RAMIRO DE MAEZTU [WHITNEY]

(1874-1936)

Autoria: Margarida I. Almeida Amoedo

Horizonte geracional

GERAÇÃO “DEL 98”

País

Espanha

Data e local de nascimento

Vitoria, 4 de Maio de 1874

Formação e acção

Ramiro de Maeztu nasceu no seio de uma família abastada e cosmopolita: o pai, Manuel de Maeztu, era proprietário em Cuba, onde, apesar da sua ascendência espanhola, nascera (em Cienfuegos); e a mãe, natural de Nice, era filha de um diplomata britânico; tinham-se conhecido em Paris e resolvido vir a Espanha em busca das raízes da família de Manuel de Maeztu, mas a III Guerra Carlista acabou por os reter, tendo ficado a residir na cidade basca de Vitoria; aí nasceria Ramiro, o primeiro de cinco filhos, entre os quais a reconhecida pedagoga orteguiana María de Maeztu e o pintor Gustavo de Maeztu.

No seio familiar, Ramiro começou por ter um ambiente refinado e aprendeu as Línguas dominadas pelos seus pais. Ainda na sua cidade natal, entrou no Instituto de Enseñanza Media, em 1882.

Concluiria o ensino secundário em 1887. Contudo, não realizou estudos universitários, pois os negócios da família foram sofrendo muitas dificuldades, agravadas pela independência cubana, e, após a morte do pai, não tinham disponibilidade económica. Tivera de mudar-se, com a mãe e os irmãos, para Bilbao, cidade onde a mãe montou uma academia anglo-francesa, mais tarde denominada Academia Maeztu.

Em Bilbao, Ramiro de Maeztu cedo foi atraído pelos intelectuais e estabeleceu relações com, por exemplo, Miguel de Unamuno. No entanto, em 1890 foi com os tios para Paris, para aprender a actividade comercial. Como não obtivesse grande sucesso, a mãe enviou-o para La Habana, tendo experimentado aí vários trabalhos. De regresso a Bilbao, entrou no jornal El Porvenir Vascongado, iniciando-se por essa via no jornalismo. São de 1895 os seus primeiros artigos sobre o problema de Cuba, com o que começou a manifestar a sua preocupação com a política espanhola, doravante o eixo do desenvolvimento das suas doutrinas.

Foi residir para Madrid, em 1897. Estudioso autodidacta, tornou-se colaborador de vários jornais e revistas, como El Imparcial, Vida Nuova e España. Assinava, por aquela época, com o pseudónimo “Rotuney”. Envolvendo-se na vida pública, estabelece relações com Azorín e Baroja, e com eles funda o Grupo de los Tres. Assume, inicialmente, a defesa de um europeísmo e critica a política espanhola tradicional, simpatizando com os ideais regeneracionistas de Joaquín Costa.

Em 1905, foi viver para Bayswater (Londres), onde trabalhou como jornalista correspondente do Heraldo de Madrid, do Nuevo Mundo, de La Nación, de Buenos Aires, e de La Correspondencia de España. Foi mesmo correspondente de guerra, em Itália, em 1914 e 1915. Só regressaria a Espanha em 1919, após a sua longa estada em Inglaterra, onde se dedicou aos âmbitos do saber filosófico, literário e político. Foi também aí que conheceu, por exemplo, Luis Araquistáin e Salvador de Madariaga. Tendo estado próximo da Fabian Society, o seu pensamento vai-se inclinando para a defesa da ideia de função social que apresenta no livro Authority, Liberty and Function in the Light of War. Foi publicado em 1916 – o mesmo ano em que se casou, com Alice Mabel Hill – e só seria traduzido para espanhol em 1919, sob o título La crisis del humanismo. O seu único filho, Juan Manuel de Maeztu y Hill, nasceu em 1918.

Quando regressa a Madrid, Ramiro de Maeztu é já um homem maduro, cuja experiência inglesa será determinante, tanto no seu estilo, como na consolidação das traves-mestras do seu pensamento.

Actividade desenvolvida

Ramiro de Maeztu foi, principalmente, jornalista e escritor, embora também pontualmente tenha sido embaixador e conferencista. Distinguiu-se como pensador político e, sobretudo na última década de vida, militou por várias causas tradicionalistas que lhe custariam a vida, sendo fuzilado no início da Guerra Civil.

Data e local de falecimento

29 de Outubro de 1936 (62 anos), Aravaca (Madrid).

Lema e linha filosófica

Salvador de Madariaga considerou Ramiro de Maeztu “el filósofo político de la generación del 98”. Portanto, como os demais autores da mesma geração, enfrentar o problema de Espanha constituir-se-ia como o seu próprio lema, mas tomou-o, em particular, numa perspectiva política, cujo sentido doutrinal se foi alterando ao longo do seu desenvolvimento intelectual, ao ponto de ter passado da defesa de uma europeização de Espanha à defesa de uma hispanização da Europa.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Na juventude, Ramiro de Maeztu assumiu-se como um admirador da obra de Nietzsche, sendo especialmente sensível às ideias de domínio do indivíduo e da vontade de poder. Quanto ao seu ponto de vista sobre, especificamente, as causas da decadência espanhola e sobre a necessária revitalização nacional, dele deu conta nos artigos de imprensa que viria e reunir em Hacia otra España (1899).

Em Inglaterra, os seus conhecimentos aprofundaram-se e os temas do seu interesse multiplicaram-se, passando a atender aos problemas da industrialização, à situação dos trabalhadores e às propostas de Arthur J. Penty de um socialismo gremial (guild socialism). As suas convicções vão-se reconfigurando, adoptando uma dupla faceta, por um lado, libero-socialista e, por outro, cristã. Perante a crise do humanismo, irá denunciar a liberdade exagerada e compreender o significado e os direitos do indivíduo enquanto participa na ordem social e política e na consecução do bem comum. Daí a sua publicação do livro Authority, Liberty and Function in the Light of the War, em 1916, ano em que também reúne, sob o título Inglaterra en armas, meditações desenvolvidas enquanto correspondente aliado em várias zonas durante a I Guerra Mundial.

Já em Espanha, irá aproximar-se do general Primo de Rivera e, tendo passado a defender um organicismo antidemocrático, filiar-se no partido Unión Patriótica. Analisará o espírito espanhol em termos literários e publicará, em 1926, Don Quijote, Don Juan y la Celestina: ensayos de simpatía. Membro da Asamblea Nacional Consultiva ao longo de 1927, aceita ir, no ano seguinte, para a Argentina, como Embaixador Extraordinário nomeado por Primo de Rivera. Foi, então, além-mar, que se passou a dedicar à noção de Hispanidad, proposta pelo sacerdote jesuíta Zacarías de Vizcarra. A sua actividade de conferencista naquela época centra-se na cultura espanhola, agora por si considerada paradigmática graças ao catolicismo tradicional e ao Siglo de Oro.

Termina o seu desempenho como Embaixador e regressa ao país em 1930. Proclamada a II República em Espanha, colabora com Eugenio Vegas Latapié e o marquês de Quintanar (conhecedor do integralismo português e amigo pessoal de António Sardinha) na fundação da sociedade cultural Acción Española, um movimento, no fundo, de oposição, em nome de um patriotismo conservador, pró-monárquico e autoritário, aos ideais republicanos. Em 15 de Dezembro de1931, começa a publicar-se a revista do movimento e é Ramiro de Maeztu quem escreve o Editorial (texto vencedor do Premio Luca de Tena de Periodismo) e, depois, muitos artigos que viriam a integrar a obra Defensa de la Hispanidad (1934), cuja redacção começara na Argentina. Este, que seria o seu livro mais conhecido, defendia a tradição católica e a civilização hispânicas, contrapondo aos princípios revolucionários de Liberdade, Igualdade e Fraternidade os princípios de Serviço, Hierarquia e Irmandade. A língua espanhola e a religião católica são vistas como instrumentos para vencer a crise da modernidade.

Entretanto, e apesar de se ter demarcado tão claramente dos republicanos, Ramiro de Maeztu entrara na Academia de Ciencias Morales y Políticas, em 1932, tendo discursado sobre “El Arte y la Moral”. Em 1933, foi deputado pelo partido monárquico e de direita Renovación Española e, após a greve de Outubro de 1934, as suas posições reacionárias acentuaram-se ao máximo. Em 1935, foi ainda nomeado para a Academia de la Lengua Española, onde apresentou o discurso “La brevedad de la vida en nuestra poesía lírica”. No entanto, no ano seguinte, após o começo da Guerra Civil e três meses na prisão de Ventas em Madrid, foi executado numa das temíveis “sacas” republicanas.

Bibliografia activa

Hacia otra España. Bilbao: Biblioteca Vascongada de Fermín Herranz, 1899.

La revolución y los intelectuales. Madrid: Impr. de Bernardo Rodríguez, 1911.

Obreros e intelectuales. Barcelona: Ateneo Enciclopédico Popular, 1911.

Debemos a Costa. Los hombres y las ideas. Zaragoza: Tip. de Emilio Casañas, 1911.

Inglaterra en armas. Londres: Darling and Son, 1916.

Authority, Liberty and Function in the Light of War. London: George Allen & Unwin, 1916.

Obra de Ramiro de Maeztu. Prólogo y selección de V. Marrero. Madrid: Editorial Nacional, 1974.

Bibliografia passiva

ABELLÁN, José Luis – «Ramiro de Maeztu o la voluntad de poder», in La crisis de fin de siglo. Buenos Aires: Ariel, 1975, pp. 283-297.

AGUIRRE DE PRADO, L. – Ramiro de Maeztu. Madrid: Publicaciones Españolas, 1954.

BLAS, Andrés de – La ambigüedad nacionalista de Ramiro de Maeztu (working paper). Barcelona: Universidad Nacional de Educación a Distancia / Working Paper n.º 71, 1993.

Cuadernos Hispanoamericanos, Madrid, n.ºs 33/34 – Homenage a don Ramiro de Maeztu (1952), 496 págs.

FERNÁNDEZ DE LA MORA, Gonzalo – «Maeztu y la teoría de la revolución», in MAEZTU, R. – Frente a la República. Madrid: Rialp, 1956, pp. 11-110.

FERNÁNDEZ DE URBINA, J. M. – La aventura intelectual de Ramiro de Maeztu. Vitoria: Diputación Foral de Álava, 1990.

González Cuevas, Pedro Carlos – Maeztu: biografía de un nacionalista españolMadrid: Marcial Pons Historia, 2003.

GONZÁLEZ NAVARRO, F. – Ramiro de Maeztu. Madrid: Editorial Doncel, 1967.

JIMÉNEZ TORRES, David – Ramiro de Maeztu and England. Imagineries, Realities and Repercussions of a Cultural Encounter. Woodbridge: Boydell & Brewer, 2016.

López Quintás, Alfonso – «Ramiro de Maeztu. La defensa del espíritu y de la Hispanidad»Anales de la Real Academia de Ciencias Morales y Políticas, Madrid (Real Academia de Ciencias Morales y Políticas), 79 (2002), 61-85.

MARRERO, Vicente – Maeztu. Madrid: Rialp, 1955.

NOUGÉ, André – “Ramiro de Maeztu (1874-1936). Biografía y trayectoria espiritual”, Boletín de la Institución Fernán González, Burgos, Año 53, n.º 183 (1974), 370-381.

PALACIOS FERNÁNDEZ, Emilio – Ramiro de Maeztu: la labor literaria de un periodista (1897-1910). Vitoria: Diputación Foral de Álava, 1982.

SANTERVÁS SANTAMARTA, A. Rafael – La etapa inglesa de Ramiro de Maeztu (tese de Doutoramento). 3 vols. Madrid: Editorial de la Universidad Complutense, 1987.

VAL, V. et al.En torno a Ramiro de Maeztu. Vitoria: Caja de Ahorros, 1974.

Valladares, Secundino – «Hacia la otra España del joven Maeztu»Revista de Antropología Social, Madrid (UCM), 7 (1998), 177-213.

VILLACAÑAS, José Luis – Ramiro de Maeztu y el ideal de la burguesía en España. Madrid: Espasa Calpe, 2002.