RAÚL FORNET-BETANCOURT

(1946 – ?)

Autoria: Carlos A. Gomes

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 80/90 – FILOSOFIA INTERCULTURALISTA

País

CUBA

Data e local de nascimento

1946, Holguin,Cuba

Formação e acção

Raúl Fornet-Betancourt saíu do seu país natal logo após a eclosão da revolução castrista e terminou o bacharelato em Porto Rico. Posteriormente viaja para Espanha onde obtém o seu doutoramento em Filosofia e Letras, pela Universidade de Salamanca, tirando outro nível superior em Filosofia Linguística pela Universidade de Aquisgrán, onde se tornou catedrático honorário. Nascido em Cuba em 1946,

Raúl Fornet-Betancourt é efectivamente uma das figuras mais marcantes do pensamento ibero-americano contemporâneo. Betancourt vive na Alemanha desde 1972, onde se radicou,  e é actualmente docente na Universidade de Bremen. Director de várias revistas internacionais, é também professor convidado em muitas universidades sul-americanas, e exerce um labor activo no domínio da filosofia intercultural. Filosoficamente vincula-se à filosofia interculturalista, a apartir do ramo evolutivo da Filosofia da Libertação, de Enrique Dusserl. Foi fundador da Concordia – Revista Internacional de Filosofia, criada em 1982.

Actividade desenvolvida

Influenciado filosoficamente por autores como J. P. Sartre, Karl Marx e José Marti, Fornet-Betancourt desenvolve um projecto de uma “inculturación” da filosofia latino-americana a partir das reflexões feitas a partir dos anos 70 pela Teologia da Libertação e sistematizadas, filosoficamente, por aquilo a que viria a ser conhecido pela FL (Filosofia da Libertação). Rodolfo Kusch e Juan Carlos Scannone foram os obreiros deste projecto interculturalista, através dos quais se viriam a conhecer os grandes representantes do pensamento ibero-americano, sobretudo Arturo Andrés Roig, Leopoldo Zea e Enrique Dussel.

Data e local de falecimento

(?)

Lema e linha filosófica

O fundamento filosófico do interculturalismo ultrapassa o dogmatismo de uma razão ‘universal’, de pendor ocidental, dialogando abertamente com outras ‘razões’ locais (regionais) igualmente possíveis. Betancourt é, pois, apologista de um conceito de uma razão filosófica polifónica, desmonopolizada, que integre todos os simbolismos e práticas culturais próprias e fundantes. A hermenêutica proposta por Betancourt leva em conta que a visão crítica e multicultural, está submetida a processos de homogeneização e dominação, sendo que o ideal de liberdade deve ter como motor a praxis da acção cultural, e não simplesmente um trabalho académico e um exercício profissional.

Caracterização geral da obra

A história recente do desenvolvimento da filosofia interculturalista na Europa, tem o seu início por volta dos finais dos anos 80 -princípios de 90 do s,éculo passado, altura em que aparecem as primeiras publicações de Raul F-Betancourt. Nesta base, poder-se-iam sinalizar dois fundamentos básicos, a saber:

  • Ruptura com os modelos filosóficos mono e unilaterais, assentes no princípio ontológico da existência de uma realidade a priori (física ou metafísica), a qual vincula o princípio da verdade absoluta e objectiva, cujo sentido corresponde iconicamente a uma realidade prévia;
  • Superação dos mitos universalistas e simplificadores dos racionalismos ocidentais e eurocêntricos. Estes traduzindo-se em falsos dualismos, provocam o desencadear das oposições e hierarquias que legitimam a superioridade de uns e que ‘exploram’ os outros. Esta superação dos dualismos visa alcançar uma dimensão contextual da reflexão filosófica, norteadas pelo pluralismo das racionalidades e pela concepção dinâmica de todas as formas de sensibilidade espácio-temporais. A filosofia intercultural entronca num construtivismo epistemológico, na base do qual se podem recriar, destruir ou renovar diferentes realidades múltiplas e plurais, rompendo-se com a ontologia do dado. Esta lógica trans e inter-disciplinar favorece, pois, uma reflexão permanentemente crítica e inconformista no constante diálogo entre saber e vida. Hoje, considera Betancourt, não podem existir redutos fechados ou fronteiras formais de cientificidade no saber que só dividem o pensar e o conhecimento em compartimentos artificiais.

Considerações finais

A caracteristica intercultural da filosofia implica para Raul Betancourt uma disposição dialógica, de renúncia ao monolinguismo ou qualquer tipo de racionalidade únicas. Ao mesmo tempo, Betancourt considera que  a filosofia intercultural deve constituir um método ou compromisso ético-político que produza mudanças ao nível das complexas relações internacionais, face à globalização, com o propósito de introduzir o princípio da diversidade e pluralidade. A interdisciplinaridade segundo a filosofia interculturalista, propõe, pois, pragmaticamente, a construção e o desenvolvimento do diálogo entre diferentes campos comuns e globais do saber, os quais impeçam qualquer tipo de ‘imperialismo cultural’.

Bibliografia activa

(1978). De la ontología a la fenomenológica-existencial a la concepción marxista de la historia (Extracto). Salamanca: Editorial de la Universidad de Salamanca.

(1985). Problemas actuales de la filosofía en hispanoamerica. Bs. As. FEPAI. (Trad. al portugués: -(1993). Problemas Atuais da Filosofía Na Hispano-América, São Leopoldo, Brasil, 182).

(1987). Comentario a la Fenomenología del Espíritu de Hegel. México: Editorial de la Universidad La Salle.

(1992a). V. La filosofía de la liberación en América Latina, en: 500 años después. Estudios de Filosofía Latinoamericana.México: UNAM.

(1994). Filosofía intercultural. México: Universidad Pontificia de México, 127. (También apareció con el título: (1994). Hacia una filosofía intercultural latinoamericana, Costa Rica).

(1998). Aproximaciones a José Martí. Aachen: Internationale Zeitschrift für Philosophie, Wissenschaftsverlag Mainz in Aachen, Bd. 24, 115 (CRM).

Artigos

“El pensamiento filosófico de José Vasconcelos”. Cuadernos Salmantinos de Filosofía IX (1982): 147-177.

“Antonio Caso o el ejercicio de la filosofía”. Logos 31 (1983): 35-58.

“Defensa del existencialismo como filosofía humanista de la acción” [Un capítulo en el pensamiento de Sartre]. Diálogos 42 (1983): 153-170.

“Modos de pensar la realidad de América y el ser-americano”. Cuadernos Salmantinos de Filosofía X (1983): 247-264.

“Juan Bautista Alberdi (1810-1884) y la cuestión de la filosofía latinoamericana”. Cuadernos Salmantinos de Filosofía XII (1985): 317-333.

“La pregunta por ‘la filosofía latinoamericana’”. Diálogo Filosófico 13 (1989): 52-71.

“Las relaciones raciales como problema de comprensión y comunicación intercultural. Hipótesis provisionales para una interpretación filosófica”. Cuadernos Americanos Nueva Época 6.18 (1989): 108-119.

“Filosofía latinoamericana: ¿posibilidad o realidad?”. Logos. Revista de Filosofía (México: Universidad. La Salle) 54 (1990): 47-67.

“¿Donde está hoy la filosofía europea?, en: Für Leopoldo Zea/ Para Leopoldo Zea”. Raúl Fornet-Betancourt, Editor. Aachen: Verlag der Augustinus-Buchhandlung, 1992, 38-42.

“Reflexiones en torno a la significación de la filosofía y teología latinoamericanas de la liberación”. América Latina. Historia y destino. UAEM (ed.), Bd. 3. México, 245-249.

“Pensamiento Iberoamericano como base para un modelo de filosofía intercultural”. Cultura, Ética y Poder. Segunda Época, IX, 19/09 (1994): 61-69.

“Pensamiento Iberoamericano como base de filosofía intercultural”. Heredia, A. (ed.). Mundo Hispánico-Mundo Nuevo: Visión Filosófica. Salamanca: Editorial de la Universidad de Salamanca, 1994, 367-385.

“José Martí y su crítica a la filosofía europea”. Educação e Filosofia 9.18 (1995): 127-133.

“La problemática de los valores en la tradición filosófica latinoamericana del siglo XX”. Revista Agustiniana 110 (1995): 579-596.

“Visión del neoliberalismo a partir de la Filosofía de la Liberación”. Filosofazer 12 (1998): 49-54.

“La filosofía como proyecto intercultural”. Signos en Rotación 20 (1998): 20.

Bibliografia passiva

  • Delgado González, I. “Valoración de las tradiciones cubanas filosóficas fuera de cuba”.Filosofía, Teología, Literatura: Aportes cubanos en los últimos 50 años. Fornet-Betancourt, R. (ed.). Bd. 25. Aachen: Wissenschaftsverlag Mainz in Aachen. Concordia Internationale Zeitschrift für Philosophie, 1999. 66-91. (CRM) (Especialmente, 78-81; 90).
  • Gmainer-Pranzl, F. “Raúl Fornet-Betancourt. Filosofía Intercultural”. Seminar im WS 1997/98: Probleme und Ansätze interkultureller Philosophie. Univ.-Doz. Dr. Franz M. Wimmer, Institut für Philosophie an der Universität Wien, 1997/8. 1-17.
  • Jornalda Unisinos, “Filosofía Intercultural Desmonta Preconceitos”, Edição 2, Ano 1 (Octubro 94): 8 -9.
  • MarquézFernándezAB. “Raúl Fornet-Betancourt y la Filosofía Intercultural”. Signos en Rotación(Suplemento cultural. Pensadores Iberoamericanos I.) Año I: n. 52, 18 / 04 (1999): 1-4.
  • MárquezFernándezAB. “Hacia una Filosofía Intercultural Iberoamericana”. Signos en Rotación(Suplemento: Literarius). Año I: n. 52, 18/ 04 (1999) 6-8.
  • PicottiD. “Sobre Filosofía Interculturalcomentario a una obra de R. Fornet-Betacourt”. Stromata 52 (1996): 289-298.
  • “La filosofía intercultural. Entrevista”. Ciencia ergo sum5 (1998) 1-2.