JOSÉ MARINHO

(1904 – 1975)

Autoria: Teresa Lousa

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1927 (Presença)

País

Portugal

Data e local de nascimento

Porto, 1 de fevereiro de 1904

Formação e acção

José Marinho nasce no Porto, onde faz o ensino primário e frequenta o liceu Rodrigues de Freitas. Em 1920 entra na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Estuda Filologia Românica. Sendo um activo participante da vida académica, simultaneamente, na mesma Instituição faz algumas cadeiras de Filosofia e participa em tertúlias literárias. Aqui conhece Leonardo Coimbra, seu professor de Psicologia e Lógica, que será o seu mentor filosófico. Neste ambiente académico trava conhecimento com figuras de destaque como: Agostinho da Silva, Álvaro Ribeiro, entre outros, partilhando o ideário da chamada “Renascença Portuguesa”.

Actividade desenvolvida

Enquanto estudante universitário foi responsável pelas revistas da Faculdade de Letras: O Carrocha e A Nossa Revista. Foi também politicamente interventivo, sendo delegado dos alunos da mesma faculdade.

Ao concluir o curso de Filologia apresenta uma tese “Ensaio sobre a Obra de Teixeira de Pascoaes”, onde revela já uma valorização da metafísica e da ontologia.

Entre 1924 e 1930 lecciona em diversos liceus do país: Porto, Faro e Viseu, as disciplinas de Português, Francês e Filosofia. Em 1929 a Faculdade de Letras do Porto onde estudou foi extinta e assim perde de vez a esperança por uma carreira académica. Decide ir para Coimbra com o propósito de se efectivar nos quadros dos professores de liceu. Realiza o exame de Estado em Lisboa no Liceu Pedro Nunes com o propósito de se efectivar. Em 1936 é afastado do ensino por questões de ordem política (devido a conflito ideológico com o Estado Novo). No Porto mantém o contacto com um círculo de pensadores que gravitam em torno de Leonardo Coimbra, como Álvaro Ribeiro, Sant’Ana Dionísio e Adolfo Casais Monteiro. Colabora com a Revista Presença, com a Renascença Portuguesa, dirige a Revista Princípio e colabora com a nova série de A Águia e Seara Nova.

Em 1940 muda-se para Lisboa onde trabalha como tradutor, explicador e ainda colaborador de diversos jornais e revistas. Ainda nesse ano e nesta cidade funda com Álvaro Ribeiro o grupo “Filosofia Portuguesa”. Em 1945 publica o livro “O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra”. Em 1954 publica “Nova Interpretação do Sebastianismo” e em 1961 a sua maior obra “Teoria do Ser e da Verdade”. Em 1963 a convite de Delfim Santos integra o Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1964 publica “Elementos para a Antropologia Situada” e em 1972 “Filosofia, Ensino ou Iniciação”.

Faleceu em Lisboa em 1975, e postumamente será publicada a obra “Verdade, Condição e Destino no Pensamento Português Contemporâneo” iniciada em 1970.

Data e local de falecimento

5 de Agosto de 1975, Lisboa.

Lema e linha filosófica

Foi um defensor da Metafísica e da radicalização Ontológica contra os avanços do Neopositivismo. Pensador profundamente marcado pelas ideias filosóficas de Sampaio Bruno, Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes. Foi com Álvaro Ribeiro um dos fundadores do Movimento da Filosofia Portuguesa, defensor da sua especificidade, e um promotor da reflexão e da legitimidade desta.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Para José Marinho filosofar não é uma acção mental desenraizada e abstracta, daí que a universalidade da filosofia se fundamente na concretude de cada tempo e civilização. É assim que desenvolve a sua base para o Movimento da Filosofia Portuguesa, a qual este demarcou do nacionalismo salazarista de modo explícito: ”Contra o que temos visto em Portugal nos últimos anos, a tónica foi posta sobre pátria e patriotismo, não sobre nação e nacionalismo.” (Marinho, 1981, p. 10)

A filosofia portuguesa pode ser entendida como a expressão, especulativa e metafísica, de uma mundividência peculiar com especificidades linguísticas, culturais e geográficas numa tradição e sentimento que não se revê nas restantes filosofias europeias, nomeadamente o racionalismo e o neopositivismo. É assim que Marinho chega à ideia de uma filosofia situada que pode parecer meramente identitária, mas seria mais a expressão de um legado universalista como o de Sampaio Bruno ou Leonardo Coimbra seus mentores. Marinho argumenta que a filosofia só pode ser universal de um modo situado, ou nos termos da sua metáfora: as laranjas nacionais não deixam de ser laranjas pelo facto de serem portuguesas. (Marinho, 1981. P.14)

Na mesma ordem de ideias, podemos destacar a sua tentativa de conciliar a questão ontológica com a reflexão antropológica. Qualquer sujeito pensante tem na humanidade o que lhe é mais próximo. É assim que “o homem não pode interrogar-se como homem em geral, como género humano, só lhe sendo dado verdadeiramente interrogar-se quando se assume na sua singularidade, desde quanto haja de mais íntimo e radical no seu ser, desde a mais funda subjectividade” (Marinho, 1966, p. 28). Como o ser humano se conhecerá a si próprio desse modo íntimo e radical? É o acto de interrogar que desencadeia a actividade filosófica. O método não seria através do ensino, mas através de uma educação, ou melhor dito, de uma iniciação que conduza à metanoia. “Essa iniciação tem três estádios: o da pedagogia, dirigido à preparação intelectual e ao cultivo da imaginação criadora no infante; o da paideia, em que a alma individual se integra num sistema socio-cultural sublimado numa filosofia situada (no paradigma da relação da paideia grega com a filosofia grega), dele recebendo e para ele ao mesmo tempo contribuindo: e o da anagogia, que é aquela forma de educação sem limites nem fronteiras em que mitos e poesia, em que a mística, a religião e tudo quanto não tem ou a que não baste nome ou palavra, vem corresponder ao alvo supremo ou fim último (Filosofia – Ensino ou Iniciação?, p. 103).” [1]

A anagogia seria assim um grau de elevação, o culminar de uma viagem ao sublime que só pode ser revelado ao que verdadeiramente se interroga, através do êxtase ou, nas palavras de José Marinho, da visão unívoca, ou seja uma apreensão intuitiva do inefável.

Bibliografia activa

MARINHO, José. Aforismos sobre o que mais importa. Obras de José Marinho, vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994.

______. Elementos para uma antropologia situada. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1966.

______, Cadernos do Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian, 4, Lisboa, 1966

______. Ensaios de aprofundamento e outros textos. Obras de José Marinho, vol. II. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1995.

______. Estudos sobre o pensamento português contemporâneo. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1981.

______. Filosofia: ensino ou iniciação? Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1972.

______. Filosofia portuguesa e universalidade da filosofia e outros textos. Obras de José Marinho, vol. VIII. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2007.

______. Da Liberdade Necessária e outros textos. Obras de José Marinho, vol. VII. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2006.

______. Nova Interpretação do Sebastianismo e outros textos, “Obras de José Marinho”, vol. V, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003.

__. O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra: introdução ao seu estudo. Porto: Livraria Figueirinhas, 1945.

______. O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra e outros textos. Obras de José Marinho, vol. IV. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001.

______. Significado e Valor da Metafísica e outros textos. Obras de José Marinho, vol. III, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1996.

______. Teoria do Ser e da Verdade. Lisboa: Guimarães Editores, 1961.

______. Teixeira de Pascoaes, Poeta das Origens e da Saudade. Obras de José Marinho, vol. VI. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2005.

______. Verdade, Condição e Destino no pensamento português contemporâneo. Porto: Lello & Irmão Editores, 1976.

Bibliografia passiva

BOTELHO, Afonso e Orlando Vitorino, «Proposições para a leitura do pensamento de José Marinho», em Cultura Portuguesa, nº 1, Lisboa, 1981;

COSTA, Dalila Pereira da, «Filosofia e Mística. De Bruno a Marinho», em Democracia e Liberdade, nº 42-43, 1987;

EPIFÂNIO, Renato, «José Marinho, entre Filosofia e Religião», Revista Portuguesa de Filosofia, T. 67, Fasc. 4, RELIGIÃO e INTERCULTURALIDADE (2011), pp. 747-766.

GOMES, Pinharanda, Teodiceia Portuguesa Contemporânea, Lisboa, 1975;

RIVERA, Jorge Croce. A Doutrina do Nada: o pensamento meontológico de José Marinho. Tese (Doutoramento em Filosofia). Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1998.

RIVERA, Jorge Croce. A meditação do tempo no pensamento de José Marinho. Dissertação (Mestrado em Filosofia). Lisboa, UL, 1989.

SPINELLI, Miguel, «A teoria de José Marinho sobre o ser e a verdade», em Revista Portuguesa de Filosofia, t. XLI, fasc. 2-3, Braga, 1985;

TELMO, António, «A teoria instante de José Marinho», em Leonardo, nº 1, Março, 1988.

TELMO, António, «O pensamento iniciático de José Marinho», em Cultura Portuguesa, nº 1, Lisboa, 1981;

Websites:

http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/1910e.html

https://www.incm.pt/portal/bo/produtos/anexos/10031920100524153759925.pdf

http://liceu-aristotelico.blogspot.com/2010/11/sobre-jose-marinho.html

https://jornalri.com.br/2018/ensaio-de-verao-jose-marinho-e-a-filosofia-portuguesa-ii

http://www.ofilosofo.com/TelmoMarinho.htm

[1] António Quadros, Do Magistério de Leonardo aos Magistério dos Discípulos, 1987, p.175, https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/15484/1/V01701-165-177.pdf