(1909 – 1996)
Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo
Horizonte geracional
GERAÇÃO DO PÓS-GUERRA CIVIL
País
Espanha
Data e local de nascimento
Ávila, 9 de Junho de 1909
Formação e acção
Tendo começado os seus estudos no Colégio de Jesuítas de Chamartín de la Rosa, Aranguren realizou a formação universitária na Universidad Central de Madrid. Aí concluiu a Licenciatura em Direito, em 1931, ano em que se matriculou na Facultad de Filosofía y Letras, por ter descoberto o seu interesse pela Filosofia.
Apesar de ter realizado trabalho jurídico por um curto período e de ter sido mobilizado durante a guerra civil, foram a leitura de obras de numerosos autores e a reflexão filosófica que marcaram o seu trajecto de intelectual, cujo primeiro livro, La filosofía de Eugenio D’Ors, foi publicado em 1945.
Doutorou-se em Filosofia, em 1951, com a tese “El protestantismo y la moral” e no ano seguinte publicou Catolicismo y protestantismo como formas de existencia.
Em 1955, concorreu e ganhou a cátedra de Ética y Sociología da Facultad de Filosofía y Letras. Passados dez anos, foi-lhe aberto um processo e foi-lhe retirada a cátedra, por ter apoiado uma reivindicação estudantil de formação de associações universitárias independentes da oficial (SEU).
Só em 1976, com a transição democrática, voltaria a ocupar uma cátedra na Universidad Complutense. Jubilou-se em 1979, mas a sua presença em Espanha continuou a ser muito visível, tanto como autor de conferências e artigos, como em entrevistas nos jornais.
Actividade desenvolvida
Na sua primeira etapa como catedrático de Ética y Sociología, entre 1955 e 1965, López Aranguren desenvolveu uma intensa actividade docente e destacou-se também pela organização de seminários de especialidade e pela sua abordagem monográfica de certos temas, o que foi parcialmente traduzido em publicações como Ética (1958), Ética y política (1963) e La comunicación humana (1965).
Na década seguinte, posteriormente a ter-lhe sido retirada a cátedra, prosseguiu o seu trabalho como conferencista e professor convidado no estrangeiro, em diversos países, como Suécia, Dinamarca, França, Itália, México e Estados Unidos, onde acabaria por obter um lugar de professor permanente na University of California (Santa Bárbara). Após um período muito marcado, não apenas pelo diálogo com o protestantismo e pela busca de um catolicismo enquadrado no mundo contemporâneo, mas também pela abertura à compreensão do desígnio emancipador do marxismo e ao contraste entre a correspondente aspiração moral e a esperança cristã, Aranguren mostrou-se igualmente atento à investigação social empírica e às contribuições da filosofia analítica no domínio da moral. A etapa californiana, em particular, atrai-lo-á para a experiência da “contracultura” e para os temas da emancipação da mulher, da sociedade de consumo, do erotismo, e para a tendência de demonização do poder.
Depois do regresso a Espanha, Aranguren assume a tarefa de libertar a ética do formalismo da análise da linguagem moral, graças ao recurso aos métodos da nova crítica literária. Dedica-se, então, a uma “ética narrativa” que vem, no último período de actividade, comprovar um intuito sistemático do Autor de ser fiel ao seu tempo.
Data e local de falecimento
Madrid, 17 de Abril de 1996
Lema e linha filosófica
Embora tenha difundido em Espanha diversas correntes filosóficas contemporâneas, Aranguren não se inscreveu em nenhuma delas. Foi sempre a discussão dos problemas éticos por filósofos dessas correntes o que o levou a introduzir nas suas reflexões alguns temas pouco discutidos pelos seus compatriotas e a fazê-lo com a convicção de que o intelectual deve ser a voz dos que não têm voz.
Linha filosófica e caracterização geral da obra
Ao ocupar, em 1955, a cátedra de Ética y Sociología, Aranguren é como que levado, pelo acaso administrativo da junção de duas cátedras, a aprofundar a relação entre o domínio ético e sociológico. O seu predecessor na cátedra de Ética, Manuel García Morente, entretanto falecido, fora, juntamente com José Ortega y Gasset, o promotor do plano de estudos e do ambiente universitário que mereceriam a designação de Escola de Madrid.
Em 1958, ano em que também publica o bem-sucedido e, por isso, numerosas vezes reeditado livro Ética, Aranguren envolve-se na polémica despoletada por Santiago Ramírez (com La filosofía de Ortega y Gasset) e publica La ética de Ortega.
Embora tenha sido evidente o interesse de Aranguren, desde sempre, pelas relações entre ética e religião, jamais defendeu a identificação entre elas ou a subordinação de uma à outra. Para além do mais, o leque da sua produção bibliográfica dá conta da amplitude do horizonte de doutrinas e temáticas éticas a que se dedicou.
A sua conhecida Ética, certamente vinculada aos primeiros anos de docência do Autor, recorre ao conceito orteguiano da estrutura moral do agir humano e à distinção zubiriana entre “moral como estructura” e “moral como contenido”, para defender a tese de que o ser humano é estruturalmente moral. Isto significa que toda a vida humana é ética, independentemente do conteúdo que venha a ser dado a essa forma constitutiva. A obra, ainda de base escolástica, é já sensível a novas problemáticas, nomeadamente do existencialismo. Em 1962, a publicação de Implicaciones de la filosofía en la vida contemporánea seria mais um testemunho do seu conhecimento e análise das tendências filosóficas de então.
Por outro lado, foi-se tornando cada vez mais nítida a preocupação de Aranguren por dotar a sua teoria ética de uma vertente social e de a mobilizar na discussão de questões sociais e políticas em que se ia envolvendo. O sublinhado da dimensão social da moral individual e da Ética como fundamento das relações sociais tornou-se, aliás, um aspecto distintivo da investigação aranguriana que tanto se interessou pela Sociologia da Educação e da Comunicação, pela Teoria da Informação e pela Teoria dos Sistemas, como pela Literatura e pela crítica à cultura estabelecida ou à partidocracia. Quer dizer, as suas derivações no campo da política e da cultura, em geral, podem entender-se como um modo próprio de cumprir o que sentia ser o seu “deber de moralista y intelectual” e que tornou patente em obras como, para além das já referidas, Crítica y meditación (1957), La juventud europea y otros ensayos (1961), El futuro de la Universidad (1962), Moral y sociedad. Introducción a la moral social española del siglo XIX (1965), Lo que sabemos de moral (1967), El marxismo como moral (1968), El problema universitario (1968), La crisis del catolicismo (1969), Memorias y esperanzas españolas (1969), El cristianismo de Dostoievski (1970), Erotismo y liberación de la mujer (1972), Moralidades de hoy y de mañana (1973), San Juan de la Cruz (1973), Entre España y América (1974), La cultura española y la cultura establecida (1975), Planificación educativa (1975), Estudios literarios (1976), Contralectura del catolicismo (1978), La democracia establecida. Una crítica intelectual (1979), Sobre imagen, identidad y heterodoxia (1982), España, una meditación política (1983), Propuestas morales (1983), Abrir caminos a los jóvenes (1985), El buen talante (1985), Moral de la vida cotidiana, personal y religiosa (1987) ou Ética de la felicidad y otros lenguajes (1989), para não mencionarmos senão livros.
Aranguren obteve reconhecimento público e vários prémios: em 1982, recebeu a Creu de Sant Jordi, o Prémio Francisco Giner de los Ríos, de Ciências Sociais; em 1985, a Gran Cruz de la Orden de Alfonso X el Sabio; em 1989, ganhou o Prémio Nacional de Ensaio pelo livro Ética de la felicidad y otros lenguajes; em 1990, foi investido como Doutor Honoris Causa, pela Universidad Carlos III de Madrid; e, em 1990, recebeu o Premio Príncipe de Asturias de Comunicación y Humanidades.
Bibliografia activa
– Obras completas, 6 vols., Madrid: Trotta, 1994-1997.
Bibliografia passiva
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