JULIO CORTÁZAR

26/08/1914 – 12/02/1984

Autores: Cecília Barreira e José Mikosz

 Horizonte geracional

 GERAÇÃO DE 1950

País

Argentina

Data e local de nascimento

Embaixada da Argentina em Ixelles, Bélgica, 26 de agosto de 1914 – Paris, França, 12 de fevereiro de 1984.

Formação e acção

Nasceu como Jules Florencio Cortázar, na Embaixada da Argentina em Ixelles na Bélgica estando o pai, argentino, ligado à diplomacia. No fim de 1919, com 4 anos de idade, regressou à Argentina a Buenos Aires. Devido a separação de seus pais, foi educado pela mãe, uma tia e a avó. Nesta cidade frequentou a Universidade de Buenos Aires – Faculdade de Filosofia e Letras, sem nunca obter a licenciatura, abandonando a faculdade por motivos financeiros.

Em 1951 emigrou para França, onde viveu até morrer em 1984 de leucemia. Seu túmulo se encontra no Cemitério de Montparnasse em Paris.

Actividade desenvolvida

Publicou contos, poesia, peças de teatro e obras de ensaio. Considerado mestre no conto e na narrativa curta, sua obra pode ser comparável a autores como Edgar Allan Poe, Tchékhov e Jorge Luis Borges. O romance mais conhecido é o “Rayuela” (Jogo do Mundo, Jogo de Amarelinha no Brasil), que inovam pois o texto percorre de forma não linear os fatos. Em 1960 criou La Vuelta al dia en ochenta mundos (1967) e Último Round (1969), combinação com fotografia, ilustrações, desenhos, etc. Foi tradutor de Yourcenar e Poe, entre outros autores. Somente em 1951, com a publicação de Bestiário, obteve reconhecimento público. Em Bestiário ocorre o fantástico no quotidiano, o mórbido, o mistério. Marcílio Machado Pereira em Caminhos contemporâneos: Cortázar e outros destruidores de bússolas (Rio de Janeiro de 2010) referencia que no autor há um grande grau de contenção na feitura do conto. O conto, nas palavras de Cortázar, precisa “nascer ponte, tem de nascer passagem, tem de dar o salto que projete a significação inicial, descoberta pelo autor, a esse extremo” (ensaio Do conto breve e seus arredores publicado inicialmente em Último Round, 1966).

Data e local de falecimento

12 de Fevereiro de 1984 (70 anos), Paris.

Lema e linha filosófica

Em Cortázar encontramos o jogo das grandes duplicidades, o fantástico e o impossível encontro da compreensão do real. As palavras não são suficientes. O encontro entre um Eu e um Outro, na impossibilidade. O inqualificável. O desmesurado da existência. Escrita filosófica profunda. Sua obra pode ser encaixada no Realismo Fantástico (modalidade fantástica da literatura não separada da realidade).

Enquanto contista divide-se em três fases os seus quarenta anos de narrativa: uma primeira, ligada ao fantástico, uma segunda volta de apreensão do argumento fantástico e uma terceira fase em torno de experiências literárias.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

E  em entrevista nos finais dos anos 1970 Cortázar referia a importância da psicanálise  na sua obra.

“Yo pienso que un lector sensible entonces puede conocerme en la medida de lo posible, puede conocerme bastante bien a través de lo que yo he escrito. Puede conocerme en mi parte patológica, para usar la palabra, toda la parte morbosa, censurada, desviada, que se nota en una parte de los cuentos que responden a obsesiones, a fobias, a complejos.” (in Cortázar por Cortázar, de Evelyn Picón Garfield, 1978, México, Universidade Veracruzana, p. 43).

A temática familiar anómala é frequente no escritor. As doenças são muito referenciadas, bem como outras patologias. Muito ligado à família sente em Paris o espartilhamento entre duas cidades: Buenos Aires e a capital francesa. Sobre estas temáticas é de consultar a tese de Roberto Chacana Arancibia, Emancipación de La Familia de Origen: Lealdad, Traición e Sacrificio filial en  Franz Kafka y Julio Cortazar (Madrid, Faculdad de Psicología, 2006). O facto de mencionar, nos seus contos, famílias em torno de um membro doente o que também se mede numa força que impele cada elemento a não sair de um sistema fechado em si mesmo, é um dado adquirido. Tanto se dá a osmose familiar como a asfixia que limita a liberdade individual.

No conto Cefalea os personagens habitam uma pequena casa com animais estranhos designados por “mancuspias”, as quais têm um alimentação especial, higiene própria, controlo de peso diário e de temperatura. As cefaleias são frequentes nesses animais fantasmáticos. Se as pessoas que habitam a casa não tratam das rotinas logo se desencadeiam fenómenos entrópicos  entre os ditos animais.

Em “O perseguidor” Cortázar penetra mais nas questões filosóficas. Johnny Carter inspirado no músico Charlie Parker é um saxofonista que procura escapes ao trabalho. Não dando vazão a tantas tarefas procura palavras para compreender o mundo que o rodeia. A música, para o seu personagem, é a libertação face ao hábito rotineiro. Johnny é a contradição em si mesmo: não sabe como viver o quotidiano e apega-se à música enquanto libertação. Morrerá sem transpor as portas que se fecham umas atrás das outras. A grande dificuldade é o visionamento de coisas simples. Bruno é outro personagem do conto, no papel de crítico musical.

Bibliografia activa

Novelas:

Divertimento (1949, publicado em 1986)

El examen (1950, publicado em 1985)

Los premios (The Winners) (1960)

Rayuela (Hopscotch) (1963)

62: A Model Kit (62/modelo para armar) (1968)

Libro de Manuel (1973)

Coletâneas de Pequenas Estórias:

Bestiario (1951)

Final del juego (1956)

Las armas secretas (1959)

Historias de cronopios y de famas (1962)

Todos los fuegos el fuego (1966)

Blow-up and Other Stories (1968); compilação de estórias do Bestiario, Final del juego, e Las armas secretas, tradução em língua inglesa.

Octaedro (1974)

Alguien anda por ahí (1977)

Un tal Lucas (1979)

Queremos tanto a Glenda (1980)

Deshoras (1982)

Poesia

Presencia (Presence) (1938)

Los reyes (The Kings) (1949)

Save Twilight (1997; edição ampliada, City Lights, 2016)

Outras Obras:

Around the Day in Eighty Worlds (La vuelta al día en ochenta mundos) (1967)

Last Round (Último Round) (1969)

Prosa del Observatorio (Prose Observatory) (1972)

Territorios (Territories) (1978)

Autonauts of the Cosmoroute (Los autonautas de la cosmopista) (1983)

Nicaragua tan violentamente dulce (Nicaragua, So Violently Sweet) (1983)

Julio Cortazar: Al Termino del Polvo y el Sudor (Biblioteca de Marcha, Montevideo, 1987) – Essays by and about Julio Cortazar

Diary of Andrés Fava (Diario de Andrés Fava) (1995), companion book to El examen

Adiós Robinson (Goodbye, Robinson) (1995), radio text

Imagen de John Keats (Image of John Keats) (1996)

Cartas (Letters) (Three volumes, 2000; expanded version in five volumes, 2012)

Papeles inesperados (Unexpected Papers) (2009)

Cartas a los Jonquières (Letters to the Jonquières) (2010)

Clases de literatura (Literature Class) (2013)

Novela Gráfica

  • Fantomas contra los vampiros multinacionales(1975)

Bibliografia passiva

Ensaios em Espanhol sobre:

ALAZRAKI, Jaime. En busca del unicornio: los cuentos de Julio Cortázar. Barcelona: Gredos, 1983.

__________. Hacia Cortázar: aproximaciones a su obra. Anthropos Research & Publications, 1994.

__________. “Prólogo” a Rayuela, de Julio Cortázar. Caracas: Ayacucho, 1980.

ARANCIBIA, Roberto Chacana. Emancipación de La Familia de Origen: Lealdad, Traición e Sacrificio filial en  Franz Kafka y Julio Cortazar (Madrid, Faculdad de Psicología, 2006).

CRUZ, Julia G. Lo neofantástico en Julio Cortázar. Madrid: Pliegos Editorial, 1988.

FERRÉ, Rosario. Cortázar: el romántico en su observatorio. San Juan: Editorial Cultural Inc, 1991.

FILER, Malva E. Los mundos de Julio Cortázar. Las Américas Publishing Company, New York, 1970.

FRÖHLICHER, Peter. La mirada recíproca: estudios sobre los últimos cuentos de Julio Cortázar. Peter Lang AG, Internationaler Verlag der Wissenschaften, 1995.

GARFIELD,  Evelyn Picon. Es Julio Cortázar un surrealista? Barcelona: Gredos, 1975.

GOLOBOFF, Gerardo Mario. Julio Cortázar. La biografía. Barcelona: Seix Barral, 1998.

HERRÁEZ, Miguel. Julio Cortázar. Una biografía revisada. Barcelona: Editorial Alrevés S.L., 2011.

LASTRA, Pedro. Julio Cortázar. Barcelona: Edotorial Taurus, 1981.

MARTYNIUK, Claudio Eduardo. Imagen de Julio Cortázar. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2004.

MONTES-BRADLEY, Eduardo. Cortázar sin barba. Madrid: Random House Mondadori, 2005.

PLANELLS, Antonio. Cortázar: metafísica y erotismo.  Madrid: José Porrúa Turanzas, 1979.

REIN, Mercedes. Cortázar y Carpentier. Buenos Aires: Edotorial Crisis, 1974.

VALENZUELA, Luisa. Julio Cortázar desde tres perspectivas.  Ciudad de México: UNAM, 2002.

Ensaios em Inglês sobre:

ALONSO, Carlos J. Julio Cortázar: new readings. Cambridge, U.K.: Cambridge University Press, 1998.

BLOOM, Harold. Julio Cortázar (Modern Critical Views). Chelsea House Publications, 2005.

BLOOM, Harold. Julio Cortázar (Bloom’s Major Short Story Writers). Chelsea House Publications, 2004.

BOLDY, Steven. The Novels of Julio Cortázar. Cambridge: Cambridge University Press, 1980.

CARTER, E. Eugene. Julio Cortázar: Life, Work and Criticism. Fredericton, Canada: York Press, 1986.

PEAVLER, Terry J. Julio Cortázar. Boston: Twayne, 1990.

RODRÍGUEZ-LUIS, Julio. The Contemporary Praxis of the Fantastic: Borges and Cortázar. New York: Garland, 1991.

SCHMIDT-CRUZ, Cynthia. Mothers, Lovers, and Others: the short stories of Julio Cortázar. Albany, N.Y.: State University of New York Press, 2004.

STANDISH, Peter. Understanding Julio Cortázar (Understanding Modern European and Latin American Literature). University of South Carolina Press, 2001.

STAVANS, Ilan. Julio Cortázar: a study of the short fiction. New York: Twayne Publishers, 1996.

WEISS, Jason. The Lights of Home: a century of Latin American writers in Paris. New York: Routledge, 2003.

YOVANOVICH, Gordana. Julio Cortázar’s Character Mosaic: reading the longer fiction. Toronto: University of Toronto Press, 1991.