ARTURO ARDAO

(1912 – 2003)

Autoria: Carlos A. Gomes

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 50 – FILOSOFIA IBERO-AMERICANA

País

URUGUAI

Data e local de nascimento

27 de Agosto de 1912, Lavalleja

Data e local de falecimento

22 de Setembro de 2003, Montevideo (90 anos)

Formação e acção

Eminente filósofo uruguaio, Arturo Ardao estudou na prestigiada Universidade da Republica, doutorando-se em Direito e Ciências Sociais e mais tarde interessou-se pela Filosofia, abrindo um novo campo de estudo e investigação no domínio da antropologia e da História das Ideias. Fez parte do Conselho Directivo da universidade atrás referida, e foi director do Instituto de Filosofia e ainda catedrático da Faculdade de Humanidades e Ciências.

Antes da instauração do regime militar ditatorial, foi obrigado a exilar-se na Venezuela, onde continuou o seu desempenho académico como professor na Universidade Simon Bolívar, de Caracas. Foi igualmente investigador no Centro de Estudos Latino-americanos Rómulo Gallegos. Desenvolveu estudos específicos sobre temas filosóficos latino-americanos, basicamente na área da antropologia e hermenêutica filosóficas.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Ardao foi considerado uma dos principais figuras do pensamento e da intelectualidade uruguaia do século XX.  Foi o introdutor do conceito de ‘unionismo latino-americano’, raíz do pensamento sobre a história das ideias  na América latina.  Na sua obra ‘El unionismo hispanoamericano’, Ardao expõe  numa sólida base experimental e profundidade analítica, as ideias fundamentais dos movimentos libertadores de princípio do século XIX, ou seja, a base doutrinal das suas grandes referências – Bolívar, Saint Martin e O’Higgins.

A partir de 1986, Arturo Ardao desenvolve um estudo histórico sobre a ideia geral de americanismo’, desdobrando-a nos conceitos de pan-americanismo’ e latino-americanismo’, a partir das suas origens nos EUA e em França, respectivamente. Refere e sinaliza cronologicamente o seu aparecimento em 1989 (o primeiro, ’pan-americanismo), embora o seu primeiro uso tenha sido no campo da historiografia (em 1836). Dialecticamente ambos passam a ser caracterizados no campo político-ideológico. O termo ‘latinoamericanismo’ começa a ter um uso mais profícuo para designar o sentimento de reacção defensiva face ao expansionismo norte-americano, enquanto na Europa o mesmo tende a significar uma mensagem ‘nacionalista’ contra o domínio cultural anglo-saxónico. Com efeito, este conceito pressupõe um vínculo estreito com a cultura hispano-americana de raíz latina.

Para Ardao, o conceito latino-americanismo’ é uma corrente que desencadeou um ‘americanismo’ cujo sentido continha já em estado latente, por assim dizer, os futuros sentidos de ‘pan-americanismo’ e ‘latino-americanismo’, desenvolvidos a partir de 1890. Mais tarde, por volta de 1948, o ‘pan-americanismo’ transformou-se em ‘inter-americanismo’ e foi estudado historicamente a partir de textos e discursos políticos na Europa e na América, entre 1836 e 1964. Como Ardao afirma: Pero si en el expresado sentido el panamericanismo se metamorfoseó, en otro caducó. Caducó en su significación tradicional de panismo, es decir, como doctrina o movimiento destinado a interpretar la unidad ideal del conjunto de naciones del hemisferio americano. Esa unidad ideal no existía de antemano, y el panamericanismo no logró crearla infundiéndole un espíritu que le fuera propio, porque no lo tenía. Por el contrario, sirvió cada vez más para hacer resaltar en lugar de la unidad, la dualidad.”

Para o filósofo uruguaio, toda a história do conceito, na sua significação etimológico-filosófica constituiu o ‘leitmotiv’ do pensamento crítico latino-americano. A diferença entre os conceitos radica no seu conteúdo: enquanto o hispano-americanismo constitui mais um regionalismo, o latino-americanismo foi interpretado fundamentalmente como um projecto nacionalista até finais do séc. XIX, tendo em vista um horizonte de expectativas políticas futuras. Daí que surgisse igualmente o termo unionismo’, nas suas vertentes hispano-americana e latino-americana tendo sempre em vista uma consciência independentista, ou no dizer de Ardao, a la gran comunidad patriótica y nacional llamada a desprenderse del Imperio español.” Na perspectiva de Arturo Ardao (1912-2003), expressa nomeadamente nas obras ‘Romania y América Latina’ (1991) e ‘Génesis de la idea y el nombre de América Latina’ (1980), existe uma matriz românica em toda a cultura sul-americana. A sua substância principal é a condição de uma predominância étnico-cultural de uma ‘mestiçagem’ diversificada. A bem dizer, segundo o pensador uruguaio, não existiria uma só América, mas quatro! Estas pluralidades geográficas, políticas. linguisticas e étnicas, estariam subsumidas em quatro tipos: o inglês, o francês, o espanhol e o português. E a partir destes qutro tipos, a América reduzir-se-ia a duas classes: uma América anglo-saxónica de tradição inglesa, e outra América latina, de tradição românica. Devido a este conglomerado étnico saxónico-românico, e a uma carga linguístico-física bem definidas, a América seria, pela sua própria natureza, essencialmente bipolar. A herança latina, contudo, desenvolvida por um padrão essencialmente europeu, acaba por condicionar a evolução e o desenvolvimento das tradições locais e do modus vivendi dos povos autóctones.

Ardao, tal como de resto Leopoldo Zea, considera o mundo ibero-americano como um bloco cultural essencialmente mestiço, o qual, derivado da sua pluralidade e diversidade, tem que (re)encontrar em si mesmo (e não fora dele), a sua própria identidade. Não podem existir visões redutoras eurocêntricas, mas sim um diálogo intercultural que exclua quaisquer formas de assimilação ou aculturação. Este diálogo deve ter como objectivo uma construção de uma história filosófica nova (um projecto de filosofia latino-americana) que promova uma autêntica autodeterminação cultural conjunta, ou seja, um verdadeiro discurso ibero-americano!

Em suma, a lógica paternalista da ‘descoberta’ (1492) que explicava a história como uma dialéctica de dominação sobre uma matriz étnica crioula e mestiça, deve ser substituída, quinhentos anos depois, por uma dialéctica indo-afro-americana que englobe estas três entidades como realidades activas e construtoras de uma identidade continental. Assim, a matriz crioula e mestiça deverá contar com os restantes sujeitos históricos,  se quiser refazer e reconstruír a sua própria identidade.

Bibliografia activa completa

  • Ardao, Arturo. En: Leopoldo Zea. La filosofía como compromiso de liberación. Selección y bibliografía de Liliana Weinberg de Magis y Mario Magallón. Caracas, 1991. (Biblioteca Ayacucho, 160). Prólogo de Arturo Ardao. pp. 223- 249. Existe Separata.
  • Ardao, Arturo, editor. Andrés Bello. “Philosophy of the understanding”. Washington, General Secretariat of the Organization of American States, 1984. “Introduction” by Arturo Ardao. Translated by William J. Kilgore, pp. IX-LIX.
  • Ardao, Arturo. “Artigas, bautista de la República Oriental”. Montevideo, 1994. Separata de Cuadernos de Marcha.
  • Ardao, Arturo. “La filosofía de Comte en Caracas en 1838”. Separata de Cuadernos Venezolanos de Filosofía 1 (1989): 5-17. Caracas, 1989.
  • Ardao, Arturo. La lógica de la razón y la lógica de la inteligencia. Montevideo, co-edición Biblioteca de Marcha/Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, junio 2000. Auspicia la Universidad de la República.
  • Ardao, Arturo. Lógica y metafísica en Feijóo. Montevideo, Biblioteca de Marcha/Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, Universidad de la República/Centro de Estudios Gallegos, idem, 1997.
  • Ardao, Arturo. Filosofía Pre-universitaria en el Uruguay. De la Escolástica al Socialismo Utópico.1787-1842. Montevideo, Biblioteca de Marcha/Fundación de cultura Universitaria, 1994. (Reproduce la edición de 1945 con modificaciones e incorpora el apéndice: “Socialismo utópico en la Cátedra de Economía Política”, tema que da lugar al subtítulo de esta 2ª ed.).
  • Ardao, Arturo. La tricolor revolución de enero. Recuerdos personales y documentos olvidados. Montevideo, Biblioteca de Marcha/ FCU, 1996, Ilustraciones. Carátula: Fermín Hontou. (Participación del autor en la revolución de 1935 contra la dictadura de Gabriel Terra).
  • Ardao, Arturo. Romania y América Latina. Montevideo, Biblioteca de Marcha/Universidad de la República, 1991. 2ª. ed., México, UNAM, 1993.
  • Ardao, Arturo. La inteligencia latinoamericana. Montevideo, División. Publicaciones y Ediciones/Universidad de la República, 1991.
  • Ardao, Arturo. Andrés Bello, filósofo. Caracas, Biblioteca de la Academia Nacional de Historia, No.81, 1986. Col. “Estudios, Monografías y Ensayos”.
  • Ardao, Arturo. Espacio e inteligencia. Caracas, Equinoccio (Universidad Simón Bolívar), 983.  2ª.edición, ampliada, Montevideo, Biblioteca de Marcha/F.C.U., 1993. Em “Apêndice”, pp. 159-228: “La idea del proyectil cósmico de Descartes a Fiejoo”; “Cuatro metáforas de Locke”; “La idea del cosmos en Humboldt”; “En la muerte de Bergson”; “En el centenario de Crocce”; “Russell, hombre de su tiempo”.
  • Ardao, Arturo. Génesis de la idea y el nombre de América Latina. Caracas, Coedición Centro de Estudios Latinoamericanos Rómulo Gallegos (CELARG) – Ministerio de la Secretaría de la Presidencia de la República, 1980.
  • Ardao, Arturo. Estudios latinoamericanos e historia de las ideas. Caracas, Monte Avila, Col. “Estudios”. Portada: Juan Fresán. 1978.
  • Ardao, Arturo. Etapas de la inteligencia uruguaya. Montevideo, Universidad de la República/Depto. de Publicaciones, 1971. Col. “Nuestra América”, No.10.
  • Ardao, Arturo. Rodó, su americanismo. Montevideo, Biblioteca de Marcha, 1970. Edición al cuidado de Marta Casal de Gatti. Carátula diseñada por Blankito.
  • Ardao, Arturo. Filosofía en lengua española. Montevideo, 1963.
  • Ardao, Arturo. La filosofía polémica de Feijóo. Buenos Aires, Losada, “Biblioteca Filosófica”, 1962.
  • Ardao, Arturo. Racionalismo y liberalismo en el Uruguay. Montevideo, Universidad de la República, 1962. Col. “Historia y Cultura”, 1.
  • Ardao, Arturo. Introducción a Vaz Ferreira. Montevideo, 1961.
  • Ardao, Arturo Batlle y Ordóñez y el positivismo filosófico. Montevideo, 1951.
  • Ardao, Arturo. Espiritualismo y positivismo en el Uruguay. México F.C.E., 1950. 2ª.ed. Montevideo, Depto. de publicaciones de la Universidad de la República, 1968. 302 pp. Col. “Historia y Cultura”, No.10.
  • Ardao, Arturo. La Universidad de Montevideo. Su evolución histórica. Montevideo, Universidad de la República, 1950. Apartado de la Revista Centro de Estudiantes de Derecho del, No.81
  • Ardao, Arturo. Filosofía pre-universitaria en el Uruguay. De la Colonia a la fundación de la Universidad. 1787-1842. Montevideo, 1945. 177 pp. 2ª ed. Montevideo, Biblioteca de Marcha/FCU, 1994.

Bibliografia passiva (completa)

  • ACOSTA, Yamandú. “La cuestión del sujeto en el pensamiento de Arturo Ardao”, em Ensayos en Homenaje al Dr. Arturo Ardao, Manuel Arturo Claps (Coord.), Montevideo, 1995.
  • ACOSTA, Yamandú. “Filosofía latinoamericana e historia de las ideas”, en Hugo E. Biagini, (Comp.) Arturo Ardao y Arturo Andrés Roig. Filósofos de la autenticidad. Edição digital de J. Luis Gómez-Martínez, Março, 2001.
  • ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas, México, FCE, 1993.
  • ANDREOLI, Miguel. El pensamiento social y jurídico de Vaz Ferreira, Montevideo, Facultad de Derecho, Universidad de la República, 1993.
  • BERTTOLINI, Marisa. “Lógicas de la razón y de la inteligencia”, en Hugo E. Biagini, (Comp.) Arturo Ardao y Arturo Andrés Roig. Filósofos de la autenticidad. Edicão digital de J. Luis Gómez-Martínez, Março, 2001.
  • BIAGINI, Hugo (Compilador) Arturo Ardao y Arturo Andrés Roig. Filósofos de la autenticidad. Jornada en homenaje a Arturo Andrés Roig y Arturo Ardao, patrocinada por Corredor de las Ideas e publicada em Buenos Aires (2000). Edição digital de José Luis Gómez-Martínez e autorizada para o Proyecto Ensayo Hispánico, Março 2001. http://ensayo.rom.uga.edu/filosofos/argentina/roig/homenaje/berttolini.htm
  • LIBERATI, Jorge. “In Memoriam: Arturo Ardao”, en Langón, Mauricio (Coordinador) Actas de las XI Jornadas de pensamiento filosófico. Homenaje a Carlos Mato,Buenos Aires, FEPAI, 2004.
  • MUÑOZ, Marcelo y TANI, Ruben. “En torno a algunas prognosis de Ardao: el caso de ‘filosofía de lengua española”, em Ensayos en Homenaje al Dr. Arturo Ardao,Manuel Arturo Claps (Coord.), Montevideo, 1995.
  • PETIT, María Angélica. “Legado imperecedero” em Mauricio Langón, (Coordenador),Actas de las XI Jornadas de pensamiento filosófico. Homenaje a Carloms Mato. Buenos Aires, FEPAI, 2004.
  • PINEDO, Javier, “La historia de las ideas en América Latina”,em Hugo E. Biagini, (Comp.) Arturo Ardao y Arturo Andrés Roig. Filósofos de la autenticidad. Edição digital de J. Luis Gómez-Martínez, Março, 2001.
  • ROMERO BARÓ, José María.Filosofía y Ciencia en Carlos Vaz Ferreira, Barcelona, PPU, 1993.
  • TANI, R. y NÚÑEZ, M. G.“La filosofía antropológica de Arturo Ardao: el puesto de la inteligencia en el cosmos” em Clara Jalif de Bertranou.