JOSÉ GAOS [Y GONZÁLEZ POLA]

 (1900-1969)

Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo

Horizonte geracional

Geração “del 27”

País

Espanha

Data e local de nascimento

26 de Dezembro de 1900 – Gijón

Formação e acção

José Gaos iniciou a escolaridade na sua cidade natal e deu-lhe continuidade no Colegio Santo Domingo de Oviedo e no Instituto Luis Vives de Valencia, cidade esta onde viveu desde os quinze anos e onde começaria os seus estudos universitários. Mas foi na Universidad Central de Madrid que se licenciou, em 1923, tendo tido García Morente e Ortega y Gasset como seus grandes mestres. Xavier Zubiri representou também uma influência importante, no que diz respeito, em particular, ao conhecimento do pensamento de Heidegger, para além de ter sido o Orientador da sua tese de Doutoramento.

Após licenciar-se, Gaos, que era grande admirador da cultura francesa, foi durante um ano Leitor de Espanhol na École Normale d’Instituteurs de Montpellier. Quando regressou a Espanha, leccionou Filosofia no Instituto de Enseñanza Media de Valencia, ao mesmo tempo que preparava o Doutoramento, concluído em 1928 com a tese “La crítica del psicologismo en Husserl”.

De 1928 a 1930, ensinou Filosofia no Instituto de Enseñanza Media de León, antes de obter a cátedra de Lógica y Teoría del Conocimiento da Universidad de Zaragoza. Em 1932, obteve a de Introducción a la Filosofía na Universidad de Madrid, universidade da qual, tendo aderido à República, se tornará Reitor em 1936. Em plena guerra civil, será ainda Presidente da Junta de Relações Culturais de Espanha com o Exterior e do comissariado espanhol na Exposição Internacional de Paris, em 1937. Contudo, no ano seguinte rumará ao México, onde, nomeadamente na Universidad Nacional Autónoma (UNAM), desenvolveria uma parte importante da sua carreira e acabaria por falecer, em 1969.

Actividade desenvolvida

José Gaos desenvolveu a sua actividade como docente de Filosofia no Ensino Secundário, primeiramente, e, a partir de 1930, como professor universitário, tendo-se distinguido num período de alterações profundas na vida espanhola e também, mais tarde, como expatriado no México. A par da docência, foi conferencista em muitos países e um importante tradutor, tanto de autores antigos (por exemplo, Heraclito, Parménides, Platão, Aristóteles), como de autores modernos e contemporâneos, sobretudo franceses e alemães (por exemplo, Husserl, Scheler, Hartmann, Jaspers, Lavelle, Heidegger). A sua obra abarca artigos publicados em numerosas revistas e livros reveladores do seu amplo saber filosófico e de uma capacidade de trabalho que as vicissitudes da vida não diminuíram.

Data e local de falecimento

10 de Junho de 1969 (68 anos) – Ciudad de México

Lema e linha filosófica

O problema central da investigação filosófica de José Gaos é o da historicidade da Filosofia, pelo que uma boa parte das suas obras podem ser lidas como tematizações da pluralidade das filosofias e da relação que têm com a sua história. O título Filosofía de la filosofía e historia de la filosofía (de um livro publicado no México, em 1947) sintetiza, quase como um lema, as principais linhas de trabalho do Autor.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Numa perspectiva geral, a obra de José Gaos pode considerar-se uma filosofia da Filosofia, de acordo com uma designação que ele mesmo adoptou (desde meados da década de 30). Iniciado no neokantismo e na fenomenologia, graças aos seus mestres de Madrid, e particularmente influenciado pelas doutrinas orteguianas, Gaos analisou minuciosamente as propostas de grandes pensadores de todas as épocas até chegar a uma compreensão própria da história da Filosofia como história de filosofias pessoais, que, em última instância, ainda que tenham uma raiz comum, serão incompreensíveis para outros que não, em cada caso, o respectivo autor. Ainda que haja uma certa correspondência entre os conceitos compreendidos em diferentes obras filosóficas – aspecto que permite reconhecer alguma unidade na Filosofia e a sua continuidade histórica –, os filosofemas são afectados de extrema pluralidade histórica, porquanto, não apenas o eu de quem filosofa, mas também o pensamento verbalmente expressado por esse sujeito, são marcados pela experiência ou situação individual. Portanto, o conhecimento possível acerca da realidade exterior radica no indivíduo que interroga e a Filosofia, na personalidade de quem filosofa, o que configurará o pensamento gaosiano como um personismo.

A proximidade a Ortega e ao seu pensamento mais vigoroso da primeira metade dos anos 30 levou Gaos, mesmo quando a guerra civil já os tinha afastado muito, a incorporar a vocação de atender à circunstância. E, se a filosofia do seu mestre madrileno era parte fundamental da sua própria circunstância, era-o alargadamente o pensamento de língua espanhola, a cuja dimensão hispano-americana o filósofo asturiano dedicaria muitas páginas (cf. El pensamento hispanoamericano, em 1944, Antología del pensamiento de lengua española en la edad contemporánea e Pensamiento de lengua española, em 1945), bem como os necessários esforços, por exemplo, na dinamização de actividades de La Casa de España en México (entretanto transformada em El Colegio de México) e na formação do Grupo Hisperión (1948-1952).

Assim, José Gaos viria a ter, no país que o acolheu, um papel importante na formação e projecção de intelectuais como, entre outros, Manuel Cabrera, Augusto Salazar Bondy (peruano), Fernando Salmerón, Emilio Uranga, Luis Villoro e Leopoldo Zea. A publicação de livros como os dois volumes de En torno a la filosofia mexicana (1952 e 1953) e Filosofía mexicana de nuestros días (1954) assumem claramente a tarefa de dar a conhecer e exemplificar um pensamento em língua espanhola a que ficaria ligado ainda por lhe ter sido reconhecida a nacionalidade mexicana, em 1941.

Colocando-se sempre na esteira da fenomenologia, que demonstrara conhecer bem já na juventude (v.g., na sua tese de Doutoramento, publicada em 1960, a seguir a Introducción a la fenomenología), dedicou-se, na última etapa do seu pensamento, à compreensão do ser humano nos seus traços distintivos. Gaos, que, nas suas conferências dadas em 1944, na Universidad de Nuevo León, em Monterrey – cf. Dos exclusivas del hombre: la mano y el tiempo (1945) –, começara por destacar as características humanas de ter mãos e ter consciência da temporalidade, irá realizar uma minuciosa análise fenomenológica das expressões verbais, nomeadamente as filosóficas, que conduzem o Autor aos conceitos de existência, entidade, finitude e infinitude – cf. De la filosofia. Curso de 1960 (1962) – e à elaboração de uma antropologia filosófica, patente desde o título em De antropologia e historiografia (1967) e, por fim, em Del hombre (Curso de 1965), já de publicação póstuma, em 1970.

Bibliografia activa

GAOS, José – Obras completas. 19 tomos. Coord.s: Fernando Salmerón (até 1997) e Antonio Zirión Quijano. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1982-2018.

Bibliografia passiva

ABELLÁN, José Luis – “La contribución de José Gaos a la historia de las ideas en Hispanoamérica”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 205-231.

ARANGUREN, José Luis – “Expresiones verbales y expresiones filosóficas en el contexto De la filosofía, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 157-163.

CARDIEL REYES, Raúl – “Filosofía de la Filosofía”, Cuadernos Americanos, Vol. CLXVI, n.º 5 (1969), 45-58.

CASTRO, Octavio – Estancias y visiones de un transterrado. Xalapa: Universidad Veracruzana, 1993.

ESCOBAR VALENZUELA, Gustavo – “José Gaos y la enseñanza de la filosofía”, Casa del Tiempo, IV, n.º 26-27 (2010), 101-107.

FERNÁNDEZ, Justino – “Carta de José Gaos a Julio Montes”, Cuadernos Americanos, Vol. CLXVI, n.º 5 (1969), 59-68.

FERNÁNDEZ, Justino – “Una indagación estética del Dr. José Gaos”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 253-264.

GOMEZ ROBLEDO, Antonio – “Mis recuerdos de Gaos”, Cuadernos Americanos, Vol. CLXVI, n.º 5 (1969), 69-73.

GUY, Alain – “El tiempo en la filosofía de José Gaos”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 172–186.

HERNÁNDEZ LUNA, Juan – “En torno a un curso sobre el historicismo del maestro José Gaos,” Cuadernos Americanos, Vol. CLXVI, n.º 5 (1969), 74–80.

LARROYO, Francisco – “El filosofar de José Gaos en exposición genética”, Cuadernos Americanos, Vol. CLXVI, n.º 5 (1969), 81-101.

NAESSENS, Hilda – “La idea de hombre en José Gaos”, Anales del Seminario de Historia de la Filosofía, Vol. 26 (2009), 273-294.

NAVARRO, Bernabé – “El pensamiento griego en la obra de José Gaos”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 232-252.

RECASÉNS SICHES, Luis – “Gaos y José Ortega y Gasset”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 279-287.

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RODRÍGUEZ NEIRA, Teófilo – “José Gaos: la idea de mundo”, El Basilisco, n.º 16 (1983-1984), 75-82.

ROMANELL, Patrick – “Tributo a José Gaos”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 288-292.

RUKSER, Udo – “José Gaos. Sobre El origen y la historia de la filosofía, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 187-204.

SALAZAR BONDY, Augusto – “Un tema de Gaos: abstracción y verdad”, Diánoia, Vol. XVI, n.º 16 (1970), 164-171.

SALMERÓN, Fernando – “José Gaos: su idea de la filosofía,” Cuadernos Americanos, Vol. CLXVI, n.º 5 (1969), 102–129.

SALMERÓN, Fernando – “Jornadas filosóficas. La primera autobiografía de José Gaos”, Lecturas Mexicanas, Segunda Serie, 109 (1988), 239-259.

SALMERÓN, Fernando – Los estudios cervantinos de José Gaos, seguido de un ensayo inédito de José Gaos y un comentario final de Carlos Montemayor. Ciudad de México: El Colegio Nacional, 1994.

SALMERÓN, Fernando – Escritos sobre José Gaos. Ciudad de México: El Colegio de México, 2000.

SEVILLA, Sergio; VÁZQUEZ GARCÍA, Manuel E. (Eds.) – Filosofía y Vida: debate sobre José Gaos. Madrid: Biblioteca Nueva, 2013.

TORRES ROJO, Luis Arturo – Tiempo histórico e historiografía en el pensamiento filosófico de José Gaos. [Tesis doctoral] El Colegio de México, 2009.

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ZIRIÓN QUIJANO, Antonio – “Notes about the phenomenology of José Gaos”, Analecta Husserliana, Vol. LIV (1998), 331-344.