NISE da SILVEIRA

(15/12/1905 – 30/10/1999)

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 40

País

Brasil

Data e local de nascimento

Maceió, 15 de Fevereiro de 1905

Formação e acção

Filha de uma pianista e de um jornalista e matemático, Nise fez o ensino básico numa escola e freiras, o Colégio Santíssimo Sacramento, e com apenas dezasseis anos entrou na Faculdade de Medicina da Bahia. Foi a única mulher entre os 157 homens do seu curso, que terminou em 1926 com uma monografia sobre criminalidade feminina.

Após a morte de seu pai vai para o Rio de Janeiro. Em 1933, fez a especialização em psiquiatria, e estagiou na clínica neurológica de Antônio Austregésilo. No mesmo ano, passou num concurso federal para o cargo de médica psiquiatra na Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental no Hospital da Praia Vermelha.

Durante o regime de Gertúlio Vargas, Nise é acusada de ser comunista e detido por 16 meses, ao lado de Olga Prestes e Elisa Berger. Foi sempre uma mulher de esquerda, atuante na União Feminina do Brasil, mas também foi expulsa do Partido Comunista pelo crime de suposto trotskismo.

Mais tarde volta a exercer no serviço público, no Centro Psiquiátrico Pedro II em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Aqui Nise inicia um trabalho pioneiro de Arte Terapia.

Actividade desenvolvida

No Centro Psiquiátrico Pedro II em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, Nise recusa-se a usar os métodos inovadores que se estavam a usar no tratamento de esquizofrénicos: o eletrochoque; a insulinoterapia, a lobotomia, etc. Ela inicia uma batalha contra a psiquiatria convencional e é relegada para a parte de terapia ocupacional do hospital. Aqui ela cria o primeiro atelier de arte terapia, com várias oficinas de expressão artística, e inicia também a terapia com animais.

Como resultado de um intenso trabalho que foi dando frutos, apesar do constante boicote da equipa médica, fundou, em 1952, o Museu da Imagem do Inconsciente, onde expunha as obras produzidas pelos seus pacientes.

Todo o seu trabalho foi pautado pela causa de uma psiquiatria mais humanizada e uma luta para extinguir o preconceito com a doença mental. O seu reconhecimento por parte da comunidade científica e a sua importância social só chegou tardiamente, e pode dizer-se que só mesmo depois da sua morte começou a ser referida, citada e mencionada a um nível internacional.

Nos seus 94 anos de vida, publicou dez livros e escreveu uma série de artigos científicos.

Data e local de falecimento

30 de Outubro de 1999 (94 anos), Rio de Janeiro

Lema e linha filosófica

Nise dedica a sua vida à investigação e renovação das práticas terapêuticas na Psiquiatria. Busca curar os seus pacientes através da Arte Terapia e da Psicoterapia de influência Jungiana, sempre numa óptica do acolhimento e da humanização do tratamento das doenças mentais.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

É em 1946 que Nise começa a dirigir um abandonado centro de terapia “Secção de Terapêutica Ocupacional” do Hospital Psiquiatrico João II, no bairro de Engenho de Dentro do Rio de Janeiro. Aqui dá início a uma abordagem cínica através da livre expressão artística, do contacto afectuoso e individualizado. Abre portanto novas possibilidades para uma compreensão mais profunda do universo interior do doente psiquiátrico.

Inspirada pelo dramaturgo francês Artaud e pelo movimento da Arte Bruta de Dubuffet, com a ajuda de Almir Mavignier, estudante de pintura e funcionário do hospital, desenvolveu um trabalho inovador onde pacientes foram se destacando pelo talento e as suas obras foram incorporadas na colecção dessa instituição. Artistas como Adelina Gomes, Carlos Pertuis, Emygdio de Barros e Octávio Inácio contribuíram para o acervo do que viria a ser mais tarde o Museu do Inconsciente no Rio de Janeiro.

Nise trocou correspondência com Jung (que entendeu o nome “Nise” como masculino). Jung a aconselha: “Se você quiser fazer um outro tipo de psiquiatria, entender os delírios dos clientes e as imagens que eles pintam, você terá que estudar mitologia” [1]. A resposta de Jung, abrigava todo o seu sistema teórico, baseado na teoria dos arquétipos e do inconsciente coletivo.

Nise fundou em 1995 (no Rio de Janeiro) um centro de estudos sobre Jung. Este local tornou-se o epicentro de uma nova consciência terapêutica na psiquiatria, procurado por todos os que procurassem alternativas aos tratamentos convencionais na área da doença mental.

Em 1956, Nise da Silveira criou ainda a Casa das Palmeiras, instituição pioneira de acolhimento de todo o tipo de doentes mentais e empenhada mais que nunca em abolir o preconceito com os “loucos”. Aos seus pacientes fez sempre questão de chamar “clientes”, aqueles a quem ela servia e atendia.

Nise da Silveira, nas palavras de Frei Betto, “nos ensina a descobrir por trás de cada louco, um artista; por trás de cada artista, um ser humano com fome de beleza, sede de transcendência”[2]

Com todos esses feitos e desafios enfrentados por Nise, deu origem em 2017 a um Projeto de Lei (9261/2017) proposto pela deputada Jandira Feghali para inclusão do nome de Nise no “Livro de Heróis e Heroínas da Pátria”.

Bibliografia activa

  • SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: José Álvaro Ed. 1968.
  • SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente.Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.
  • SILVEIRA, Nise da. Casa das Palmeiras. A emoção de lidar. Uma experiência em psiquiatria.Rio de Janeiro: Alhambra. 1986.
  • SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens.São Paulo: Ática, 1992.
  • SILVEIRA, Nise da. Nise da Silveira.Brasil, COGEAE/PUC-SP 1992.
  • SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza.Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1995.
  • SILVEIRA, Nise da. Gatos – A Emoção de Lidar.Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1998.
  • Silveira, N. da (Org.). (1989a). A Farra do boi: do sacrifício do touro na antiguidade à farra do boi catarinense. Rio de Janeiro: Alhambra.
  • Silveira, N. da (1989b). Um homem em busca do seu mito. In M. Lucchesi, Artaud: a nostalgia do mais (pp. 9-23). Rio de Janeiro: Numen.
  • Silveira, N. da (1995). Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves. Spinoza, B. de (1983). Ética: demonstrada à maneira dos geômetras. In Espinosa (Coleção Os Pensadores). (pp. 69-299). São Paulo: Abril Cultural.

Bibliografia passiva

[1] Silveira, Nise da. 2009 [1977]. “Não esqueça o escafandro”. In: MELLO, Luiz Carlos (org). Nise da Silveira. Rio de Janeiro: Azougue. p. 147

[2] Betto, F. (2001). Fome de beleza, sede de transcendência. Quaternio, nº 8, 101.