento Renascença Portuguesa e Director da revista que se tornaria seu órgão literário, «A Águia», na qual expôs a sua visão sobre os propósitos que deveriam servir de critério à República recém-instaurada e carente de um ressurgimento da alma pátria. A criação de uma vida nova e “vida própria e bela, independente”, como preconizou na conferência O Espírito Lusitano ou o Saudosismo (1912), é, ao mesmo tempo, um desígnio para Portugal e, por seu intermédio, para o Mundo do Espírito, porquanto a alma lusíada, que levou já pelos feitos dos navegadores a expandir o mundo material, pode dar frutos espirituais que configurem as suas novas Descobertas, segundo um ideal que permite basear na Renascença Portuguesa o advento da Era Lusíada.

Data e local de falecimento

14 de Dezembro de 1952, Amarante

Lema e linha filosófica

A Saudade, esse misto de lembrança e desejo que segundo Pascoaes define a essência do génio português, é, com todas as antinomias que se lhe associam, a grande marca da sua obra, em qualquer dos géneros em que publicou.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Ao enunciar as suas crenças radicais no poder de criação e espiritualidade dos portugueses, evocando a Saudade como marca paradigmática da realidade pátria, Teixeira de Pascoaes sustenta um patriotismo que, visando uma plenitude antropológica e ontológica, abarca, afinal, a universalidade e um sentido de transcendência, em que não só há lugar para o sonho, como há permanente necessidade dele. Se, numa perspectiva, se trata de um sonho de portugalidade, não deixa de ser, noutra perspectiva, um sonho de  triunfo do Espírito, quando o amor sagrado puder actuar, ele que, como se afiança em O regresso ao Paraíso (1912), “(…) destrói /  as distâncias e o tempo, colocando / as almas sob a luz da mesma estrela.”

Em poesia ou em prosa, o discurso poético-filosófico de Teixeira de Pascoaes irmana-o de autores, como Antero de Quental ou Fernando Pessoa, de entre os portugueses, e de Miguel de Unamuno, cujo quixotismo é outra expressão das mesmas sombras que permitem profetizar a realidade essencial apenas acessível em experiências doloridas e saudosas. No entanto, não é menos verdade, que no período mais maduro da produção do Autor, a que já pertence O Homem Universal (1937), há também lugar para outras leituras ontológicas, em que Teixeira de Pascoaes se mostra mais moderno e a sua literatura permite, como se pode comprovar, por exemplo,  em Santo Agostinho (1945), que nos confrontemos com a incerteza das coisas e a indeterminação de Deus.

A autenticidade e o carácter intrincado de um tal pensamento não deveriam obstar à compreensão da sua relevância cultural, em particular para um povo que carece muito de se conhecer e de se afirmar, mas cede demasiado ao espírito simiesco ou da imitação denunciado pelo próprio Pascoaes em Arte de Ser Português (1915).

Bibliografia activa

Obras completas de Teixeira de Pascoaes: poesia. Vol. I a Vol. VI. Pref. de Jacinto do Prado Coelho. Amadora: Bertrand, [195?-1956].

Obras completas de Teixeira de Pascoaes: prosa. Vol. VII a Vol. XI. Pref. de Jacinto do Prado Coelho. Amadora: Bertrand, [imp. 1973-1975].

PASCOAES, Teixeira de – A saudade e o Saudosismo (dispersos e opúsculos). Lisboa: Assírio & Alvim, 1988.

O homem universal e outros escritos. Lisboa: Assírio & Alvim, 1993.

Arte de ser português. 3ª ed. Lisboa: Roger Delraux, 1978.

Epistolário Ibérico: cartas de Pascoaes e Unamuno. Lisboa: Assírio & Alvim, 1986.

Os poetas lusíadas. Lisboa: Assírio & Alvim, [1987].

Bibliografia passiva

AAVV – Pascoaes (No Centenário do Nascimento de Teixeira de Pascoaes). Lisboa: Imprensa Nacional ‐ Casa da Moeda, 1980.

BARATA, Gilda Nunes – A presença na ausência em Teixeira de Pascoaes e Mário Beirão, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2004.

BORGES, Paulo – O jogo do mundo: ensaios sobre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, Lisboa: Portugália Editora, 2008.

  • Princípio e manifestação: metafísica e teologia da origem em Teixeira de Pascoaes, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2008.

BATTELLI, Guido – Teixeira de Pascoaes. Coimbra: Coimbra Editora, 1953.

CAMEIRÃO, Lurdes. –Teixeira de Pascoaes e o projecto cultural da «Renascença Portuguesa», Bragança: Instituto Politécnico, 2000.

CASULO, José Carlos de Oliveira – Filosofia da educação em Teixeira de Pascoaes, Braga: Universidade do Minho, 1997.

Teixeira de Pascoaes: 1877-1952 vida, obra e pensamento, Porto: Estratégias Criativas, 2004.

COUTINHO, Jorge Peixoto – O pensamento de Teixeira de Pascoaes: estudo hermenêutico e crítico, Braga: Faculdade de Filosofia de Braga – Universidade Católica, 1995 [imp. 1996].

DIAS, J. M. de Barros – Miguel de Unamuno e Teixeira de Pascoaes. Compromissos Plenos para a Educação dos Povos Peninsulares. 2 Vols. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002.

DIONÍSIO, Sant’Anna – O Poeta, essa Ave Metafísica. Lisboa: Seara Nova, 1953.

FERREIRA, António Mega – Fotobiografia, Teixeira de Pascoaes. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003.

FRANCO, António Cândido – Transformações da saudade em Teixeira de Pascoaes. Amarante: Tâmega, 1994.

O saudosismo de Teixeira de Pascoaes. Amarante: Edições Tâmega, 1996.

A literatura de Teixeira de Pascoaes: romance de uma obra. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2000.

Teixeira de Pascoaes nas Palavras do Surrealismo em Português. Pascoaes, Cesariny, Cruzeiro Seixas, e outros. Évora: Licorne, 2010.

GARCIA, Mário – Teixeira de Pascoaes: Contribuição para o Estudo da sua Personalidade e para a Leitura Crítica da sua Obra. Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia, 1976.

MARGARIDO, Alfredo – Teixeira de Pascoaes. Lisboa: Arcádia, 1961.

MORÃO, Paula; SÁ, Maria das Graças Moreira de – Encontro com Teixeira de Pascoaes: no cinquentenário da sua morte: actas. Lisboa: Edições Colibri, 2004.

PATRÍCIO, Manuel Ferreira – O messianismo de Teixeira de Pascoaes e a educação dos portugueses.  Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1996.

SÁ, Maria das Graças Moreira de ­– O essencial sobre Teixeira de Pascoaes. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1999.

SAMUEL, Paulo – Teixeira de Pascoaes na revista «A Águia». Porto: Caixotim, 2004.

SOARES, Maria Luísa Castro – Nas encruzilhadas do século XX: António Sardinha e Teixeira de Pascoaes. Vila Real: CEL – UTAD, 2007.

Profetismo e Espiritualidade – de Camões a Pascoaes. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007.

VASCONCELLOS, Maria da Glória Teixeira de – Olhando para trás vejo Pascoaes.  Lisboa: Assírio & Alvim, 1996.

VASCONCELOS, Maria José Teixeira de – Na sombra de Pascoaes: Fotobiografia. Lisboa: Vega, 1993.