ÓSCAR LOPES

(02/10/1917 – 22/03/2013)

Autoria: Cecília Barreira

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1937- Cancioneiro

País

Portugal

Data e local de nascimento

Leça da Palmeira, 2 de Outubro de 1917

Formação e acção

Nasceu no seio de uma família conservadora e conviveu, em jovem, com Palmira Bastos ou Eduardo Brasão.

Inicia estudos liceais no Colégio da Boa Nova, em Matosinhos.

Óscar Lopes, licenciou-se em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Estudou também música no Conservatório de Música do Porto.

Actividade desenvolvida

Dos tempos da Faculdade de Letras de Lisboa, entre 1935 e 1941, guarda as aulas de Vitorino Nemésio e Vieira de Almeida. Conhece a futura mulher, Maria Helena Gaspar Madeira, aluna de Filologia Românica, casando em 1941.

Por essa altura, conhece António José Saraiva no Liceu Pedro Nunes onde ambos estagiam. Em 1953 começa a ser preparada a História da Literatura Portuguesa que seria editada em 1954, altura em que Saraiva tinha sido expulso do ensino, por causas políticas.

Com a atividade docente no Porto, no então Liceu D, Manuel II, Óscar Lopes colabora durante anos no Comércio do Porto (entre 1951 e 1967) com a rúbrica A Crítica do Livro.

Nos inícios de 1955 a Pide tenta silenciar o MUD juvenil. Óscar Lopes é preso por ser membro da Comissão do Porto de Movimento de Paz. Libertado, entretanto, a pena maior recaiu sobre António Borges Coelho. O nosso ensaísta foi submetido à tortura do sono entre outras torturas.

Entre o ensaísta e Vergílio Ferreira nunca houve um entendimento grande. Óscar Lopes sempre criticou a escrita do autor de Manhã Submersa.

Em 1969, ano de eleições legislativas, Óscar Lopes defende a “universidade democrática”. No III Congresso da Oposição Democrática, em 1973, Aveiro, integra a comissão organizadora com Urbano Tavares Rodrigues, Pina Moura, Lindley Cintra, Victor de Sá, etc. As Comemorações do 31 de Janeiro de 1974 no Coliseu do Porto constituíram um sucesso.

Com o 25 de Abril de 1974 ingressa finalmente como professor catedrático na Faculdade de Letras do Porto.

Data e local de falecimento

22 de Março de 2013, Matosinhos

Lema e linha filosófica

Ensaísta, crítico literário deixa uma extensa obra de rigor e clarividência. A célebre História da Literatura em Portugal, obra de referência obrigatória, foi sobretudo de sua autoria, com a ajuda de António José Saraiva. Escreveu ensaísmo puro, na plenitude do saber e da inquietação do questionar filosófico, literário e histórico.

Era poliglota, amante de música e andou no conservatório. Estudou matemática, astronomia, biologia, com uma dedicação de saber muito autêntica.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Na introdução da História da Literatura Portuguesa de 1955 diz:

“A literatura não se pode confundir com a propaganda, na medida em que a última tenha em vista finalidades ou efeitos inteiramente previstos e use processos de persuasão direta. Mais ainda: a literatura e a arte, em geral, participam na incessante descoberta de fins, de formas superiores de plenitude convivente, na formação, em suma, da própria subjetividade social” (História da Literatura Portuguesa, Porto Editora, ed. 10ª, p. 9).

Mais à frente elucida:

“ A história da literatura abrange, portanto, um domínio bem específico de problemas, embora não deixe de ser interdependente da história social e, mais diretamente ainda, da história cultural”. (História da Literatura Portuguesa, idem,p.11).

A magnífica História da Literatura Portuguesa inclui índices onomásticos preciosos e inicia-se com Fernão Lopes, cronista até ao pós neorrealismo, sem esquecer o património medieval das cantigas de amigo e de escárnio e mal dizer.

Dos escritores da atualidade refere José Rodrigues Miguéis, Irene Lisboa. Apesar de não simpatizar com Vergílio Ferreira, faz uma apresentação da sua obra com palavras dignas e analíticas. Nomeia e resume as obras de Manuel da Fonseca, Fernando Namora, Jorge de Sena, Sophia, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Herberto Hélder, José saramago, Vasco Graça Moura, Cardoso Pires, Abelaira, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Nuno Bragança e outros.

Nesta obra, Óscar Lopes nunca se esquece de elaborar análises comparatistas com Espanha e o resto da Europa. Em torno da Geração de 1898 em Espanha pronuncia se:

“ De 1898, ano da derrota espanhola em Cuba perante o imperialismo norte americano, costuma datar se o surto de uma notável geração, a de Unamuno, Baroja, António Machado, Valle Inclán, Azorín, Ortega Y Gasset, que embora invertebradamente, se interroga sobre os destinos e alma dos povos espanhóis (…)”. (História da Literatura Portuguesa, Porto editora, 10ª edição, pp. 1052-1053).

Sobre a ficção contemporânea intui uma dose grande de “introspetivismo”, na “apologia do instinto e do inconsciente” (nomeia Virginia Woolf e Joyce). Em relação ao Brasil menciona o Modernismo (a partir de 1922) e os nomes maiores de Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Erico Veríssimo, etc.

França reserva o célebre casal Sartre e Beauvoir, Camus, Henri Michaux, Éluard, Aragon,´René Char, entre outros.

No conjunto de ensaios que publica com o título de Entre Fialho e Nemésio (1987) explica que abordou desde 1973 autores como Cesário Verde, António Nobre, Raul Brandão, Fernando Pessoa, Nemésio, etc.

Tal como outros grandes nomes do ensaísmo, Óscar Lopes, nesta obra, trabalha a Geração de 70 e a Geração de 90 com incidência, no caso desta última, no Ultimatum inglês, na crise financeira, o percurso do idealismo de Proudhon nos nossos intelectuais, e a ideia de “ socialismo”. Referencia a célebre Revista de Portugal (1889-1892), dirigida por Eça de Queiroz onde são publicados estudos fundamentais como o ensaio de Antero Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX, e o exaltamento de Jaime de Magalhães Lima face ao grande Tolstoi que foi propositadamente conhecer à Rússia. A Revista também edita um muito jovem Raul Brandão, e Alberto de Oliveira, amigo de Nobre.

À Geração de 1890, sucede se a Geração da República e o Modernismo: Neste último, integra o Primeiro Modernismo e a Geração da Presença.

Estes dois volumes de ensaios são prolixos em análises detalhadas e pioneiras sobre temáticas ainda hoje não muito abordadas. Por exemplo, quando pormenoriza o estudioso Teófilo Braga O facto de Antero ter criticado Teófilo por causa dos pressupostos sobre a “raça”, assunto muito destacado à época, e do teórico espanhol Menéndez y Pelayo considerar Portugal “uma manifestação regional hispânica”, constituem preciosidades teóricas.

Teófilo teria sido o grande divulgador do Positivismo em Portugal. Dirigiu entre 1878 e 1882 a revista O Positivismo, entre 1880 e 1881 a Era Nova e entre 1883 e 1886 a Revista dos Estudos Livres. Com o seu nacionalismo foi a base ideológica do integralista António Sardinha, que depois o renegou.

Na esgotadíssima História da Literatura Portuguesa, dirigida por ele próprio e Maria Fátima Marinho, de 2002, refere José Régio, Aquilino, Ferreira de Castro e os “esteticistas cosmopolitas” Urbano Rodrigues, Augusto de Castro, Justino de Montalvão.

Estudioso da obra de Régio, vê aí o dualismo de um eu-o outro ou um eu e Deus.

Em Gaspar Simões referência inegável e persistente crítico literário do século XX. Em Miguel Torga pondera uma continuidade de Aquilino. Nemésio é largamente estudado distinguindo em alguma prosa o pioneirismo em relação ao “nouveau roman” de Robbe-Grillet e de Natalie Sarraute. Aquilino também é contemplado nesta viagem pelos prosadores de princípio do século XX.

Estudioso obsessivo de toda a grande literatura, Óscar Lopes é o grande nome incontornável da crítica e histórias literárias do século XX português.

Bibliografia activa

Gramática Simbólica do Português. Lisboa: Instituto Gulbenkian de Ciência, 1972, 2.ª ed., corrigida

Entre a Palavra e o Discurso: Estudos de Linguística (1977-1993). Coordenação da edição de OLIVEIRA, Fátima; BRITO, Ana Maria. Porto, Campo das Letras, 2005

História da Literatura Portuguesa  (com António José Saraiva)

 Álbum de Família: Ensaios sobre Autores Portugueses do Século XIX .Lisboa: Caminho, 1984.

Os Sinais e os Sentidos: Literatura Portuguesa do Século XX. Lisboa, Editorial Caminho, 1986.

Entre Fialho e Nemésio: Estudos de Literatura Portuguesa Contemporânea. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1987: 1.º vol.: Geração de 1890; 2.º vol.: Modernismo

A Busca de Sentido: Questões de Literatura Portuguesa. Lisboa: Caminho, 1994.

5 Motivos de Meditação: Luís de Camões, Eça de Queirós, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa. Porto: Campo das Letras, 1999.

Jaime Cortesão. Lisboa: Arcádia, 1962.

Antero de Quental: vida e legado de uma utopia. Lisboa: Caminho, 1983

Bibliografia passiva

LIMA, Isabel; MARTELO, Rosa Maria. «Óscar Lopes em ‘A Crítica do Livro’: Duas Leituras» (I, II), in Sentido que a Vida Faz: Estudos Para Óscar Lopes. Porto: Campo das Letras, 1997.

SANTO, Manuela Espírito, Óscar Lopes retrato de rosto, Matosinhos, 2017

SARAIVA, Arnaldo. «Óscar Lopes e a Busca de Sentido» in Línguas e Literaturas, Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, XII, 1995, pp. 175-180.

  1. AA. Óscar LOPES. Coordenação de edição por Fátima OLIVEIRA e Ana Maria BRITO. Entre a palavra e o discurso. Estudos de Linguística 1977 – 1993. Porto: Campo das Letras. 2005. 263 pp. ISBN: 972-610-917-5