VIEIRA DE ALMEIDA (Francisco Lopes)

(09/ 08/ 1888 – 20/ 01/ 1962)

Autoria: José Esteves Pereira

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1912

País

Portugal

Data e local de nascimento

Castelo Branco,9 de Agosto de 1888

Formação e acção

Diplomado pelo Curso Superior de Letras inicia a sua atividade docente em 1915, na Faculdade de Letras de Lisboa, criada em 1912, primeiro em História e depois em Filosofia onde desenvolverá o seu marcante magistério até 1958.Além do magistério e da especulação filosófica, da atividade literária e ensaística, Vieira de Almeida foi um intelectual interventivo na vida nacional portuguesa até ao fim da década de 50.A sua obra filosófica abrange a gnoseologia e epistemologia, a lógica, a teoria da história, a psicologia e a filosofia da arte. Simpatizante, inicialmente, da monarquia e de vultos integralistas como Pequito Rebelo e Hipólito Raposo aproxima-se, posteriormente, do ideário da Seara Nova e não se furta, apesar do seu recolhimento especulativo, a uma intervenção cívica corajosa e decisiva. Foi o mandatário nacional da candidatura de Humberto Delgado (1958). Na sequência de um projeto da oposição democrática de trazer a Portugal os socialistas Aneurin Bevan, Pietro Nenni e Mendés –France será detido no dia 8 de Junho de 1958 pela PIDE (como igualmente o foram António Sérgio, Mário de Azevedo Gomes e Jaime Cortesão) e novamente preso  em 22 de Novembro do mesmo ano vindo a ser libertado mediante caução.

Data e local de falecimento

20 de Janeiro de 1962, Cascais

Lema e linha filosófica

Gnosiologia e Lógica

Linha filosófica e caracterização geral da obra

O ponto de partida e de chegada especulativo do filósofo é o positivismo distinguindo, todavia, em Pontos de Referência (1961), obra fundamental publicada um ano antes de falecer, que importa distinguir entre positivismo limite, positivismo sistema e positivismo atitude sendo esta última posição a de recusar sistema feito e limite estabelecido. Essa convicção aberta e problematizante permite, desde logo, atender a que o pensamento de Vieira de Almeida, introdutor da lógica simbólica em Portugal, não é passível de ser associado  ao neo-positivismo lógico mesmo que tenha analisado com cuidado autores como Rudolf Carnap (1891-1970) e outros. A proximidade inicial ao positivismo vigente no tempo da sua formação pode avaliar-se pela atenção prestada a Wilhelm Wundt (1832-1920) de quem assimila uma definição do que seja filosofia:”ciência geral que tem por meta reunir em sistema não contraditório os conhecimentos gerais fornecidos pelas ciência particulares” (Obras Filosóficas,I,p.257-a partir de agora citadas como O.F.) compagina-a, mais tarde, em sentido epistemológico, com a ideia  de “ciência do valor, método, limite e génese do conhecimento para uma integração cada vez mais perfeita , do “conhecer” em o ser” (O:F.,p. 148). Em todo o caso, as duas definições convergiriam na tarefa de satisfazer “ as exigências intelectuais  e as necessidades do espírito” e uma “visão do mundo e da vida” (O.F., I, p. 257). O pensamento vieirino que nesta altura é, de certo modo, indiferente à metafísica mudará, quase radicalmente, mediante o encontro ocorrido com a obra e o pensamento de Léon Chestov (1866-1838) visto pelo filósofo português como um “supra-rationaliste”. Segundo Sottomayor Cardia, na subtil interpretação que dedicou às coordenadas e motivações especulativas de Vieira de Almeida o impacto do filósofo russo exilado em Paris traduziu-se na obra de Vieira de Almeida através da luta contra as evidências, na defesa da indeterminação do pensamento e na recusa da omnitude da razão a par da  denúncia do normativismo em lógica (M.S. Cardia, Vieira de Almeida e a atitude perante a metafísica,p. 57 (“Vieira de Almeida, Colóquio do Centenário”ver, infra, Bibliografia).

Precavido contra a absolutização lógica (ordo et conexum idearaum..e a ordo et conexum rerum de matriz espinosista) o problema da  indeterminação do pensamento destaca-se na análise filosófica de Vieira de Almeida : L´indetermination est ce rapport qui, quand on laisse derrière soi l´intuition naïve –autant qu´inspiration ténace – du sujet connaissant général et de l´objet de connaissance constant, passe par un double série de valeurs de ses deux termes, jusqu´a ce qu`ils deviennent, le premier, l´évolution de la concevabilité dont on ne connait pas la loi; le deuxième, l´évolution du concebavle, dont on ne connait pas (et dont on n´a pas à chercher) la realité” (…) “Le progrès de l´indétermination para la connaissance n´est pas une condition transitoire et accidentale de celle-ci, mais plutôt une condition essentielle” (O.F. p. 354-355). A atitude crítica de Vieira de Almeida no que concerne à condição de uma expressão de verdade aproximativa será a pedra de toque,quer da impossibilidade de alcançar um ideal de verdade metafísica, quer da afirmação marcadamente problematizadora do seu pensamento.

A redução de valor das evidências (O.F.I, p. 391) é assumida  na constatação de que em lógica é impossível tudo demonstrar, bem como em metafísica nada se pode demonstrar (O.F. p. 492). A integração plena do conhecimento no ser tal como Vieira de Almeida a perspetivara defronta-se, assim, com o resultado inevitável de uma existência indefinível : “L´idée d`absolut est totalement stérile. On peut s´en servir comme limite et rien plus” (O.F.I p. 491).

A posição crítica relativamente ao absolutamente determinável dobra-se de igual objeção ao normativo que se ilustra bem pela avaliação do alcance lógico ou,melhor dizendo, da lógica como atividade genérica e essencial do pensamento (O. F.,II p. 315) nos antípodas, porém, do teor normativista que, por exemplo se encontra na  gramática e na retórica. Seria assim natural que Vieira de Almeida estivesse particularmente atento ao problema da linguagem e da inerência algo coisificadora que a caracteriza porque propensa, mesmo, a um desvio metafísico: ”A ordem lógica do pensamento difere por vezes, profundamente do movimento expressivo da linguagem; tomando este por aquela , pode construir-se uma laboriosa retórica normativa e classificadora; tomando-a como espelho da realidade se construiu grande parte dos sistemas metafísicos” (O. F., II, p. 523).

Em Vieira de Almeida filosofar é, axialmente, exame e análise crítica e a admissão da metafísica como algo supra-lógico obviamente relevaria do domínio da impossibilidade. Mas também em relação à ciência, marcada pelo seu teor relacional, progressivo e instrumental impõe-se a vigilância sobre o seu eventual sistematismo, salvaguardada e coerência e sistematicidade que a caracteriza. Essa vigilância decorre, valorativamente, como afirmará, a propósito de todo e qualquer exercício de pensamento onde se exige consequência na estrutura, validade na demonstração e progresso real no conhecimento.

O labor crítico e rigoroso de Vieira de Almeida não se circunscreveu aos domínios da Gnoseologia. O filósofo dedicou-se,também, aos da Filosofia da História e da História da Filosofia

Bibliografia activa

Obra Filosófica, 3 vols, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1986, ed. Joel Serrão e Rogério Fernandes com bibliografia do autor por ordem cronológica (O.F., I, pp. CXXIII-CXXXVI).

Bibliografia passiva

AA.VV.,Vieira de Almeida, Colóquio do Centenário, Lisboa, Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa,1991

Bernardo, Luis Manuel A. V.,O essencial sobre Vieira de Almeida, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008.

-. “Almeida(Francisco Lopes Vieira de)”,Dicionário Crítico de Filosofia Potuguesa,coord. Maria de Lourdes Sirgado Ganho, Lisboa,Círculo de Leitores 2016

Caeiro, Francisco da Gama, “Almeida(Francisco Lopes Vieira de)”,Logos-Enciclopédia Luso Brasileira de Filosofia, vol. I, Lisboa-S. Paulo, Verbo,1989.

Moura, José Barata, “O lugar do conhecimento na concepção de filosofia de Vieira de Almeida”, História do Pensamento Filosófico Português, Lisboa, Círculo de Leitores,1999-2000, Vol. V, T. II, pp. 307-326.

José Manuel Curado, “Lógica em Portugal no século XX”, História do Pensamento Filosófico Português, Lisboa, Círculo de Leitores,1999-2000, Vol. V, T. II pp.335-39

Entrevista de Igrejas Caeiro a Vieira de Almeida

https://www.youtube.com/watch?v=LLEWh79pdaE