(1883 – 1955)
Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo
Horizonte geracional
GERAÇÃO DE 1914
País
Espanha
Data e local de nascimento
Madrid, 9 de Maio de 1883
Formação e acção
José Ortega y Gasset nasceu no seio de uma família da média burguesia e, através de uma ligação quase “hereditária” ao jornalismo, aquele que viria a ser um dos mais influentes filósofos espanhóis cedo pôde conviver com intelectuais, literatos, políticos e artistas.
Depois de ter feito o seu ensino secundário num colégio de jesuítas onde se iniciou com prazer no estudo das Humanidades, começou a sua formação universitária em Bilbao, na Universidade de Deusto. Mas seria na Universidade Central de Madrid que, depois de ter abandonado o estudo de Direito, se licenciaria em Filosofía y Letras, em 1902, e obteria o grau de doctor, dois anos mais tarde, após a apresentação da tese intitulada “Los terrores del año mil. Crítica de una leyenda”.
A leitura voraz de muitos autores, a admiração pelos membros da geração “del 98” e um notável afinco pelo estudo seriam outros tantos pilares da sua determinação de ir para a Alemanha e aí alimentar a sua vocação pessoal. De Fevereiro de 1905 a Agosto de 1907, frequentaria a Universidade de Leipzig, a Universidade de Humboldt, em Berlim, e a Universidade de Marburgo, à qual voltaria, por mais um ano, em 1911, depois de um interregno breve em que inicia a sua actividade docente na capital espanhola, ao mesmo tempo que começa a intervir na vida pública do seu país.
Actividade desenvolvida
A sua experiência na Alemanha, com mestres como Hermann Cohen e Paul Natorp, e colegas como Nicolai Hartmann e Heinz Heimsoeth, foi para Ortega muito importante e permitiu-lhe assumir, munido já dos recursos intelectuais necessários, a sua missão peculiar, que se traduzirá numa obra em que a reflexão filosófica se entretece constantemente com a reflexão política e a reflexão educativa.
Data e local de falecimento
18 de Outubro de 1955, Madrid.
Lema e linha filosófica
Catedrático de Metafísica durante um quarto de século – até ao fatídico ano de 1936 –, elaborou o seu pensamento com base na intuição fundamental da circunstancialidade do ser humano em que assenta, por um lado, a afirmação da circunstância como integrante de cada pessoa e, por outro, a compreensão da vida humana como tarefa constante e multiforme de busca de sentido para essa circunstância.
Linha filosófica e caracterização geral da obra
As concepções orteguianas da perspectiva como atributo da realidade e da consistência histórica e dramática do ser humano articulam-se intimamente com a intuição básica da circunstância, bem como com a doutrina da razão vital, que o filósofo defendeu desde os anos vinte e se libertaria de alguns matizes biologistas ao precisar-se, poucos anos depois, como razão histórica.
Muito do que Ortega sustentava nas suas doutrinas filosóficas comprovava-se nas suas próprias trajectórias biográficas, em que se cruzavam actividades de vária ordem. A par da docência, publicou livros, como Meditaciones del Quijote (1914), Personas, obras, cosas (1916), El Espectador (I-VIII, 1916-1934), España invertebrada (1922), El tema de nuestro tiempo (1923), La deshumanización del arte e Ideas sobre la novela (1925), Misión de la Universidad (1930), La rebelión de las masas (1930), Goethe desde dentro (1932), Ensimismamiento y alteración. Meditación de la técnica (1939), Ideas y creencias (1940), Historia como sistema y Del Imperio Romano (1941), Esquema de la crisis y otros ensayos (1942), Papeles sobre Velázquez y Goya (1950). E, já postumamente, foram ainda publicados outros livros, não menos importantes, como, por exemplo, ¿Qué es filosofía?, El hombre y la gente, La idea de principio en Leibniz y la evolución de la teoría deductiva e Sobre una nueva interpretación de la historia universal. Exposición y examen de la obra de Arnold Toynbee: ‘A Study of History’. Mas, para além destes, pode dizer-se que muitos outros ficaram por publicar, em virtude da grande dedicação de Ortega a uma intensa produção jornalística, à realização de muitas conferências não acolhidas em livro e ao empenho em diversas iniciativas editoriais, de que a fundação, em 1923, da Revista de Occidente é apenas um, embora excelente, exemplo, enquanto publicação periódica aberta ao pensamento europeu mais actual e que deu origem à conhecida editora com o mesmo nome.
Ao longo de muitas etapas da sua vida, Ortega não se furtou à intervenção, enquanto filósofo, no debate político, em momento cruciais como o da crítica à Restauração (em que é co-fundador da Liga de Educación Política Española e se destaca com a sua conferência “Vieja y nueva política”, em 1914), o da Ditadura de Miguel Primo de Rivera (em que, nomeadamente, teve de suspender, em 1928, a publicação da série de artigos mais tarde publicados sob o título La redención de las provincias y la decencia nacional) e o seguinte, em que colaborou na fundação, em Fevereiro de 1931, da Agrupación al Servicio de la República, o que, após a proclamação da II República espanhola, estará na base da sua eleição como deputado para as Cortes Constituyentes.
Com o início da Guerra Civil exilou-se, tendo vivido em França e na Holanda, e, a partir do início da II Guerra Mundial, na Argentina e em Portugal. Aqui teria a sua residência oficial, a partir de 1942. Embora, após terminar o conflito mundial, tivesse voltado a Madrid e aí tivesse fundado em 1948, juntamente com o seu discípulo Julián Marías, o Instituto de Humanidades, nos últimos anos de vida o reconhecimento parecia ser maior no estrangeiro do que no país, cuja cultura tanto procurou enriquecer até ao fim da sua existência em 1955, tratando temas de todas as áreas, da Filosofia à Literatura e às Artes, da Ciência à Política, dando a conhecer muitas obras e autores e, acima de tudo, apresentando um pensamento original, que continua a interpelar-nos como actual.
Bibliografia activa
‒ Obras completas. 10 Tomos, Madrid: Taurus – Fundación José Ortega y Gasset, 2004-2010.
Bibliografia passiva
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