MARILENA de SOUZA CHAUI

(04/09/1941 – )

Autoria: José Eliézer Mikosz

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1970

País

Brasil

Data e local de nascimento

Pindorama (SP-Brasil), 04 de Setembro de 1941.

Formação e acção

Marilena é filha do jornalista Nicolau Alberto Chaui e da professora Laura de Souza Chaui. Realizou seus estudos primários no Grupo Escolar de Pindorama no interior de São Paulo, continuando a sua formação secundária no Colégio Nossa Senhora do Calvário, na cidade de Catanduva e concluindo-o no Colégio Estadual Presidente Roosevelt, na capital.

Graduou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1965) onde fez mestrado (1967) com uma dissertação intitulada: “Merleau-Ponty e a crítica do humanismo”. Doutorou-se na mesma universidade (1971) com uma tese sobre as ideias do filósofo Baruch Espinoza, orientada pela Profa. Gilda Rocha de Mello.

Professora Titular em História da Filosofia Moderna pela Universidade de São Paulo (1986) onde ainda hoje é Professora Sênior, tendo o grau de livre-docente desde 1977.

Actividade desenvolvida

É uma das intelectuais com formação em Filosofia mais reconhecidas do Brasil e uma das mais influentes intelectuais do país, com vasta e reconhecida obra. Também se destaca pela atuação política, tendo combatido a ditadura militar e participado da gestão da prefeitura de São Paulo como membro do Partido dos Trabalhadores, partido político de que é uma das fundadoras e ativa militante. Seu trabalho e produção acadêmica alcançaram também pessoas desvinculadas das instituições de ensino formais, pois conseguiu conquistar grande êxito com trabalhos escritos em estilo didático singelo, de fácil compreensão aos leigos.

Atuante não apenas em âmbito acadêmico, mas também no meio intelectual e político brasileiro, Marilena integra o Partido dos Trabalhadores, uma instituição que ela ajudou a fundar na década de 1980. O seu posicionamento de esquerda é assumido desde os anos que passou sob o regime de ditadura militar, sobre os quais recorda sobretudo o medo e a vigilância coerciva. Foi uma Resistente ao regime militar e com outros professores criou o que chamavam de “grupo de amigos” que se dedicavam em abrigar perseguidos e se certificarem de que os apreendidos ainda estavam vivos, e se dedicavam ainda à crítica ao autoritarismo por relação à Filosofia Antiga.

Durante o mandato da ex-Prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, (1989-1992), Chaui atuou como líder da Secretaria Municipal de Cultura daquela cidade e teve um papel bastante crítico relativamente ao ex-prefeito Paulo Maluf, acusando-o de desonestidades eleitorais e de manipular o medo dos cidadãos.

Desde então foi sempre uma intelectual com um posicionamento político explícito. Em maio de 2016, Marilena Chaui afirmou que a sociedade brasileira “está prontinha, acabadinha para o universo fascista”, se referindo ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, no processo de impeachment. Em julho de 2016, Marilena Chauí acusou o juiz Sérgio Moro de ser treinado pelo FBI. Marilena afirmou também que a Operação Lava Jato faria parte de um suposto plano dos Estados Unidos para retirar a soberania do Pré-Sal do Brasil.

Sempre assumindo posições polémicas e corajosas, sua voz se faz ouvir de forma activa, denunciante e crítica, numa linha de esquerda que muitas vezes desagrada à própria esquerda pela independência do seu pensamento que visa acima de tudo a ética social, a liberdade e o respeito pelas diferenças e minorias.

Lema e linha filosófica

Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: democracia, política, direitos, cidadania e luta de classes.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

A Liberdade e necessidade na ética de Espinoza é um tema decisivo na sua vasta obra, desde os tempos do seu Doutorado. Tem como objetivo o exame da tradição interpretativa da obra deste filósofo em vista a refutar a tese corrente segundo a qual a filosofia de Espinoza seria uma filosofia da necessidade absoluta que recusa vontade livre para Deus e para o homem, o que seria incompatível com uma ética da liberdade.

A elaboração espinoziana de uma ciência dos afetos (ruptura com a tradição da contingência e afirmação da necessidade) é outro dos temas da sua investigação, onde examinar os conceitos e os procedimentos empregados por Espinoza para romper com a tradição greco-latina da contingência do pathos e da consequente impossibilidade de uma ciência das paixões e das ações humanas. Essa ruptura implicará ainda numa subversão teórica sem precedentes, pois afastar a contingência na vida afetiva significa também afastar pressupostos cristãos e modernos, a saber, as imagens da vontade como livre-arbítrio e da razão como poder de governo absoluto das paixões.

A sua obra debruça-se também de modo central na área das Ciências Humanas com uma produtividade ímpar e exemplar onde tem cruzado a Filosofia, com a Cidadania, a Democracia, Direitos Humanos, Cultura Popular, Educação, Política, etc.

Bibliografia activa

CHAUI, M. S. Em defesa da educação pública, gratuita e democrática. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. 573p.

CHAUI, M. S. Sobre a Violência. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. 317p.

CHAUI, M. S. Iniciação à Filosofia. 1. ed. São Paulo: Editora Ática, 2017. 400p .

CHAUI, M. S. Conformismo e resistência. 1. ed. São Paulo: Autêntica Editora, 2014. v. 1. 331p.

CHAUI, M. S. A ideologia da competência. 1. ed. São Paulo: Autêntica Editora, 2014. 224p.

CHAUI, M. S. Spinoza e as Américas. 1. ed. Fortaleza: EdUECE, 2014. 398p.

CHAUI, M. S. O Ser Humano é um Ser Social. 1. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. v. 1. 152p.

CHAUI, M. S. Iniciação à Filosofia. 1. ed. São Paulo: Editora Ática, 2012. v. 1. 520p.

CHAUI, M. S. Between Conformity and Resistence. Essays on Politics, Culture and the State. 1. ed. New York: Palgrave Macmillan, 2011. v. 1. 256p.

CHAUI, M. S. Desejo, Paixão e Ação na Ética de Espinosa. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. v. 1. 356p.

CHAUI, M. S.; SAVIAN FILHO, J. . Boas-vindas à filosofia. 1. ed. Martins Fontes: São Paulo, 2010. 55p.

CHAUI, M. S. Filosofia. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 2010. 280p.

CHAUI, M. S. Simulacro e poder : uma análise da mídia. 2. ed. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2010. 142p.

CHAUI, M. S. Introdução à História da Filosofia; Volume II: As escolas helenísticas. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 388p.

CHAUI, M. S. Filosofia. Novo ensino médio. São Paulo: Ática, 2008. 280p.

CHAUI, M. S. Cultura e democracia. O discurso competente e outras falas. Nova edição revista e ampliada. 11. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2006. 367p.

CHAUI, M. S. Simulacro e poder. Uma análise da mídia. 1. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006. 142p.

CHAUI, M. S. Cidadania cultural. O direito à cultura. 1. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006. 147p.

CHAUI, M. S. Spinoza e la política. 1. ed. Milão: Edizionin Ghilbi, 2005. 307p .

CHAUI, M. S. Política em Espinosa. 1. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2003. v. 1. 338p.

CHAUI, M. S. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. 10. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2003. 309p.

CHAUI, M. S. Experiência e pensamento: ensaios sobre a obra de Merleau-Ponty. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 326p.

CHAUI, M. S. Introdução à história da filosofia 1 – Dos pré-socráticos a Aristóteles. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 539p.

CHAUI, M. S. Filosofia. 1. ed. São Paulo: Editora Ática, 2001. 232p.

CHAUI, M. S. Escritos sobre a universidade. 1. ed. São Paulo: Editora da UNESP, 2001. 205p.

CHAUI, M. S. Brasil – mito fundador e sociedade autoritária. 1. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2000. 103p.

CHAUI, M. S. Nervura do Real. Imanência e Liberdade Em Espinosa. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 1233p.

CHAUI, M. S. Merleau-Ponty – la experiencia del pensamiento. 1. ed. Buenos Aires: Colihue, 1999. 166p.

CHAUI, M. S.; ÉVORA, F. R. R. (Org.) . Figuras do Racionalismo. 1. ed. Campinas: Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia, 1999. 177p.

CHAUI, M. S. Espinosa: uma filosofia da liberdade. 1/5. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1995. 111p.

CHAUI, M. S. Introdução a história da filosofia. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 390p.

CHAUI, M. S. Convite à filosofia. 1. ed. São Paulo: Ática, 1994. 440p .

CHAUI, M. S. Cultura e democracia (edição ampliada). 4/8. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1989. 309p.

CHAUI, M. S. Conformismo e resistência. Aspectos da cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1986. 179p.

CHAUI, M. S. Repressão sexual, essa nossa (des)conhecida. São Paulo: Brasiliense, 1982.

CHAUI, M. S. Seminários sobre o nacional e o popular na cultura. São Paulo: Brasiliense, 1982.

CHAUI, M. S. Discurso da servidão voluntária. Etienne de la Boétie. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. 239p.

CHAUI, M. S. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 1/3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1981.

CHAUI, M. S. Da realidade sem mistérios ao mistério do Mundo (Espinosa, Voltaire e Merleau-Ponty). 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.

CHAUI, M. S. O que é ideologia?. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1980.

CHAUI, M. S. Apontamentos para uma crítica da razão integralista. 1. ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1978.

Bibliografia passiva

FLANNERY, Mércia Regina Santana. “Between Conformity and Resistance: Essays on Politics, Culture, and the State by Marilena Chauí”. Hispanic Review: 380–383. doi:10.1353/hir.2013.0023, 2013. Disponível em <https://repository.upenn.edu/roml_papers/4/>

BIGNOTTO, Newton. “Le Brésil à la recherche de la démocratie”. Problemes d’Amerique latine. N° 98 (3): 21–36. 2015. Disponível em <https://www.cairn.info/revue-problemes-d-amerique-latine-2015-3-page-21.htm#>

SAVIAN FILHO, Juvenal; Socha, Eduardo. “Entrevista – Marilena Chauí – Revista Cult”. Disponível em <https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-marilena-chaui/>.

SANTIAGO, Homero Silveira; SILVEIRA, Paulo Henrique Fernandes. “Percursos de Marilena Chaui: filosofia, política e educação”. Educação e Pesquisa. 42 (1): 259–277. doi:10.1590/s1517-97022016420100201, 2016. Disponível em <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022016000100259&script=sci_abstract&tlng=pt>

“Especial Marilena Chaui”. Cadernos Espinosianos. 2017. Disponível em <http://www.revistas.usp.br/espinosanos/issue/view/9760>

LEMOS, Flávia Cristina Silveira. “O Estatuto da Criança e do Adolescente em discursos autoritários”. Fractal: Revista de Psicologia. 21 (1): 137–150. doi:10.1590/s1984-02922009000100011, 2009. Disponível em <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-02922009000100011>

ROSA, Edinete Maria; Tassara, Eda Terezinha de Oliveira. “Violência, ética e direito: implicações para o reconhecimento da violência doméstica contra crianças”. Psicologia: Ciência e Profissão. 24 (3): 34–39. ISSN 1414-9893. doi:10.1590/s1414-98932004000300005, 2004. Disponível em <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932004000300005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>

RAMOS, Silvana de Souza. “DEMOCRACIA E CULTURA POPULAR NA OBRA DE MARILENA CHAUI”. Cadernos Espinosanos. 35: 43–61. ISSN 2447-9012. doi:10.11606/issn.2447-9012.espinosa.2016.124036, 2016. Disponível em <http://www.revistas.usp.br/espinosanos/article/view/124036>