PÍO BAROJA [Y NESSI]

(1872 – 1956)

 

Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo

Horizonte geracional

GERAÇÃO “DEL 98”

País

Espanha

Data e local de nascimento

San Sebastián, 28 de Dezembro de 1872

Formação e acção

Pío Baroja realizou a sua formação em várias cidades, dado que o seu pai foi obtendo, como engenheiro de minas do Estado, cargos em diferentes localidades para as quais a família tinha de se mudar. O terceiro de quatro filhos de Serafín Baroja desde cedo manifestou um interesse especial pela literatura e pela escrita, na senda familiar, nomeadamente do avô (com o mesmo nome), que foi editor do jornal El Liberal Guipuzcoano, publicado na sua terra natal.

As primeiras etapas da formação escolar do futuro romancista Pío Baroja decorreram em San Sebastián, Madrid, Pamplona e, de novo, Madrid, onde concluiu os estudos secundários.

Tendo-se licenciado em Medicina (em Valencia, em 1891) e Doutorado na mesma área (em Madrid, em 1894, com a tese “A dor, estudo psicofísico”, publicada em 1896), exerceu como médico durante pouco tempo. Fê-lo em Cestona (Zestoa), no país basco, onde começou a redigir alguns dos contos que veriam a luz no seu primeiro livro, intitulado Vidas sombrias, que editou em 1900, depois de já ter escolhido ir para Madrid.

Instalado na capital espanhola, dedicava-se, não apenas a ajudar o seu irmão Ricardo Baroja (que seria pintor e também escritor) na condução do negócio de uma padaria de familiares, mas a escrever como colaborador de jornais e revistas. Ele, que tinha sido um estudante desinteressado, apenas atraído pelas letras, iniciava assim a sua produção imensa como escritor.

Actividade desenvolvida

Uma vez residente em Madrid, foi-se integrando, progressivamente, no mundo literário, estabelecendo relações pessoais em especial com José Martínez Ruiz ou Azorín e com Ramiro de Maeztu, pelo que se formou o “Grupo de los Tres”.

Viajou muito: esteve em Tânger, em 1903, como jornalista; residiu em Paris, por várias vezes; deslocou-se, na verdade, por toda a Europa – Londres, Itália, Bélgica, Alemanha, Noruega, Holanda, Dinamarca; na Suíça tornou-se amigo de Paul Schmitz, que o terá introduzido na filosofia de Nietzsche.

Também foi um grande viajante por Espanha, com os irmãos, Ricardo e Carmen, a mais nova, e com os amigos, sobretudo Maeztu e Azorín, e mesmo com Ortega y Gasset. Contudo, pelo menos nos Verões, refugiava-se numa povoação de Navarra, Vera de Bidasoa, onde comprou uma casa, que passaria a ser um ponto de encontro familiar e o lugar onde instalaria uma imensa biblioteca.

Embora tenha tentado, em duas ocasiões, entrar na política, uma, candidatando-se a “alcalde” de Madrid e outra como deputado, foi militante do Partido Republicano Radical de Alejandro Lerroux), mas não foi bem-sucedido nesse campo e, sim, como escritor, pois logo o seu primeiro livro, elogiado por Miguel de Unamuno, Azorín e até Pérez Galdós, teve um enorme êxito.

Viria a ser indicado como um dos representantes da Geração “del 98”, ainda que ele mesmo tenha resistido a essa classificação, por considerar não existirem semelhanças suficientes entre os apontados como a ela pertencentes. Com efeito, do ponto de vista literário, a sua obra mostra-se pouco permeável a influências e tendências de outros autores, peculiar, portanto, no tom e no tratamento das vivências humanas das personagens. Em 1935 seria admitido na Real Academia Española.

Quando a Guerra Civil eclodiu, Pío Baroja exilou-se em Paris e instalou-se no Colégio de Espanha. Permaneceu na capital francesa até ao final da contenda, regressando depois a uma Madrid franquista, onde continuou a escrever e a publicar. Apesar de em parte ter sido uma figura grata ao regime, não deixava de ser um escritor incómodo. Não obstante ter evoluído de uma posição de simpatia por ideias anarquistas, ainda que em versão algo romântica, para uma identificação com doutrinas liberais, Baroja nunca deixou de sustentar um individualismo e um anti-clericalismo incompatíveis com o modelo fascista de Franco. Aliás, por sua vontade expressa, foi enterrado como ateu, num enquadramento social em que isso era visto como um escândalo.

Data e local de falecimento

30 de Outubro de 1956 (83 anos), Madrid.

Lema e linha filosófica

Pío Baroja não foi um filósofo, mas merecem destaque a radicalidade do individualismo e a originalidade que marcaram toda a sua vida e a obra.

Atendendo a essas características distintivas, talvez se possa considerar como seu lema a afirmação de que “a una colectividad se le engaña siempre mejor que a un hombre”.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

A obra de Pío Baroja é fundamentalmente literária e nela se destaca, como género predominante, o romance. É possível apontar, nos seus numerosos livros, traços do pessimismo de Schopenhauer e, por outro lado, uma concepção do poder redentor da acção que avizinhava o autor espanhol da filosofia nietzschiana. Por isso, o realismo dos grandes romancistas que mais admirava (Balzac, Stendhal, Tolstoi, Dickens e Dostoiévski) adquire nos seus romances uma interessante mescla entre um entusiasmo pela vida e uma ambiência sombria que serve de pano de fundo às narrações.

A maioria dos romances de Pío Baroja foram agrupados em trilogias, de que se dão alguns exemplos apenas, das primeiras duas décadas da sua produção: La tierra vasca (1900, 1903 e 1909); La vida fantástica (1901, 1902 e 1906); La lucha por la vida (com dois romances de 1904 e outro de 1905); El pasado (1905, 1906 e 1907); La raza (1908, 1909 e 1911) – o último romance desta trilogia foi El árbol de la ciencia, um dos que tiveram mais êxito; e Las ciudades (1910, 1912 e 1920).  Como é fácil de confirmar, Pío Baroja produzia e publicava livros a um ritmo impressionante. Alguns dos seus romances foram agrupados, por exemplo, na tetralogia El mar (1911, 1923, 1929 e 1930), e outros começaram trilogias que ficariam inacabadas, como Días aciagos  (de que foi publicado, em 1946, El Hotel del Cisne) ou Las Saturnales ( aberta com El cantor vagabundo, de 1950, e só fechada com a publicação póstuma de Miserias de la guerra, em 2006, e Los caprichos de la suerte, em 2015).

De um modo geral, a obra de Baroja elabora imaginativamente situações a partir de vivências do próprio autor e assenta numa expressividade que decorre de uma prosa espontânea, de linguagem clara, em que os episódios narrados alternam com a descrição lírica dos ambientes. A fluidez da sua escrita, com recurso a frases curtas e em que as personagens não estão sujeitas a uma trama muito estruturada, permite compreender por que os romances de Baroja continuam a atrair muitos leitores, não obstante o autor ter tido sempre muitos críticos, não apenas do seu estilo, mas da heterodoxia que igualmente manifestou em posições assumidas sobre questões sociais e políticas.

De 1913 a 1935, Baroja publica, em 22 volumes, um ciclo de novelas históricas, intitulado Memorias de un hombre de acción, em que é protagonista um seu antepassado, o conspirador liberal Eugenio de Avinareta (1792-1872). E as suas próprias memórias foram publicadas em 7 volumes, entre 1943 e 1949, sob o título Desde la última vuelta del caminho. No entanto, alguns especialistas da obra barojiana tendem a contrastar o fraco valor do autor como memorialista, quando comparado com o de narrador.

Em todo o caso, no conjunto dos géneros que cultivou, Pío Baroja personalizou a escrita, dando nela conta de um pessimismo, que, segundo o próprio, era apenas realismo.

Bibliografia activa

Obras completas. 8 vols. Madrid: Biblioteca Nueva, 1946-1951.

Obras completas. Ed. dirigida por José-Carlos Mainer. 16 Tomos. Barcelona: Círculo de Lectores, 1997-1999.

Miserias de la guerra. Madrid: Editor Caro Raggio, 2006.

Los caprichos de la suerte. Madrid: Espasa, 2015.

Bibliografia passiva

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— El pensamiento social y político de Pío Baroja. Salamanca: Universidad de Salamanca, 1990.

Pío Baroja, el hombre y el filósofo. Salamanca: Universidad de Salamanca, 1993.

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