(28/01/1916 – 01/03/1996)
Autoria: Teresa Lousa
Horizonte geracional
1937, GERAÇÃO DE NOVO CANCIONEIRO / NEO-REALISMO
País
PORTUGAL
Data e local de nascimento
Melo, Gouveia, 28 de Janeiro de 1916
Formação e acção
Vergílio Ferreira nasceu em Melo, no concelho de Gouveia, teve uma infância peculiar, vivida com intensa dor que lhe terá provocado a partida de seus pais para a América como emigrantes. Este e os irmãos mais novos ficam ao cuidado da avó e das tias Eulália e Joaquina. Completa o ensino primário na antiga escola masculina de Melo e aos 12 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no Seminário Menor do Fundão que frequentará durante seis anos. Esta experiência que lhe causou muito sofrimento será o tema nuclear de Manhã Submersa.
Em 1932 abandona o Seminário e em 33 entra no Liceu Afonso de Albuquerque da Guarda. Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra para o Curso de Filologia Clássica, continuando a dedicar-se à poesia. Em 1939, escreve o seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. Conclui a licenciatura em Filologia Clássica em 1940. Faz o estágio como professor no Liceu D. João III, em Coimbra e em 42 começa a dar aulas em Faro. Publica o artigo “Teria Camões Lido Platão?” na Biblos. Em 44 começa a leccionar em Bragança.
Em 46 casa, em Évora, com Regina Kasprzykowski, professora de Educação Visual de ascendência polaca. Entre muitos romances e ensaios publica a Manhã Submersa em 54 e a Aparição em 59, ano em que começa a dar aulas no Liceu Camões em Lisboa.
Actividade desenvolvida
Foi Professor de Português e de Latim em diversas escolas do país. A 3 de Setembro de 1979 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Em 1980, vê adaptado para o cinema, o romance Manhã Submersa onde o próprio Vergílio Ferreira interpretará um dos principais papéis, o de Reitor do Seminário.
Em 1991pelo conjunto da sua obra literária é-lhe atribuído, em Bruxelas, o Prémio Europália. Em 1992 foi eleito para a Academia das Ciências de Lisboa, no mesmo ano recebeu, pelo conjunto da obra, o “Prémio Camões”, o mais importante prémio literário dos países da língua portuguesa. Ganhou o Prémio Femina em França com o romance “Manhã Submersa” e também por duas vezes o Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores. É-lhe atribuído o Doutoramento Honoris Causa atribuído pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Vergílio Ferreira morreu no dia 1 de março de 1996, em sua casa, em Lisboa. O funeral foi realizado, segundo a sua vontade, na sua terra natal, no Cemitério de Nabainhos – Melo.
Data e local de falecimento
1 de Março de 1996, Lisboa
Lema e linha filosófica
Se de início o seu pensamento se inspirou no Neo-Realismo, cedo começou a pender para um pensamento antropológico assente na importância do conceito de “cultura”, que culminaria no existencialismo, tendência que revela desde cedo nos seus textos e romances.
Vergílio Ferreira é um humanista de raiz existencialista, sendo mesmo o próprio a destacar o humanismo e “a possibilidade de fundar em dignidade e plenitude a vida do homem[1]” como sendo “o grande tema” da sua produção teórica.
Linha filosófica e caracterização geral da obra
Em Vergílio Ferreira convergem o ensaísta e o filósofo. A literatura foi a experiência artística que o destino lhe reservou, não como uma escolha mas sim de um dom, como uma vocação.
O seu posicionamento filosófico pode dividir-se em duas fases cronológicas: uma primeira, mais virada para o tangencial e a consciência do real e uma segunda onde domina a problemática existencialista, como o próprio argumenta “Do interesse «colectivo» não passei (…) para um interesse «individual», mas, para, digamos, um «colectivo» de outra ordem: o «homem» ”.[2]
O seu pensamento filosófico será mais fortemente marcado pelo existencialismo. Aqui as suas principais fontes são: Sartre, Camus, Heidegger, Malraux, e Jaspers, bem como o português Raul Brandão.
Vergílio Ferreira define «o Existencialismo como a corrente de pensamento que, regressada ao existente humano, a ele privilegia e dele parte para todo o ulterior questionar»[3]
A sua concepção de existencialismo remete para a reflexão acerca da efemeridade da vida humana ao estilo heideggeriano como «ser para-a-morte», mas não abdica de um aspecto tendencialmente cristão que parece ser influência de Jaspers. É ainda Malraux (do qual afirma ser o único escritor profético deste século[4]) que ecoa na sua angústia asfixiante como se pode sentir no caso de Em nome da Terra ou Até ao Fim.
A sua posição do privilegia uma concepção da existência a partir da consciência do concreto e da finitude. É a partir da realidade concreta que procura colocar as suas interrogações filosóficas e não num plano divino ou do além. O insondável está aqui na existência humana tangível. A este respeito afirma Paulo Borges com grande acuidade: “Vergílio Ferreira, que assume como domínio do homem exactamente o do desconhecido, o das «sombras», o do «insondável», ou seja, o da não dominação, o indomesticável, o «além de si sem limite (…)”[5].
Bibliografia activa
O Caminho Fica Longe, 1943;
Onde Tudo Foi Morrendo, 1944;
Vagão J, 1946;
Mudança, 1949;
A Face Sangrenta, 1953;
Manhã Submersa, 1954;
Carta ao Futuro, 1958;
Aparição, 1959;
Cântico Final, 1960;
Da Fenomenologia a Sartre, 1962;
Introdução a O Existencialismo é um Humanismo de Jean Paul Sartre, 1962;
Estrela Polar, 1962;
Apelo da Noite, 1963;
Alegria Breve, 1965;
Do Mundo Original, 1957;
Invocação ao meu corpo, 1969;
André Malreaux — Interrogação ao Destino, 1963;
Espaço do Invisível, 4 volumes, 1965- 76- 77- 87;
Nítido Nulo, 1971;
Apenas Homens, 1972;
Rápida a Sombra, 1974;
Contos, 1976;
Signo Sinal, 1979;
Para Sempre, 1983;
Até ao Fim, 1987;
Pensar, 1992;
Conta-Corrente, cinco volumes, 1980-1988;
Em nome da Terra (1990)
Carta a Sandra, 1997 (edição póstuma)
Bibliografia passiva
BORGES, Paulo, “ Amor e Erotismo em Vergílio Ferreira”, in Vergílio Ferreira no cinquentenário de Manhã Submersa: Filosofia e Literatura, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2007
BORREGANA, António Afonso. Aparição de Vergílio Ferreira: o texto em análise 2ª ed. [S. l.]: Texto Editora, 1999
COELHO, Eduardo Prado, “Signo Sinal, ou a resistência do invisível”, em Colóquio/Letras, 54 (1980);
—, “Vergílio Ferreira um estilo de narrativa à beira do intemporal”, em Ao contrário de Penélope, Lisboa 1976;
DÉCIO, João, Vergílio Ferreira: a ficção e o ensaio, São Paulo, 1977;
FARRA, Maria Lúcia Dal, O narrador ensimesmado, São Paulo, 1978;
JÚLIO, Maria Joaquina Nobre, O Discurso de Vergílio Ferreira como Questionação de Deus, Edições Colibri, 1996;
—., Aparição de Vergílio Ferreira – Subsídios para uma Leitura, Editora Replicação, 1996
GODINHO, Helder, O universo imaginário de Vergílio Ferreira, Lisboa, 1985
—, Estudos sobre Vergílio Ferreira, Lisboa, 1982;
GORDO, António da Silva. A escrita e o espaço no romance de Vergílio Ferreira. [S.l.]: Porto Editora. 1995
GOULART, Rosa, O Romance Lírico de Vergílio Ferreira, Lisboa 1990;
LASO, José Luis G., Vergílio Ferreira — espaço simbólico e metafísico; Lisboa, 1989;
LOURENÇO, Eduardo, “Vergílio Ferreira e a Geração da Utopia”, em O Canto e o Signo. Existência e Literatura, Lisboa, 1993;
PAIVA, José Rodrigues de. Vergílio Ferreira: Para sempre, romance-síntese e última fronteira de um território ficcional. [S.l.]: Editora Universitária UFPE. 2007
PALMA-FERREIRA, João, Vergílio Ferreira. Análise Crítica e Seleção de Textos, Lisboa: 1972
—, Breve Perspectiva de la obra literária de Vergílio Ferreira, Salamanca, 1972
PAVÃO, José de Almeida Pavão, “Entre o neo-realismo e a problemática metafísica em Vergílio Ferreira”, em Arquipélago, Série Línguas e Literaturas, IX, 1987;
QUADROS, António, “Vergílio Ferreira”, em Logos-Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa-São Paulo, 1989-92;
SOUSA, José Antunes / MORUJÃO, Carlos, Vergílio Ferreira da Ficção à Filosofia, Lisboa, Universidade católica Editora, 2015
TORRES, Alexandre Pinheiro, “Entrada no universo angustiado de Vergílio Ferreira”, em Romance: o mundo em equação, Lisboa, 1967.
Web sites:
[1] Vergílio Ferreira, Um Escritor Apresenta-se, Apresentação, Prefácio e Notas de Maria da Glória Padrão, Lisboa, INCM, 1981, p. 207
[2] Vergílio Ferreira, Um Escritor Apresenta-se, apresentação, prefácio e notas de Maria da Glória Padrão, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1981, p. 100
[3] Vergílio Ferreira, Espaço do Invisível, 2, 47
[4] Vergílio Ferreira, Espaço do Invisível, 4, 286
[5] Paulo Borges, “ Amor e Erotismo em Vergílio Ferreira”, in Vergílio Ferreira no cinquentenário de Manhã Submersa: Filosofia e Literatura, Lisboa, Universidade Católica Editora, 2007, p. 347