(1895-1979)
Autora: Isabel Araújo Branco
Horizonte geracional
GERAÇÃO DE 1930 (Generación del Centenário)
País
Peru
Data e local de nascimento
Trujillo, 22 de Fevereiro de 1895
Formação e acção
Victor Raul Haya de la Torre frequentou a Facultad de Letras da Universidad Nacional de Trujillo e a Facultad de Derecho da Universidad Mayor de San Marcos. Rapidamente se popularizou como líder estudantil, envolvendo-se na contestação ao regime de Augusto Leguía. Exilou-se no México em 1922, onde, dois anos depois, fundou a Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA), partido projectado a escala subcontinental. Regressou ao Peru em 1931, ano em que o APRA é transformado em Partido Aprista Peruano (PAP) e em que Haya de la Torre se candidatou à Presidência da República. Foi preso em 1932 e libertado no ano seguinte, sendo novamente perseguido a partir de 1934. Viveu na clandestinidade até 1945, quando o regime político peruano permitiu novamente o funcionamento da APRA/PAP. Em 1948, após o golpe de Estado liderado por Manuel Odría refugiou-se na Embaixada da Colômbia em Lima, num exílio que se prolongou durante cinco anos, até 1954, e que deu origem ao «Caso del Asilo» ou «Caso Haya de la Torre», um caso de direito internacional sobre o asilo político. Viajou pela América, Europa e Ásia nos anos seguintes, candidatando-se novamente à Presidência da República em 1962 e 1963. Após vários anos de ditadura, foi eleito em 1978 para a Assembleia Constituinte, órgão que passou a presidir. Morreu no ano seguinte.
Actividade desenvolvida
Pensador e político, Victor Raul Haya de la Torre reflectiu sobre a realidade peruana integrada no contexto latino-americano. Fundou em 1924 a Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA) e em 1931 o Partido Aprista Peruano. Ao longo da sua vida, colaborou com diversos periódicos peruanos, mas igualmente de outros países americanos e europeus. É o caso das revistas Cuadernos Americanos (México), Ercilla (Chile) e Bohemia (Cuba) e dos jornais La Tribuna (Peru), El Norte de Trujillo (Peru), Excélsior (México) y El Tiempo (Colômbia).
Mantendo-se activo do ponto de vista político durante longas décadas e desenvolvendo ideologicamente o aprismo, publicou entre outros El antiimperialismo y el APRA (1936), Espacio-tiempo histórico (1948) e Treinta años de aprismo (1956).
Data e local de falecimento
Lima, 2 de Agosto de 1979 (84 anos)
Lema e linha filosófica
Na senda das concepções marxistas e embora sendo anticomunista, Victor Raul Haya de la Torre defende a necessidade de justiça social, o desaparecimento de desequilíbrios no interior da sociedade, o respeito por toda a população peruana e latino-americana, os valores de igualdade e liberdade e a verdadeira representação do povo no poder e no Estado. Como afirma no «Programa Mínimo del Partido Aprista Peruano», «o aprismo corresponde ao Peru novo que se insurge, que quer tomar o seu lugar, que quer peruanizar-se».
Linha filosófica e caracterização geral da obra
Victor Raul Haya de la Torre segue as teorias de Karl Marx e Frederich Engels, referindo estes filósofos com frequência e reconhecendo a necessidade de uma associação internacional dos povos latino-americanos. No «Programa Mínimo del Partido Aprista Peruano», Haya de la Torre afirma que «o programa máximo do aprismo tem um significado continental que não excluí o programa de aplicação nacional», porque «o Peru não pode afastar-se dos problemas do mundo». Como argumenta o autor, «se vivemos dentro de um sistema económico internacional e a economia desempenha um papel decisivo na vida política dos povos, seria absurdo pensar que o Peru, que tem uma economia em parte dependente desse organismo económico internacional, pudesse viver isolado contra todos os preceitos científicos e contra todas as correntes de relação que são a garantia de progresso». Haya de la Torre argumenta que é necessário começar pelas partes para atingir o todo, ou seja, «ser nacionalistas integrais para ser verdadeiramente continentais» para, «assim juntos, conseguir integrar a marcha da civilização mundial». Este programa corresponde à «civilização modernizada do velho ideal bolivariano» da união da América.
Haya de la Torre abordou o tema do imperialismo em muitíssimas ocasiões e escreveu inclusive um texto, em 1955, com o título «El imperialismo», definindo-o como uma etapa superior em que o sistema alcançou o apogeu, mas uma etapa inferior ou introdutório na América Latina, onde ainda não existia o capitalismo industrial. Completa a definição dizendo que o imperialismo é a primeira etapa do capitalismo nos países não industrializados, enquanto o capitalismo é um sistema de produção inevitável para o progresso social e «um degrau inevitável no progresso civilizador das sociedades».
Contudo, Haya de la Torre é anti-imperialista. Argumenta que as características históricas, as condições e os graus de desenvolvimento da América Latina fazem com que o imperialismo represente para os povos do subcontinente um passo em frente em relação a modos de produção feudais. Mas, enquanto o conceito leninista de anti-imperialismo procura derrubar o sistema, Haya de la Torre considera que não é possível destruir um sistema de produção não controlado pelos latino-americanos. Como a economia nacional depende de interesses estrangeiros e visto que no subcontinente o imperialismo corresponde à etapa industrial, um período superior à agricultura feudal, o autor defende que se obtenham todos os benefícios da industrialização, procurando diminuir a injustiça social que provoca. Do seu ponto de vista, este sistema baseia-se no «rigor implacável da exploração» e da injustiça, mesmo se os salários são mais elevados. Tal significa que «a exploração do homem pelo homem prossegue sob novas formas».
Para Haya de la Torre, a abolição do imperialismo não cabe aos povos da América Latina, porque os principais eixos do sistema não estão no subcontinente. Como diz no «Programa Mínimo del Partido Aprista Peruano», não sendo inimigo do capital estrangeiro, é necessário que o Estado o controle de forma a que o seu papel na economia nacional seja de cooperação e não de absorção. Assim será possível manter uma relação equilibrada, sem cair na dependência e mantendo um equilíbrio económico. Haya de la Torre preocupa-se mais com o imperialismo político, alertando para a manutenção do «equilíbrio da justiça», possível apenas com a acção conjunta dos vários povos da América Latina, unidos e organizados. O seu conceito de internacionalismo corresponde, pois, a «um movimento autónomo latino-americano sem nenhuma intervenção e influência estrangeira», como uma frente única.
Haya de la Torre afirma que o Peru é um país essencialmente agrícola e a grande maioria da população é composta por camponeses, quase todos indígenas, sem direitos, sem consciência social e com uma técnica pouco desenvolvida. Por seu lado, a classe média, do pequeno proprietário e do pequeno produtor mineiro, não tem protecção do Estado. Finalmente, existe uma classe proletária industrial jovem, escassa e imatura. Face a estes, existe «a oligarquia ou minoria, da classe ou dos grupos nacionais que relacionaram os seus interesses aos interesses estrangeiros e acima de tudo são dominantes até aos nossos dias e controlam o Estado». O APRA tem como base os pontos em comum das classes camponesa, proletária e média e assume-se como um partido de frente única, com as três classes ligadas nas questões comuns, unidas em torno dos problemas colectivos e nacionais. O autor defende que as soluções dos problemas do país devem ser encontradas no seu interior, com uma democracia e um Estado que ampare as necessidades da maioria: «lutar pela peruanização do Estado e pela integração económica das maiorias nacionais que constituem a força vital da nação e que são também as que democraticamente, pelo seu número e qualidade, têm direito a intervir na direcção dos destinos nacionais.» Esta «peruanização» consiste numa nova organização do Estado com a representação de todas as classes e na criação de riqueza e protecção da economia.
A situação dos camponeses e dos indígenas é abordada em diversos textos e discursos, abordando o autor questões tão variadas como o analfabetismo, a pobreza e a falta de direitos. Sendo a maioria da população peruana composta pelos camponeses índios, estes têm um papel fundamental na luta anti-imperialista preconizada por Haya de la Torre. Esta classe – conjugada com os operários, a classe média e os intelectuais – deve ganhar o poder para construir um Estado igualitário e justo, em luta contra o imperialismo e as classes governantes. «O poder político deve ser capturado pelos produtores. A produção deve ser socializada e a América Latina deve constituir uma Federação de Estados. Este é o único caminho para a vitória sobre o imperialismo e o objectivo político do APRA», assinala no artigo «El APRA como partido». Para tal, a educação e a cultura são fundamentais, orientadas de acordo com a economia nacional.
Bibliografia activa
Obras completas, Lima, Librería Editorial Juan Mejía Baca, 1985 (sete tomos);
Obras escogidas, Lima, Comisión del Centenario del Nacimiento de Víctor Raúl Haya de la Torre, 1995 (cinco tomos).
Bibliografia passiva
ALVA CASTRO, Luis, Haya de la Torre, el señor asilo, Bogotá, Editorial Norma, 2009;
BENDEZÚ, Edmundo, Haya de la Torre, los militares y el APRA, Lima, Editorial Universitaria, 2011;
CORNEJO RAMÍREZ, Enrique, La vigencia del pensamiento económico de Víctor Raúl Haya dela Torre. Justicia social e integración económica, Sucre, Universidad Andina Simón Bolívar, 2006;
PELÁEZ BAZÁN, Mario, Haya de la Torre y la unidad de América Latina, Lima, Editorial Universo, 1975;
SOTO RIVERA, Roy, Aprismo y antimperialismo, Lima, Industrial Gráfica, 1991;
SUX, Alejandro, El asilado silencioso, México DF, Editorial, Fren SA, 1954;
VÁSQUEZ JUÁREZ, Nelson, Haya desde la izquierda, Lima, Instituto de Sudamérica, 2011;
VILLANUEVA, Armando, THORNDIKE, Guillermo, La gran persecución (1932-1956), Lima, Empresa Periodística Nacional, 2004;
VILLANUEVA, Guely, (comp., sel. e notas), Haya por Haya, apuntes para sus memorias, Lima, Fondo Editorial del Congreso de la República, 2009;
VILLANUEVA DÍAZ, Guely, Víctor Raúl en Lambayeque: historia social del APRA, Chiclayo, Ediciones Acunta, 2008.