TEIXEIRA REGO

(1881 – 01/04/1934)

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1912

País

Portugal

Data e local de nascimento

Matosinhos, 1881

Formação e acção

Não tendo feito estudos superiores regulares, foi um dos homens mais cultos e eruditos na área das letras e humanidades do seu tempo, apesar de ser uma figura relativamente ignorada. Foi em certa medida um autodidata que muito beneficiou das personalidades cultas e eruditas do Porto com quem privou. Leccionou na Faculdade de Letras do Porto entre 1919 e 1931, a convite de Leonardo Coimbra. Com este partilhou a participação no movimento “A Renascença Portuguesa” e também “A Águia”. Foi também director do Jornal republicano “O Debate”.

Teve uma intensa actividade docente que lhe terá roubado certamente alguma disponibilidade para a redacção da sua obra escrita, tendo deixado algumas obras inéditas por publicar, das quais se desconhece o paradeiro. Leccionou Filologia Românica na Faculdade de Letras, facto que acendeu algumas celeumas, pelo facto de este não possuir estudos superiores que o habilitassem academicamente a tal função. Em 1926 e sem qualquer dúvida a respeito do seu eruditismo excepcional, foi nomeado Professor Catedrático e logo de seguida foi-lhe atribuído o grau de Doutor em Letras (Filologia Românica). Apesar de ter leccionado na Faculdade de Letras do Porto variadas disciplinas, das quais foi o responsável, (como Filologia Portuguesa, Literatura Portuguesa, Filologia Espanhola, Filologia Italiana, Gramática Comparada de Línguas Românicas, Literatura Espanhola e Italiana, História das Religiões, etc.), foi afastado e ignorado pelo mundo académico nos últimos anos da sua vida, em grande parte pela sua defesa dos ideais republicanos.

Conforme consta na página de Internet dedicada aos docentes da Primeira Faculdade de Letras do Porto, faleceu em 1934, em Matosinhos “onde trabalhava como simples funcionário administrativo.”

Actividade desenvolvida

A sua principal actividade foi a docência na Faculdade de Letras do Porto. Foi também Diretor do jornal republicano “O Debate” e membro da “Renascença Portuguesa”. Como escritor produziu uma obra considerável. Foi também filósofo, seguidor em parte de Sampaio Bruno, dedicou-se ao estudo da filosofia da religião.

Data e local de falecimento

1 de Abril de 1934, Matosinhos

Lema e linha filosófica

O lema do seu pensamento ergue-se em torno da Ideia de Deus, problemática que domina de certa maneira a escola portuense. O seu pensamento foi dominado pela relação entre Filosofia e Teologia e sobretudo pela Filosofia da Religião, pela Simbólica, Estudos Clássicos e Antigos e também pela Arqueologia. A sua Teoria do Sacrifício ocupa um lugar central na sua obra, em parte influenciada pela leitura de A Ideia de Deus de Sampaio Bruno.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

As teorias Positivistas, Evolucionistas e antropológicas tiveram um forte impacto no Porto culto e também em Teixeira Rego, apesar de este nunca se comprometer com nenhuma das perspectivas de modo radical. Será mais na perspectiva da História das Religiões, ainda que um pouco dominado pelo Positivismo, que se debruçará sobre as questões da origem do Homem e da sua evolução da animalidade à humanidade, que explica através da mudança de um regime alimentar frugívoro para  carnívoro. Integra assim o Pecado Original na primeira fase da evolução humana associando-o à caça ou ao derramamento de sangue numa teoria que desenvolve essencialmente na obra “A Nova Teoria do Sacrifício” (1918).

O pensador de Matosinhos apresenta uma visão racionalizada do mito, do pecado original e da queda de Adão. Apresenta uma tentativa  historicista de explicar e de tentar situar no tempo o momento em que os primeiros hominídeos passaram a comer carne em vez de frutos, constituindo esta mudança alimentar a pedra de toque para compreender a grande fenda que separa uma era paradisíaca de uma posterior era do mal e da violência, simbolizada através do rito do sacrifício. Os ritos sacrificiais e os vários mitos relativos à origem da humanidade e da consequente perda da sua inocência estariam presentes na “Tragédia do Génesis”. Os seus últimos escritos são dedicados à fenomenologia das Religiões, onde regressará ao tema do sacrifício, apresentando contudo alguma mudança de perspectiva, reconhecendo na religião uma “dimensão operativa, que há-de ser essencial quando está em causa a relação com o sagrado.”[1]

A “A Ideia de Deus” de Sampaio Bruno foi uma obra que teve um forte impacto no seu pensamento e na leitura que faz do fenómeno do Sagrado, sempre marcada por uma motivação em compreender o problema , a origem e o fim do mal na história da humanidade. Teixeira Rego tem uma visão trágica da humanidade, que não se funda em nenhuma crença e não se reconcilia com Deus, já que este para o filósofo é um nome, é um mito que tem origem na queda de Adão, na desgraça do Homem, iniciada com o mito do Pecado Original, que em Teixeira Rego é uma tempo iniciado com a era do sacrifício, do regime alimentar carnívoro por oposição ao frutígero que associava à vivência no Paraíso, numa era de Inocência. Esta consciência, pouco consciente, gera no humano uma nostalgia, uma saudade de uma era anterior à do Pecado: o desejo de um renascimento humano redentor que restaure o estado puro e inicial do humano e a esperança da resolução do problema do mal.

Apesar de professar um humanista pessimista pela forma como vê o humano, caracterizando-o como “um produto artificial, aberrante, um verdadeiro escândalo da natureza.”[2], a sua teoria assenta numa tentativa racional de encontrar a superação do mal e da violência, através de uma aspiração redentora do regresso ao Éden.

Bibliografia activa

Pequena Antologia Clássica (de Homero a Tolstoi), Porto: Renascença Portuguesa, 1918

Nova teoria do Sacrifício (1912-1915), Porto, 1918, 2ª ed. Fixação do texto, prefácio e notas por Josué Pinharanda Gomes, Lisboa, Assírio e Alvim 1989

“Literatura: Idade Média” in História de Portugal, Direcção de Damião Peres, Vol. II, Barcelos: 1929, pp. 566- 598

Estudos e Controvérsias: Língua e Literatura Portuguesa, Porto, 1931; 2ª ed. Compil. Posf. e Notas de Pinharanda Gomes, Lisboa: Assírio e Alvim, 1990

“Literatura: O Século XVI” in História de Portugal, Direcção de Damião Peres, Vol. II, Barcelos: 1933, pp. 537- 554

(Para uma consulta detalhada da sua bibliografia activa, nomeadamente Artigos, recomenda-se a consulta de Bibliografia em GOMES, Pinharanda, A Renascença Portuguesa: Teixeira Rêgo, Lisboa: Inst. Cultura e Língua Portuguesa, 1984)

Bibliografia passiva

BORGES, Paulo, “Rego (José Teixeira)” in Logos, Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Vol. 4, Lisboa- São Paulo, 1992, pp. 631- 635

CARVALHO, Amorim de, “José Teixeira Rego e a sua Teoria do Sacrifício” in Deus e o Homem na Poesia e na Filosofia, Porto, 1958, pp. 195- 210

CARVALHO, José Carlos, “A Teoria do Sacrifício de Teixeira Rego revisitada” in THEOLOGICA, 2.ª Série, 50, 1, Porto, 2015, pp- 125-137

DOMINGUES, Joaquim, “O Sacrifício como problema e mistério em José Teixeira Rego”, in De Ourique ao Quinto Império. Para uma Filosofia da Cultura Portuguesa, Lisboa: 2002, pp. 191- 206

—, “Rego, José Augusto Ramalho Teixeira” in Dicionário Crítico de Filosofia Portuguesa, Lisboa: Círculo de Leitores, 2016, pp. 453- 455

GOMES, Pinharanda, A Renascença Portuguesa: Teixeira Rêgo, Lisboa: Inst. Cultura e Língua Portuguesa, 1984

MARINHO, José, “Teixeira Rêgo, prosador (pensador profano) in Porto Académico, Porto, Abril, 1937

TEIXEIRA, António Braz, “Teixeira Rego” in Ética, Filosofia e Religião, Estudos sobre o Pensamento Português, Galego e Brasileiro”, Évora, 1997, pp. 39- 41

 

[1] Joaquim Domingues, “Rego, José Augusto Ramalho Teixeira” in  Dicionário Crítico de Filosofia  Portuguesa, Lisboa: Círculo de Leitores, 2016, p. 454

[2] Teixeira Rego, A Águia, (42), 1915, p. 259