LUIS VILLORO TORANZO

(1922 – 2014)

Autoria: Carlos A. Gomes

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 45 – FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO IBERO-AMERICANA

País

MÉXICO

Data e local de nascimento

3 de Novembro de 1922, Barcelona

Data e local de falecimento

5 de Março 2014, (91 anos), Cidade do México

Formação e acção

Luis Villoro era catalão de nascimento (Barcelona,1922) e filho de mãe mexicana e pai espanhol, mas naturalizou-se mexicano, falecendo em Março de 2014, na Cidade do México. Filósofo, ensaísta e diplomata, Villoro licenciou-se pela UNAM, em Filosofia (1963). Foi considerado um dos intelectuais e pensadores mexicanos mais reconhecidos e valorizados, não só no México como em todo o mundo de expressão hispânica. Em França (Sorbonne) e na Ludwiguniversitat de Munique, desenvolveu os seus estudos de filosofia contemporânea, findos os quais regressou ao México onde se doutorou com a tese ‘Los grandes momentos del indigenismo en México’. Em 1948 tornou-se professor efectivo da UNAM, na Faculdade de Filosofia e Letras. Entre 1983 e 1987 foi embaixador e delegado permanente na UNESCO (Paris), em representação do México. Fez parte do Grupo Hipérion, dedicado ao estudo da história das ideias, no México. O modo de ser e estar mexicano, era o seu leitmotiv, no qual intentava encontrar e compreender a verdadeira história e cultura nacional, no conjunto dos vários campos do saber. Devido à sua ampla e diversificada obra, Villoro recebeu inúmeras distinções, destacando-se o Prémio Nacional de Ciências e Artes (1986), o Prémio Universidade Nacional de Investigação em Humanidades (1989) e o Prémio Juchimán de Prata, em Ciência e Tecnologia (1999). Em 2004, o Colégio Académico da Universidade Autónoma Metropolitana concedeu-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.

Publicou várias introduções a obras de Bertrand Russell e José Gaos (foi seu discípulo), tendo traduzido igualmente textos de filósofos europeus consagrados, como Gabriel Marcel, Merleau-Ponty e Emanuel Levinas. Pode considerar-se um mestre de várias gerações de filósofos sul-americanos e um grande defensor da democracia e dos direitos quer dos povos indígenas, quer dos movimentos operários.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

A obra de Luis Villoro é variada e poliédrica, alimentando-se das correntes filosóficas mais importantes da segunda metade do século XX, como o existencialismo, a fenomenologia, a filosofia analítica e o multiculturalismo. Todavia, na sua obra nota-se uma predominância do vector ético-moral em todas as suas preocupações nucleares: a compreensão metafísica da alteridade, os limites e alcance da razão, o vínculo entre conhecimento e poder, a busca da comunhão com os outros, a reflexão ética sobre a injustiça, a diferença, o respeito pelas diversidade cultural e a dimensão crítica do pensamento filosófico.

Na totalidade do processo intelectual da Villoro, figuram as linhas fundamentais da dialéctica do próprio filosofar mexicano. A sua reflexão expressa o movimento pelo qual, partindo do reconhecimento da particularidade mexicana, o pensamento se abre ao ‘outro’ – a tradição filosófico-cultural universal – para, apetrechado com os instrumentos conceptuais e críticos, e fundamentalmente com a possibilidade de contraste e mediação que essa tradição nos permite, voltar novamente e com uma visão mais aguda e penetrante á compreensão da realidade concreta do seu país. Já não se trata de afirmar uma suposta ‘identidade nacional’, mas de focalizar desde a própria universalidade filosófica, as questões mais prementes para o fazer e compreender específicos. Considerando a sua biografia intelectual, podemos sintetizar o processo de desenvolvimento filosófico de Luis Villoro, em três etapas fundamentais. Em termos cronológicos, a primeira caracteriza-se por uma postura particularista ou de filosofia histórica, período este que vai de finais dos anos 40 até meados dos anos 60; a segunda, a fase universalista ou de filosofia teórica, vai de finais dos anos 60 a meados dos anos 80; e finalmente uma terceira fase, que vai dos anos 80 até à sua morte.

Em ‘Creer, saber y conocer’ (1982), livro inscrito na tradição analítica, apresenta-se uma epistemologia em que se elimina a cláusula de verdade da definição de conhecimento, com o fim de compreender a prática epistémica na sua dimensão sócio-histórico-política. Villoro relaciona ‘saber que p’ como ‘crer que p, com razões objectivamente suficientes’. Uma razão para crer que p é objectivamente suficiente, é poder ser conclusivo, completo e coerente, independentemente de quem o sustenta. Todavia, uma razão pode ser objectivamente suficiente numa comunidade epistémica, sem sê-lo noutra. De qualquer maneira, Villoro segue um relativismo epistémico, como a única maneira de responder ao desafio do cepticismo.

Em ‘El poder y el valor’ (1997), parte de uma reflexão sobre a relação entre o poder político e os valores morais. Depois de uma análise extensa e profunda, Villoro defende que se deve dar prioridade aos valores que vinculam os indivíduos á comunidade, sem que os princípios da liberdade e ordem social se contraponham. Isto leva-o a defender uma democracia radical em que o poder seja exercido por pessoas situadas dentro de redes sociais concretas, nos lugares em que vivem e trabalham. Defende que um modelo desta sociedade igualitária podem ser as comunidades indígenas do México. Luis Villoro teve um importante papel na defesa, explicação e análise das causas do indigenismo neozapatista em 1994, assumindo uma atitude de comprometimento com as causas da justiça, autenticidade e solidariedade. Na verdade, a origem deste movimento neozapatista provocou-lhe um extraordinário entusiasmo, já que muitas das suas preocupações ético-políticas encontraram eco na vida prático-social do movimento indígena, através das expressões éticas, antropológicas e sociais de que havia anunciado. Esta realidade é bem expressa por Villoro no capítulo ‘comunidad’, da obra já atrás referida,‘El poder y el valor’.

Bibliografia activa completa

  • Los grandes momentos del indigenismo en México, México: El Colegio de México, 1950.
  • El proceso ideológico de la revolución de independencia, México: UNAM, 1953.
  • Páginas filosóficas, Jalapa: Universidad Veracruzana, 1962.
  • La idea y el ente en la filosofía de Descartes, México: FCE, 1965.
  • Signos políticos, México: Grijalbo, 1974.
  • Estudios sobre Husserl, México: UNAM, 1975.
  • Creer, saber, conocer, México: Siglo XXI, 1982.
  • El concepto de ideología y otros ensayos, México: FCE, 1985.
  • El pensamiento moderno. Filosofía del renacimiento, México: FCE / El Colegio Nacional, 1992.
  • En México, entre libros. Pensadores del siglo XX, México: FCE, 1995.
  • El poder y el valor. Fundamentos de una ética política, México: FCE / El Colegio Nacional, 1997. Estado plural, pluralidad de culturas, México: Paidós / UNAM, 1998.
  • De la libertad a la comunidad, México: Ariel / ITESM, 2001.Los retos de la sociedad por venir, México: FCE, 2007. Estado plural, pluralidad de culturas, México: Paidós / UNAM, 1998.
  • De la libertad a la comunidad, México: Ariel / ITESM, 2001.
  • Los retos de la sociedad por venir, México: FCE, 2007.
  • La significación del silencio y otros ensayos, México: Universidad Autónoma Metropolitana, 2008.

Bibliografia passiva