ANTÓNIO PAIM

(05/ 05/ 1927-)

Autoria: José Esteves Pereira

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1950

País

Brasil

Data e local de nascimento

7 de maio de 1927, Jacobina, Baía, Brasil

Formação e acção

António Ferreira Paim concluiu na década de 50 de Novecentos os cursos de filosofia da Universidade Lomonosov, em Moscovo e da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro tendo lecionado a partir da década de 60 na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na Universidade Gama Filho de que foi professor titular. Nesta última universidade criou o curso de Doutorado em Pensamento Luso-Brasileiro juntamente com Eduardo Abranches de Soveral, da Universidade do Porto de que resultaram inúmeros estudos, dissertações, seminários, cursos de extensão e vários congressos destinados a uma problematização crítica do pensamento luso-brasileiro cuja repercussão vem até aos nossos dias através dos seus discípulos e pensadores brasileiros e portugueses que continuam a prestar a devida atenção à sua obra.

A formação filosófica de António Paim foi acompanhada, igualmente, de uma preparação técnica no setor dos transportes, do desenvolvimento regional e da agro-indústria tendo colaborado com diversas entidades oficiais na gestão de projetos. Relevante é ainda a participação assídua na imprensa abordando vários temas de natureza política, económica e social. António Paim é membro da Academia Brasileira de Filosofia, do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, do Instituto Brasileiro de Filosofia, do PEN Clube do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia das Ciências de Lisboa e do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira.

Actividade desenvolvida

No decurso da sua atividade docente e intensa pesquisa cumpre destacar a obra de referência História das Ideias Filosóficas no Brasil, atualmente na 5ª edição (Londrina, 1997) acrescentada dos sete volumes de estudos complementares. Fundou, entretanto, o Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro doando para o efeito a sua biblioteca especializada de mais de 10.000 volumes, hoje integrado na Universidade Católica do Salvador /UCSAL (http://noosfero.ucsal.br/biblioteca). António Paim contribuiu ainda, decisivamente, para realização dos Encontros Nacionais (bienais) de Professores e Pesquisadores de Filosofia Brasileira na Universidade Estadual de Londrina.

Muito atento aos problemas da educação refletiu de modo aprofundado sobre as questões universitárias tendo criado um Instituto de Humanidades, com sede em S. Paulo, no sentido de afirmar a tradição humanista e de formação para a cidadania no ensino. Não tem sido menor o seu papel na reedição de autores brasileiros, como Oliveira Viana, cumprindo ainda destacar a organização de um plano para a edição da Obra Completa de Tobias Barreto (1839-1889) que viria a ser ultimada por Luiz António Barreto (1944-2012)

Lema e linha filosófica

Culturalismo de matriz neo-kantiana

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Como afirmou Aquiles Côrtes Guimarães, um dos seus mais subtis intérpretes, foi Kant quem resgatou António Paim do marxismo de juventude no meio da confusão reinante nos anos 40 e 50 do século XX que correspondeu a período marcante na sua formação. A atenção prestada à tradição crítica kantiana conduziu-o a uma atitude diferente perante o mundo, a vida. Foi a instância prática do pensamento kantiano que mais o veio a interessar como aconteceu a outros vultos do pensamento de meados do século XX que procuraram congraçar a autonomia da razão e a liberdade criadora enquanto fundamento da vivência da cultura e de uma “intencionalidade objetivada” (Miguel Reale). A fecunda tarefa empreendida por António Paim na elaboração de uma abordagem crítica das expressões do pensamento brasileiro só se torna compreensível à luz de uma perspetivação crítica do processo civilizacional e, acima de tudo, moral. Como afirmará António Braz Teixeira “qualquer leitura, ainda a menos atenta, da extensa obra historiográfica e especulativa de António Paim não poderá deixar de notar o lugar central que nela ocupa a preocupação e o interesse reflexivo pela problemática ética” (in Filosofia e Cultura-Escritos em Homenagem a António Paim, ora. Aquiles Côrtes Guimarães e Leonardo Prota, Londrina, UEL, 2009, p. 11.). A matriz culturalista do autor de O Liberalismo Brasileiro está ainda presente na sua doutrinação liberal apostada na formulação política institucional que salvaguarde a liberdade cidadã versus o estatismo e as derivas totalitárias. A esse propósito, em muitas das suas reflexões filosófico-políticas emerge uma atitude de posicionamento crítico relativamente ao marxismo que marcou a sua formação de juventude.

A relevância do interesse prestado ao processo civilizacional e à elaboração de uma história crítica do pensamento motivou Paim para aprofundada meditação, também ela, de inspiração kantiana, sobre a validade e a objetividade históricas tendo onipresente as inevitáveis perspectivas particulares e circunstanciais de um dado tempo e lugar. Neste aspecto, s sua reflexão atenta de Raymond Aron contribuiu para o questionamento  recorrente  sobre o alcance da “verdade” histórica concordando com o filósofo francês no sentido de que “todas as grande obras tem uma história póstuma que é a dos seus comentadores e que somente terminará com o desaparecimento da própria humanidade” (cit., p. 65). Esta vigilância crítica que resume toda uma filosofia da história traduz-se, recorrentemente, em Paim, na atenção a prestar a formulação de perspectivas e permanente problematização que é o timbre do seu incessante labor especulativo e de história das ideias.

Bibliografia activa [1]

  • (Obras fundamentais sem inclusão de um vasto número de ensaios)
  • 1966 – A filosofia da Escola do Recife
  • 1967 – História das idéias filosóficas no Brasil
  • 1968 – Cairu e o liberalismo econômico
  • 1972 – Tobias Barreto na cultura brasileira: uma reavaliação
  • 1977 – A ciência na Universidade do Rio de Janeiro (1931-1945)
  • 1977 – Evolução histórica do Liberalismo (com Francisco Martins de Souza, Ricardo Vélez Rodríguez e Ubiratan Borges de Macedo)
  • 1978 – A querela do estatismo
  • 1979 – Bibliografia filosófica brasileira – Período contemporâneo (1931-1977)
  • 1979 – Liberdade acadêmica e opção totalitária (organizado por Antonio Paim)
  • 1981 – A questão do socialismo, hoje
  • 1981 – Os novos caminhos da Universidade
  • 1982 – Curso de Introdução ao pensamento político brasileiro
  • 1982 – Pombal na cultura brasileira (organizado por Antonio Paim)
  • 1983 – Bibliografia filosófica brasileira (1808 -1930)
  • 1983 – Para onde vai a Universidade brasileira?
  • 1984 – História das idéias filosóficas no Brasil
  • 1986 – O estudo do pensamento filosófico brasileiro
  • 1987 – O modelo de desenvolvimento tecnológico implantado pela Aeronáutica
  • 1987 – Problemática do culturalismo
  • 1988 – Curso de Humanidades: História da Cultura (com Leonardo Prota e Ricardo Vélez Rodríguez)
  • 1989 – Curso de Humanidades 2: Política (com Leonardo Prota e Ricardo Vélez Rodríguez)
  • 1989 – Evolução do pensamento político brasileiro (com Vicente Barretto, Ricardo Vélez Rodríguez e Francisco Martins de Souza)
  • 1989 – Oliveira Vianna de corpo inteiro
  • 1991 – A filosofia brasileira
  • 1992 – Modelos éticos: introdução ao estudo da moral
  • 1994 – Fundamentos da moral moderna
  • 1994 – Pensamento político brasileiro (organizado por Antonio Paim)
  • 1995 – O liberalismo contemporâneo
  • 1996 – Curso de introdução histórica ao liberalismo (organizado por Antonio Paim, em colaboração com Francisco Martins de Souza, Ricardo Vélez Rodríguez e Ubiratan Borges de Macedo)
  • 1996 – Educação para a cidadania (com Leonardo Prota e Ricardo Vélez Rodríguez)
  • 1996 – Roteiro para estudo e pesquisa da problemática moral na cultura brasileira
  • 1997 – A agenda teórica dos liberais brasileiros
  • 1997 – As filosofias nacionais
  • 1997 – Curso de Humanidades 3: Moral (com Leonardo Prota e Ricardo Vélez Rodríguez)
  • 1997 – Curso de Humanidades 4: Religião (com Leonardo Prota e Ricardo Vélez Rodríguez)
  • 1998 – Etapas iniciais da Filosofia Brasileira
  • 1998 – História do Liberalismo brasileiro
  • 1998 – O Liberalismo social: uma visão histórica (com José Guilherme Merquior e Gilberto de Mello Kujawski)
  • 1998 – Formação e perspectivas da social-democracia (com Carlos Henrique Cardim e Ricardo Vélez Rodríguez)
  • 1999 – Curso de Humanidades-5. Filosofia (obra em colaboração com Leonardo Prota
  • 2000 – Momentos decisivos de história do Brasil
  • 2000 – Interpretações do Brasil
  • 2002 – Do socialismo à social democracia
  • 2003 – Tratado de Ética
  • 2007 – O Liberalismo contemporâneo (3ª ed. Revista)

Bibliografia passiva (Referências fundamentais)

AA. VV. Anais do 4º Encontro Nacional de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira. Dedicados à obra de António Paim. Londrina, UEL/CEFIL, 1996

Capalbo, Creuza, António Paim e Kant, Rev. Bras, de Fil., vol. 44, 186 (abril-junho 1997), pp. 184-186.

AA.VV. Filosofia e cultura-escritos em homenagem a António Paim, org., Aquiles Côrtes Guimarães; Leonardo Prota, Londrina, Edições Humanidades, 2009.

Rodriguez, Ricardo Velez, António Paim, https://www.ensayistas.org/filosofos/brasil/paim/ (Consultado em 13/05/2020)