EDUARDO NICOL

(1907 – 1990)

Autoria: Carlos A. Gomes

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE GERAÇÃO DE 56 – TRANSIÇÃO PARA O PENSAMENTO DEMOCRÁTICO (PENSAMENTO EXISTENCIAL)

País

ESPANHA/MÉXICO

Data e local de nascimento

13 de Dezembro de 1907, Madrid

Formação e acção

Eduardo Nicol cursou estudos universitários da filosofia, com mestres da chamada Escola de Barcelona. Fugiu à Guerra Civil e acabou por exilar-se no México, onde se veio a naturalizar. Doutorou-se em Filosofia pela Universidade Autónoma do México (UNAM) com uma tese no domínio da psicologia (“Psicologia das situações vitais”), e em 1941 leccionou na Faculdade de Filosofia e Letras daquela universidade. Fundou o Centro de Estudos Filosóficos (posteriormente denominado Instituto de Investigações Filosóficas da UNAM),onde veio a criar em 1954 a revista Dianoia, e a qual ainda existe. Em 1986 recebeu o Prémio da Universidade Nacional em Investigação em Humanidades. Foi membro do Instituto Internacional de Filósofos (Paris), da Sociedade de Investigação Fenomenológica Internacional (EUA) e realizou inúmeros cursos e conferências na Europa, Canadá e vários países da América Latina. Traduziu importantes obras filosóficas europeias, em particular O Ser e o tempo, de Heidegger e O mito do Estado, de Cassirer. Em 1984 recebeu o doutoramento Honoris Causa pela Universidade Autónoma de Barcelona, vindo a falecer em 1988 no seu país de acolhimento (México).

Actividade desenvolvida

Podemos perspectivar a actividade de Nicol a dois níveis: o psicológico e o cultural. Eduardo Nicol entrou efectivamente na filosofia pela perspectiva da psicologia, pois considerava que viver, significava estar em situações cambiantes e indefiníveis que marcam a finitude humana. A vida é essencialmente expressão inter-subjectiva e dialéctica, em que se identifica os objectos como uma realidade comum. Deste modo, considera a vida como resultado de uma experiência primária de unidade indissolúvel do corpóreo e do psíquico. O espiritual e o não-espiritual não flutuam no âmbito da materialidade, nem são explicáveis em termos puramente naturais. Sujeito e objecto são necessários e constitutivos da experiência vital, quer esta seja vista como acaso (contingência),destino (necessidade) ou carácter (liberdade). Viver é gerar uma ideia de si mesmo como imagem essencial que se vai transformando historicamente e mudando a face da própria natureza humana. O Homem é basicamente ser de expressão, enquanto fenómeno, comunicação, linguagem e palavra. Assim, ele torna-se a condição da acção e transformação no tempo (liberdade).

Data e local de falecimento

6 de Maio de 1990 (82 anos), México

Lema e linha filosófica

Eduardo Nicol, enquanto ‘transterrado’ e catedrático, deve ser visto essencialmente como uma figura ímpar da pedagogia hispânica. Deu aulas, e ministrou cursos e seminários de curta duração por toda a América e contribuiu para a formação académica de toda uma geração. Foi um embaixador empenhado no estreitamento de relações entre as ex-colónias espanholas e a metrópole. Embora influenciado por Ortega y Gasset, Nicol não segue o seu pensamento. Pode enquadrar-se naquilo a que alguns chamaram a ‘Terceira Espanha’, não se filiando nem no lado republicano, nem nos franquistas. Manteve uma postura politicamente equidistante e independente.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

A sua obra constitui uma simbiose psicológico-filosófica, caracterizada pelo uso da psicologia como instrumento de análise e pesquisa, e pela utilização da filosofia na análise fenomenológica das situações vitais. Em termos culturais, a produção filosófica de Nicol perpassa transversalmente os campos da ‘paideia’ pedagógica (advoga a união entre o ensino e a investigação consubstancial à praxis filosófica), e da filosofia da cultura (enquanto forma de questionamento radical e vital, das experiências originárias e da busca do significado originário da técnica. Neste particular, não deixa de se manifestar crítico ao triunfo do domínio utilitarista e tecnocrático, e da consequente vitória da ‘razão da força maior’ (razão instrumental). A partir de meados dos anos 70, a reflexão de Nicol adopta uma postura nitidamente melancólica e pessimista, tentando guindar-se a uma revolução, mediante o retorno da ciência aos seus fundamentos teóricos e histórico-vitais.

A obra de Eduardo Nicol ocupa um lugar importante no contexto hispânico e europeu. Está eivada de um notório existencialismo e fenomenologismo vital e dialéctico, considerando que o homem não possui uma essência própria, completa e fechada, estando aberto à realização de si mesmo e à sua autenticidade (ao seu fazer-se). A fenomenologia adquire por isso um significado dialectico, deixando esta, todavia, de ser especulativa e reconhecendo-se como concreta, prática e positiva.

Filosofia e ciência devem conjugar-se, no sentido em que aquela deve ser uma episteme ético-vocacional, disposição livre e desinteressada pelo saber e pelo logos. Só assim se reformaria a verdadeira filosofia na sua forma genuina e constitutiva, estabelecendo-se o fundamento unitário da ciência e revelando a compatibilidade entre a verdade e a expressão, ou seja, entre a verdade e a história. É extremamente actual, prefigurando os perigos que advirão pelo domínio de uma razão tirânica, que tudo esmaga ao sabor do imediato e do funcional.

Bibliografia activa

Psicología de las situaciones vitales (Tesis doctoral), El colegio de México, 1941.

La ideia del hombre México: Editorial Stylo, 1946; nueva versión en México: Fondo de Cultura Económicoa, 1977; versión facsimilar, México: Herder, 2004.

Historicismo y existencialismo. La temporalidad del ser y la razón, Madrid: Tecnos, 1950; segunda edición, corregida, México: Fondo de Cultura Económica, 1960.

La vocación humana, El Colegio de México, 1953.

Metafisica de la expresión, Fondo de Cultura Económica, 1957; nueva versión, México: Fondo de Cultura Económica, 1974.

El problema de la filosofia hispânica, Madrid: Tecnos 1961; segunda edición, México: Fondo de Cultura Económica, 1998.

Los princípios de la ciência, México: Fondo de Cultura Económica, 1965. El porvenir de la filosofia, México: Fondo de Cultura Económica, 1972.

La primera teoría de la praxis, México: Instituto de Investigaciones Filosóficas, Universidad Nacional Autónoma de México, 1978.

La reforma de la filosofia, México: Fondo de Cultura Económica, 1980.

La agonía de Proteo, México: Instituto de Investigaciones Filosóficas, Universidad Nacional Autónoma de México, 1981; México: Herder, 2004.

Crítica de la razón simbólica. La revolución en la filosofia, México: Fondo de Cultura Económica, 1982.

Ideas de vario linaje, Editado como parte del homenaje que la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad Nacional Autónoma de México, rinde a Eduardo Nicol y reúne varios ensayos, conferencias y artículos suyos, México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1990.

Formas de hablar sublimes: poesía y filosofia, México: Instituto de Investigaciones Filosóficas, Universidad Nacional Autónoma de México, 1990.

Las ideas y los días. Artículos e inéditos 1939-1989, Compilación de sus artículos de periódico y otros textos inéditos, México: Afinita Editorial, 2007.

Símbolo y verdade, Compilación de textos de Nicol, México: Afinita Editorial, 2007.

Bibliografia Passiva

GONZÁLEZ, Juliana, La metafísica dialéctica de Eduardo Nicol, México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1981.

El ser y la expresión. Homenaje a Eduardo Nicol, Edición de Juliana Gonzàlez Valenzuela y Lizbeth Sagols Sales, presentación de Sagols Sales. Textos del “Simposio en torno a la filosofía de Eduardo Nicol” (27, 28 y 29 de enero de 1988), México: Facultad de Filosofìa y Letras, Universidad Nacional Autónoma de México, 1990.

Eduard Nicol: Semblança d’Un Filòsof, Edición de Àngel Castiñeira Barcelona: Acta, Fundació per a les idees i les arts, 1991. B. 30.019-1998

Eduardo Nicol. La filosofía como razón simbólica, Barcelona: Proyecto A. Ediciones, 1998. ISSN: 1137-3636

GUY, Alain, Los filósofos españoles de ayer y hoy, (Les philosophes espagnols d’hier et d’aujourd hui. Époques et auteurs, 1956), tr. Luis Echávarri, prólogo de Georges Bastide, Buenos Aires: Losada, 1966, pp. 170, 215-219, 301, 303

HORNEFFER, Ricardo, Eduardo Nicol. Semblanza. Zapopan: El Colegio de Jalisco. Generalitat de Catalunya, 2000. ISBN: 968-6255-31-1

— (coordinador), Eduardo Nicol. Homenaje, Presentación de Ricardo Horneffer, palabras de Alicia Rodríguez de Nicol, México: Facultad de Filosofía y Letras, Ciudad Universitaria, 2009.

LLERA, Luis de, Filosofía en el exilio: España Redescubre América, Madrid: Encuentro, 2004, pp. 12, 46, 56-59, 81, 82, 86, 150, 156-177, 204, 217-220.

SALGADO, Jorge Enrique Linares, El problema del fin de la filosofía  y la negación de la historia en Eduardo Nicol, México: Seminario de filosofìa, Facultad de Filosofía y Letras, Universidad Nacional Autónoma de México, 1999. ISBN: 968-36-7401-1

En torno a la obra de Eduardo Nicol, México: Seminario de filosofìa, Facultad de Filosofía y Letras, Universidad Nacional Autónoma de México, 1999.