AUGUSTO SALAZAR BONDY

(1925 – 1974)

Autoria: Carlos A. Gomes

Horizonte geracional

 GERAÇÃO DE 45 – FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO IBERO-AMERICANA

País

PERÚ

Data e local de nascimento

8 de Dezembro de 1925, Lima

Data e local de falecimento

6 de Fevereiro 1974, (48 anos), Lima

Formação e acção

Augusto Salazar Bondy iniciou os seus estudos universitarios na Universidade de S. Marcos, onde fez a licenciatura em Humanidades (1950), concluindo o seu doutoramento em Filosofia, com a tese ‘Ensayo sobre la distinción entre el ser irreal y el ser real’, (1953). O seu espírito idealista e perfeccionista levou-o a trilhar novos caminhos, aprofundando os seus estudos na Universidade Autónoma do México, onde conheceu Leopoldo Zea, e no Colégio de Filosofia. Foram por demais conhecidas as polémicas travadas com o filósofo mexicano acerca da existência ou não de uma filosofía distintiva no continente americano. No México, Bondy também teve a felicidade de conhecer José Gaos, o primeiro tradutor para espanhol do ‘Ser e Tempo’ e grande impulsionador do existencialismo e da história das ideias na América do Sul, e com quem debateu a realidade sócio-política e o desenvolvimento do pensamento ibero-americano.

Num périplo pela Europa (França, Alemanha e países escandinavos), frequentou as Universidades de Paris (com Jeah Wahl, Jean Hyppolite e Gaston Bachelard) e Munique. Em 1955 regressou à Universidade de S. Marcos, como catedrático, pasando a leccionar Introdução à Filosofia e Metodología da Educação, na Faculdade de Educação. Augusto Salazar Bondy tornou-se uma das figuras mais reconhecidas no panorama científico e filosófico latino-americano, a partir do interesse demonstrado pela temática ético-axiológica e científica, mas fundamentalmente pela análise social e discussão críticas, da realidade peruana. Neste contexto, teve um importante papel na tematização da natureza do filosofar latino-americano, em termos de cultura de dominação. A sua actividade política e educativa mais relevante decorreu entre 1970 e 1974, durante o governo nacionalista de Juan Velasco Alvarado, no qual Bondy se constituíu como uma das figuras mais dinámicas da reforma da educação peruana. O seu contributo fica, assim,  indelevelmente marcado pela altitude comprometida com o seu tempo e com os problemas humanos da liberdade e dos valores.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Augusto Salazar Bondy foi um dos teóricos da chamada FL (Filosofia da Libertação). Um dos aspectos em que mais se dedicou, foi exactamente naquilo a que se viria a chamar a ‘filosofia hispano-americana’ e cujas ideias são negativas, quanto á sua natureza própria e original. Em inúmeras obras, em particular em Existe una filosofía en nuestra América?’, Bondy manifesta a sua ideia-chave de que o pensamento filosófico latino-americano está desprovido de um carácter próprio, sendo puramente imitativo e anatópico. A sua teoría sobre a cultura da dominação, permite-nos compreender melhor a necessidade de uma cultura verdadeiramente livre, sem quaisquer dependências, sejam elas políticas, económicas ou culturais.

Para compreender os conceitos de originalidade e autenticidade em Salazar Bondy e aquilo que significa uma filosofia original e autêntica, é preciso recordar a sua concepção de filosofia. A Filosofia para Salazar Bondy, é na obra atrás referida e segundo o próprio: ” … varias cosas: es análisis, es iluminación de la experiência del mundo y de la vida; entre estas cosas es tanbién la conciencia racional de un hombre y de la comunidad en que éste vive, la concepción que expresa el modo cómo las agrupaciones históricas reaccionam ante el conjunto de la realidad y el curso de su existencia, su manera peculiar de iluminar e interpretar el ser en que se encontran instaladas. Bondy ao tratar da Filosofia hispano-americana utiliza os conceitos de originalidade e autenticidade, ao mesmo tempo que as faz acompanhar do conceito de peculiaridade. Para si, todos estes conceitos estão intimamente ligados, pois uma filosofia de carácter original, também o é autêntica, visto que um produto que resulta como uma criação nova, não pode deixar também de ser autêntico, no sentido de não ser falso ou ambíguo. Por outro lado, uma filosofia de carácter autêntico, possui um carácter original, pois um produto filosófico não falseado, nem equivocado, não resulta numa simples repetição de conteúdos doutrinários. Entretanto, o conceito de peculiaridade possui uma determinada margem de independência em relação aos conceitos de autenticidade e originalidade. Uma filosofia original e autêntica também é peculiar, todavia nem toda a filosofia de carácter peculiar tem que ser necessariamente autêntica e original. A peculiaridade de determinada filosofia pode ser simplesmente uma imitação (portanto, sem ser original e autêntica), com traços culturais e históricos distintos face a outra filosofia, produzida num contexto histórico e cultural diferente. Ora, segundo Salazar Bondy, a filosofia hispano-americana constituiu-se ao longo de sua história como um produto sem originalidade nem autenticidade, como imitação de conteúdos filosóficos alheios (europeus), surgidos num contexto histórico diferente.

Para o filósofo peruano, o facto de a filosofia hispano-americana se apresentar como inautêntica e sem originalidade ao longo de sua história, revela o carácter alienado dos países que compõem a comunidade hispano-americana. Uma comunidade desintegrada, subdesenvolvida e dependente expressa, naturalmente uma filosofia sem originalidade e autenticidade. Tal constatação do autor leva à conclusão de que o problema da filosofia hispano-americana não é um problema da filosofia como tal, mas da própria comunidade hispano-americana, ou, para usar um outro conceito do autor, aos ‘países’ hispano-americanos tomados no seu conjunto. Por isso, para explicar o fenómeno da filosofia hispano-americana é imprescindível, segundo o autor, a utilização de conceitos como os de subdesenvolvimento, dependência e dominação. O conceito de dependência está ligado ao conceito de dominação pelo facto de que numa relação de dominação entre duas classes, por exemplo, uma depende da outra no sentido de que se relacionam entre si de uma forma necessária, relação na qual, no entanto, uma predomina sobre a outra. Bondy exemplifica essa situação quando afirma ser este o caso ‘histórico’ dos países hispano-americanos que estiveram ou estão vinculados à condição de dependência. Dependentes em relação à Espanha (no caso do Brasil, a Portugal), mais tarde à Inglaterra e, no presente, aos Estados Unidos. Ora, essa tem sido até hoje a situação dos países hispano-americanos, cuja situação de dominação e dependência em relação aos centros de poder mundiais, resultou no seu subdesenvolvimento.

Considerando tal realidade, é possível verificar, conforme o autor, que a cultura produzida pelos países hispano-americanos, por ser uma simples imitação de modelos culturais estranhos, surgidos de outro contexto histórico, constitui-se como alienação e mistificação, e não como resposta às solicitações e conflitos provenientes do próprio contexto histórico hispano-americano. A filosofia hispano-americana como produto específico de uma determinada cultura de dominação resulta, nesse sentido e segundo Bondy, como uma filosofia de dominação (alienante), sem originalidade, autenticidade, e desprovida de espírito criativo.

Bibliografia activa (completa)

  • Entre Escila y Caribdis.
  • Bartolomé o de la dominación
  • La filosofía en el Perú. Panorama histórico. (Philosophy in Perú: A Historical Study), Washington: Unión Panamericana, 1954.
  • Ensayos escogidos de Manuel González Prada. Lima: Patronato del Libro Peruano, 1956.
  • Valor y estética, Literatura (Lima), No. 3
  • Filosofía marxista en Merleau-Ponty, Estudio (Lima), No. 2
  • Bases para un socialismo humanista peruano (producido inicialmente para el MSP, fue luego reproducido en Entre Escila y Carbdis)
  • Tendencias contemporáneas de la filosofía moral británica
  • Introducción a la filosofía. Manual de filosofía Vol. II, Lima: Santa Rosa, 1961.
  • Las tendencias filosóficas en el Perú. Cultura Peruana, Lima: San Marcos, 1962.
  • Historia de las ideas en el Perú contemporáneo. Lima: Moncloa, 1965.
  • ¿Qué es filosofía?, Lima: Vilock, 1967.
  • ¿Existe una filosofía en nuestra América? México: Siglo XXI, 1968
  • La cultura de la dominación, en Perú Problema, Lima: Moncloa, 1968
  • Para una filosofía del valor, Santiago de Chile: Editorial Universitaria, 1971
  • Filosofía y alienación ideológica, en José Matos Mar (Ed.), Perú Hoy, México: Siglo XXI, 1971.
  • Filosofía de la dominación y filosofía de la liberación, en Stromata, Universidad del Salvador (Arg.), Año XXIX, No. 4.
  • La Educación del Hombre Nuevo. La reforma educativa peruana, Buenos Aires: Ed. Paidós, 1975

Bibliografia passiva (completa)

  • ARISTA, G. (1973). EL Currículo y la Dependencia Educativa Peruana. Lima, perú: Editorial Confianza S.A.
    • GASTON, M. y DOMINGO, A. (1998). Historia de la Educación. 5ta. Edición. Lima, Perú.
    • GONZALEZ, R. (1991). Augusto Salazar Bondy. Refelxiones en torno a su propuesta educativa“, en Tarea, revista de educación y cultura. Mayo, v. 26, pp. 34-41.
    • NUÑEZ, C: (1987). Educar para transformar y transformar para educar. Lima: Impreso en los talleres gráficos de tarea.
    • PEÑALOZA RAMELLA, W.: (1986). El profesor y el Currículo. Lima: impreso en la Universidad nacional de Educación E. G y V. La Cantuta.
    • RIVARA DE TUESTA, M. (2000). “Bibliografia de Augusto Salazar Bondy”, en Filosofía de las Ideas en el Perú. Tomo II. Lima: Fondo de Cultura Económica. Pp. 305-334.
    • SALAZAR Bondy (1950). “Panorama de la filosofía en el Perú”, el Mar del Sur revista peruana de cultura. Nov-Dic. V.V,n. 14, pp. 42-50
    • Salazar bondy, A. (1965). En torno a la Educación. 1°. Ed. Lima: Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Facultad de Educación.
    • SOBREVILLA, A. (1996). La filosofía contemporánea en el Perú. Estudios, reseñas y notas sobre su desarrollo y situación actual. Editor Carlos Matta. Lima, Perú: Editorial Antonio Ricardo.
    • SOBREVILLA, D y ORVIG, H . comp. (1995). Dominación y Liberación Escritos 1966-1974 de Augusto Salazar Bondy sobre dominación y liberación. Lima, Perú: Fondo Editorial de la Facultad de Letras y Ciencias Humanas, UNMSM.