JOSÉ LUIS ROMERO

José Luis Romero

(1909-1977)

Autoria: Felipe Sánchez

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1930 (Generación del Centenario)

País: Argentina

Data e local de nascimento

Buenos Aires, 24 de março de 1909

Formação e Acção

José Luis Romero foi um historiador argentino formado na Universidad de La Plata, onde completou o seu doutoramento em 1939 com uma dissertação sobre a crise da república romana. Vinculou-se à mesma instituição como professor, mas foi demitido em 1945 nas vésperas do ascenso ao poder do líder populista Juan Domingo Perón. Esse ano tinha-se juntado ao Partido Socialista, no qual foi membro da comissão de Cultura e diretor do jornal El Iniciador e no qual militou ativamente sobretudo na segunda metade da década de cinquenta. Em 1949, começou a trabalhar na Universidad de la República, em Montevidéu, mas a proibição das viagens à capital uruguaia por parte do governo peronista em 1953 o obrigou a renunciar a sua vaga. Seis anos depois, em 1955, após a queda de Perón, foi nomeado reitor interventor da Universidad de Buenos Aires, em cuja Faculdade de Filosofia e Letras voltou a dar aulas em 1958. Ali foi também decano entre 1962 e 1965, ano em que se reformou. Morreu inesperadamente em 1977 em Tóquio, onde participava de uma reunião do Conselho da Universidade das Nações Unidas.

Actividade desenvolvida

José Luis Romero foi fundamentalmente um historiador da cultura e das mentalidades ocidentais, num marco amplo que abrangeu desde o mundo clássico até a presença europeia na América. A sua atividade intelectual foi imensa e compreendeu a publicação de centenas de artigos e dezenas de livros, alguns deles imprescindíveis no pensamento latino-americano. O primeiro ciclo da sua obra centra-se no estudo da antiguidade clássica e da idade média, com títulos como El estado y las facciones en la Antigüedad (1938), La crisis de la república romana. Los Gracos y la recepción de la política imperial helenística (1942), Las cruzadas e Maquiavelo historiador (os dois de 1943). O ano de 1946 marcou um ponto de inflexão na sua trajectória com a aparição de Las ideas políticas en Argentina, numa altura em que juntou definitivamente a reflexão sobre o seu país e a América Latina à reflexão sobre o mundo occidental no seu conjunto. A maior e melhor expressão desta síntese apresentar-se-ia em 1976 com a publicação da sua obra-prima, Latinoamérica: las ciudades y las ideas. Entretanto, participou em vários projectos editoriais, fundou cátedras e foi convidado a lecionar seminários em instituições como a Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris e a Universidade Hebraica de Jerusalém, entre outras. No momento da sua morte, desenvolvia um projecto de quatro volumes intitulado Proceso histórico del mundo occidental, que abarcava o ciclo revolucionário da burguesia entre os séculos III e XX, e do qual só chegou a publicar o primeiro, La revolución burguesa en el mundo feudal (1967). Em 1980, foi publicado postumamente e incompleto o segundo, Crisis y orden en el mundo feudoburgués.

Data e local de falecimento

Tóquio, março de 1977 (67 anos)

Lema e linha filosófica

A perspectiva de José Luis Romero corresponde ao que, em termos do historiador francês Fernand Braudel, denomina-se a longa duração. Romero concebia a história como um ciclo prolongado de crises (revoluções) e novas ordens, que no caso do Ocidente incluía não só o propriamente europeu, mas também a incorporação do continente americano à cultura ocidental. O fato de que Romero concedesse uma importância central às ideias e aos valores como motores e efeitos das mudanças históricas o pôs muito perto, porém numa trilha independente, dos historiadores das mentalidades da escola dos Annales. Além da influência desta última, também foi muito importante para si a teoria de Marx, apesar de que em rigor não seja correcto considerá-lo marxista.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

O grande projecto de José Luis Romero foi o estudo do mundo ocidental. As suas pesquisas beneficiaram-se da inclusão da América Latina nesse horizonte, não só na medida em que a análise da Europa lhe permitiu esclarecer aspectos centrais do latino-americano, mas também porque a especificidade da história da região ajudou-lhe a ler com um olhar diferente os acontecimentos propriamente europeus. Bom exemplo disto é a sua interpretação da Roma dos Gracos, que, segundo críticos como Rafael Gutiérrez Girardot, aborda com uma sensibilidade aguçada pelo conhecimento da crise das sociedades hispano-americanas no período prévio aos processos de independência. No sentido inverso, a sua obra responde uma das questões fundamentais do ensaísmo e das ciências sociais na América Latina: a pergunta pela originalidade do latino-americano. A conclusão de Romero, baseada íntegramente nas suas pesquisas historiográficas, é que a história da região está constituída por elementos que enquadram-se no marco ocidental mas que vão muito além da mera cópia ou reflexo das ideias e do contexto europeu.

O labor de Romero lembra, nesse sentido, o célebre postulado de Jorge Luis Borges, segundo o qual a tradição da América Latina é a da Europa. Porém, o historiador argentino é mais enfático na capacidade que as sociedades latino-americanas têm na transformação dessa tradição. Romero assinala a importância, nos processos de assimilação, do que em 1946 definiu como a “significación nacional” (o mesmo que depois o seu compatriota Juan José Saer chamaria de “sabor único de un idioma, una época y un lugar”). O historiador britânico Peter Burke reconhece a aportação de Romero neste âmbito, que situa na história da recepção, e, num sentido mais amplo, valoriza também a contribuição geral do sulamericano à história das mentalidades no Ocidente, sobretudo pela exposição que faz na introdução ao Estudio de la mentalidad burguesa (1987). Na mesma direcção, o historiador francês Jacques Le Goff elogia o trabalho de Romero como medievalista (“[i]nventó el término que, sin lugar a duda, quedará por largo tiempo ligado a esta época: el de feudoburgués, una de las grandes innovaciones del vocabulario historiográfico”) e avalia a sua obra como uma das mais importantes na historiografia da segunda metade do século XX.

As influências de Romero foram muito variadas. Em primeiro lugar, as já mencionadas escola dos Annales (da que foi interlocutor mais do que epígono) e a obra de Marx, mas também a nova história económica, a sociologia desenvolvida nos Estados Unidos e a obra de pensadores argentinos como Domingo Faustino Sarmiento. Burke propõe uma listagem mais específica de possíveis influências a partir das perspectivas de Romero na abordagem dos temas: Burckhardt e Warburg (individualismo e história da cultura), Auerbach (realismo), Huizinga (formas de vida), Ortega y Gasset (ideias e crenças), Dilthey (conceitos sobre o mundo) e Mannheim (ideologias e mentalidades).

Bibliografia activa

El estado y las facciones en la Antigüedad. Buenos Aires, Colegio Libre de Estudios Superiores, 1938.

La crisis de la república romana. Los Gracos y la recepción de la política imperial helenística. Buenos Aires, Losada, 1942.

Las cruzadas. Buenos Aires, Atlántida, 1943.

Maquiavelo historiador. Buenos Aires, Nova, 1943.

Los contactos de cultura. Bases para una morfología. Buenos Aires, Institución Cultural Española, 1944.

Historia de Roma y la Edad Media. Buenos Aires, Estrada, 1944.

Historia universal. Buenos Aires, Atlántida, 1944.

Diccionario de Historia Universal. Buenos Aires, Atlántida, 1944.

Historia moderna y contemporánea. Buenos Aires, Estrada, 1945.

Historia Universal. Buenos Aires, Estrada, 1945.

Historia de la Antigüedad y de la Edad Media. Buenos Aires, Estrada, 1945.

La historia y la vida. Tucumán-Buenos Aires-La Plata, Yerba Buena, 1945.

Sobre la biografía y la historia. Buenos Aires, Sudamericana, 1945.

Las ideas políticas en Argentina. México, Fondo de Cultura Económica, 1946.

El ciclo de la revolución contemporánea. Bajo el signo del 48. Buenos Aires, Argos, 1948.

La Edad Media. México, Fondo de Cultura Económica, 1949.

De Heródoto a Polibio. El pensamiento histórico de la cultura griega. Buenos Aires, Espasa Calpe, 1952.

La cultura occidental. Buenos Aires, Columba, 1953.

Argentina. Imágenes y perspectivas. Buenos Aires, Raigal, 1956.

Introducción al mundo actual. La formación de la conciencia contemporánea. Buenos Aires, Galatea-Nueva Visión, 1956.

Breve historia de la Argentina. Buenos Aires, Eudeba, 1965.

El desarrollo de las ideas en la sociedad argentina del siglo XX. México, Fondo de Cultura Económica, 1965.

Latinoamérica: situaciones e ideologías. Buenos Aires, Ediciones del Candil, 1967.

La revolución burguesa en el mundo feudal. Buenos Aires, Sudamericana, 1967.

El pensamiento político de la derecha latinoamericana. Buenos Aires, Paidós, 1970.

Latinoamérica: las ciudades y las ideas. Buenos Aires, Siglo XXI Editores, 1976.

Obras póstumas

Estado y sociedad en el mundo antiguo. Luis Alberto Romero (compil.). Buenos Aires, Editorial de Belgrano, 1980.

La experiencia argentina y otros ensayos. L. A. Romero (compil.). Buenos Aires, Editorial de Belgrano, 1980.

Crisis y orden en el mundo feudoburgués. México, Siglo XXI Editores, 1980.

Situaciones e ideologías en América Latina. L. A. Romero (compil.). México, Universidad Nacional Autónoma de México, 1981.

Las ideologías de la cultura nacional y otros ensayos. L. A. Romero (sel.). Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1982.

Historia, sociedad, cultura y praxis política en José Luis Romero. Jaime Jaramillo Uribe (compil.). Alicante, Instituto de Cultura Juan Gil-Albert, 1983.

El drama de la democracia argentina. L. A. Romero (compil.), Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1983.

¿Quién es el burgués? y otros estudios de historia medieval. L. A. Romero (compil.). Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1983.

Estudio de la mentalidad burguesa. L. A. Romero (ed.). Buenos Aires, Alianza Editorial, 1987.

El caso argentino y otros ensayos. L. A. Romero (sel.). Buenos Aires, Hyspamérica, 1987.

La vida histórica. L. A. Romero (compil.). Buenos Aires, Sudamericana, 1987.

La crisis del mundo burgués. Ensayos compilados por L. A. Romero (compil.). Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica, 1997.

El pensamiento político latinoamericano. Compilado por L. A. Romero (compil.). Buenos Aires, A-Z, 1998.

El obstinado rigor. Hacia una historia cultural de América Latina. Alexander Betancourt Mendieta (compil.). México, UNAM-Centro Coordinador y Difusor de Estudios Latinoamericanos, 2002.

La ciudad occidental. Culturas urbanas en Europa y América. Laura Muriel Horlent Romero y L. A. Romero (eds.). Buenos Aires, Siglo XXI Editores, 2009.

El gran teatro del mundo. Historias de la historia. María Luz Romero (ed.). Buenos Aires, Emecé, 2012.

Bibliografia passiva

ACHA, Omar. La trama profunda. Historia y vida en José Luis Romero. Buenos Aires, Ediciones El cielo por Asalto, 2005.

BAGÚ, Sergio, et al. De historia e historiadores. Homenaje a José Luis Romero. México, Siglo XXI Editores, 1982.

BETANCOURT MENDIETA, Alexander. Historia, ciudad e ideas. La obra de José Luis Romero. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2001.

BURUCÚA, José Emilio, Fernando Devoto, e Adrián Gorelik (eds.). José Luis Romero. Vida histórica, ciudad y cultura. San Martín, UNSAM Edita, 2013.