NICOLÁS GOMÉZ DÁVILA

(1913 – 1994)

Autoria: Carlos A. Gomes

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 30 – FILOSOFIA IBERO-AMERICANA

País

COLÕMBIA

Data e local de nascimento

18 de Maio de 1913, Bogotá, 1913

Data e local de falecimento

17 de Maio de 1994, Bogotá (80 anos)

Formação e acção

Podemos retratar aquilo que foi o itinerário pessoal de Nicolás Goméz Dávila, nas suas principais etapas existenciais.

Nicolás Gómez Dávila nasceu em Bogotá, capital da Colômbia, em1913. Com seis anos de idade mudou-se com a sua família para Paris, tendo tido aí a oportunidade irrecusável de se cultivar e conhecer a cultura histórica clássica. Recebendo uma sólida educação religiosa (cristã), num colégio de beneditinos, regressou ao seu país natal em 1936, onde se casou com Emilia Nieto, de quem teve três filhos. A sua existência foi, em grande medida, dedicada ao pensamento e à reflexão filosófica, e congregando à sua volta admiradores de todos os quadrantes político-sociais. Gabriel Garcia Márquez disse mesmo um dia que “Si no fuera de izquierdas, pensaría en todo y para todo como él”.

Faleceu na sua cidade (Bogotá) em 1994, com 80 anos, onde foi alvo de uma homenagem sentida e  vibrante.

Católico e de princípios profundos e bem vincados, Nicolas Goméz Dávila produziu uma obra global que foi considerada uma janela crítica na América latina, aberta a certas expressões anti-convencionais da “modernidade”, tal como às ideologias marxistas e a algumas manifestações da democracia e liberalismo, pela decadência e a corrupção que abrigavam. A sua obra ‘Escolios a un texto implícito’, constitui um dos mais valiosos exemplos do esforço do pensamento humano face à  modernidade. Esta obra constitui um monumental edifício de mais de 1.400 páginas, e em cujos dominios estão condensados os mais de 8.000 ‘escolios’ que Gómez Dávila deixou escritos entre 1977 e 1992.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Pode-se dizer que o pensamento e a acção intelectual de Gómez Dávila, devem ser compreendidos no contexto de uma  reacção a uma crise intelectual, religiosa e estética, cujas consequências atormentaram a essência do seu discurso controverso e crítico. Essa crise é a crise da chamada ‘modernidade’, ou da razão (século XX), com tudo quanto isso implica. O seu estilo é desenvolvido através de uma prosa discursiva aforística, de pendor quase nihilista.

Filósofo inacabado e anti-sistemático, Gomez Dávila foi, todavia, um pensador consequente que renunciou à vã pretensão de escalar o púlpito dos mediatismos filosóficos. Este pensador colombiano nunca passou a escrito um sistema filosófico propriamente dito, mas não deixou por isso de ser um pensador de grande clarividência, avesso a todos os dogmatismos, mas extremamente lúcido e perspicaz. Tal como Nietzsche, recorreu ao estilo forte e inflamável do aforismo, mas em vez de chamar a tais reflexões aforismos, denominou-os ‘escolios’.

Apesar de ser um pensador fragmentario, Gómez Dávila oferece-nos um discurso filosófico de uma  absoluta verticalidade e integridade. Os seus ‘mestres’, não deixam lugar a dúvidas sobre a caracteristica do pensamento que subjaz ao seu discurso: Tucídides, S.Tomás de Aquino, Montaigne, Jacob Burkhardt, e até Osvaldo Spengler, são algumas das suas figuras confessas.

Dávila exemplificou com a sua coerente posicão intelectual, os traços de dignidade ética, estética e, fundamentalmente, espiritual. Esquecido durante decénios, a sua vida discreta e silenciosa, longe do ruido mundano e dos ambientes cosmopolitas intelectuais, ultrapassou todas as convenções e ‘normalizações’ reinantes. Reticente ás luzes da ribalta, Goméz Dávila nem sequer manifestou vontade em se assumir como filósofo, guardando em si mesmo um verdadeiro exercício estético, de “anti-convencionalismo auténtico”. Fechado na sua mansão, entre as quatro paredes de uma grandiosa biblioteca que comportava trinta mil volumes (actualmente conservada pela Biblioteca Luis Ángel Arango, de Bogotá), aproveitou a sua cómoda situacão financeira e dedicou a sua vida por inteiro, ao exercicio do pensamento e á prática da filosofia. Em 1948 ajudou mesmo a fundar a Universidad de Los Andes, em Bogotá, Colômbia.
A ideia-base é basicamente muito simples: quer capitalismo quer comunismo têm em comum um mesmo objectivo. Na verdade, a desumanização é o sentido que as liga, pois constituem máscaras diferentes que ocultam idêntico rosto – a alienação. Segundo Gómez Dávila, a natureza do homem assume o mesmo sentido em qualquer delas, seja o sentido capitalista, nas ideologias burguesas, ou o sentido popular, na vertente comunista. Ambas não passam de ‘irmãos’ rivais.

Para o pensador colombiano o progresso jamais poderia descambar num simples processo mecanicista e industrial, reduzido à voracidade do paradigma utilitarista e mecânico das paixões. Ao invés, deveria propiciar um conforto ético e espiritual, restituindo o homem á sua natureza divina. Aterrador e certeiro na sua intuição anti-moderna e na consequente genealogia do erro, Gómez Dávila cristaliza esta ‘decadência moderna’ quando afirma “La sociedad moderna no educa para vivir sino para servir”.

Bibliografia activa

  • Textos. Colección Memoria mundi. Vilaür: Ediciones Atalanta, 2010.
  • Escolios a un texto implícito. Prólogo Franco Volpi. Cartoné. Papel biblia. 1408 págs. Colección Ars brevis. Vilaür: Ediciones Atalanta, 2009.
  • Escolios a un texto implícito, Obra completa. Nicolás Gómez Dávila, Franco Volpi. Julio de 2006, 408 páginas. Villegas Editores.
  • Notas I, México, 1954. (Nueva edición: Bogotá, 2003).
  • Textos I, Bogotá, 1959. (Nueva edición: Bogotá, 2002).
  • Escolios a un texto implícito, 2 volúmenes. Bogotá, 1977.
  • Nuevos escolios a un texto implícito, 2 volúmenes. Bogotá, 1986.
  • De iure, en Revista del Colegio Mayor de Nuestra Señora del Rosario Jg., nº 542 (abril-junio de 1988), pp. 67-85.
  • Sucesivos escolios a un texto implícito, Santafé de Bogotá, 1992. (Nueva edición: Barcelona, 2002).
  • El reaccionario auténtico, en Revista de la Universidad de Antioquia, nº 240 (abril-junio de 1995), pp. 16-19.
  • Escolios a un texto implícito. Selección, Bogotá, 2001.

Bibliografia passiva

  • Volpi, F., “El solitario de Dios”, en GÓMEZ DÁVILA, N., Escolios a un texto implícito, Atalanta, Girona, 2009, pp. 9-51.
  • Alfredo Abad: Pensar lo implícito. En torno a Gómez Dávila. Postergraph, Pereira, 2008.
  • Badawi, Halim. «Apuntes para una biblioteca imaginaria: valor patrimonial y situación legal de las bibliotecas de Bernardo Mendel y Nicolás Gómez Dávila», en Revista de la Escuela Interamericana de Bibliotecología. Medellín: Universidad de Antioquia, 2007.
  • Camilo Noguera Pardo: Biografía intelectual de Nicolás Gómez Dávila; esbozos escogidos de sus influencias. Universidad Sergio Arboleda, 2012.
  • Franco Volpi: «Un angelo prigioniero nel tempo», enNicolás Gómez Dávila: In margine a un testo implicito, Milano 2001, pp. 159-183.
  • Hernán D. Caro: «El buen odioso — La apoteosis alemana de Nicolás Gómez Dávila», en Revista Arcadia, enero de 2008.
  • José Antonio Bielsa Arbiol: «El pensamiento reaccionario de Nicolás Gómez Dávila (1913-1994), una introducción», enPluma libre y desigualnº 96, febrero de 2012, Zaragoza, pp. 4-8.
  • José Miguel Oviedo: Breve historia del ensayo hispanoamericano, Madrid 1981, pp. 150-151.
  • José Miguel Serrano Ruiz-Calderón: “Democracia y nihilismo, vida y obra de Nicolás Gomez Dávila”, Navarra, 2015 EUNSA.
  • Juan Gustavo Cobo Borda: Nicolás Gómez Dávila, un pensador solitario, en Cobo Borda: Desocupado lector. Bogotá, 1996, pp. 94-96.
  • Mauricio Galindo Hurtado: «Un pensador aristocrático en Los Andes: una mirada al pensamiento de Nicolás Gómez Dávila», en Historia Crítica, Bogotá, nº 19, (2000).
  • Niccolò Cereno, «Gómez Dávila, Nicolás», en Enciclopedia filosofica, volume 5, Milano 2006.
  • Óscar Torres Duque: «Nicolás Gómez Dávila: la pasión del anacronismo», en Boletín Cultural y Bibliográfico 32, nº 40 (1995). 31-49.
  • Philippe Billé (ed.):Studia Daviliana. Études sur N. G. D., La Croix-Comtesse 2003.
  • Reinhart K. Maurer: Ausnahmslose Gleichheit?, en
  • Die Ausnahme denken (FS Kodalle), volumen 2, ed. por C. Dierksmeier, Würzburg 2003, pp. 165-76.
  • Reinhart K. Maurer: Reaktionäre Postmoderne – Zu Nicolás Gómez Dávila, en J. Albertz (ed.): Aufklärung und Postmoderne – 200 Jahre nach der französischen Revolution das Ende aller Aufklärung?, Berlin 1991, pp. 139-150.
  • Till Kinzel: «Vom Sinn des reaktionären Denkens. Zu Nicolás Gómez Dávilas Kulturkritik», en Philosophisches Jahrbuch1/2002, pp. 175-185.
  • Till Kinzel: Nicolás Gómez Dávila. Parteigänger verlorener Sachen, Schnellroda 2003, ²2005, ³2006.
  • Virgil Nemoianu:Nicolás Gómez Dávila: Parteigänger verlorener Sachen, enMLN, volumen 119, nº 5, diciembre de 2004 (Comparative Literature Issue), pp. 1110-1115.
  • Vittorio Hösle:Variationen, Korollarien und Gegenaphorismen zum ersten Band der „Escolios a un texto implícito“ von Nicolás Gómez Dávila, enDie Ausnahme denken, 2003, pp. 149-63.
  • «Nicolás Gómez Dávila. Crítica e interpretación», en Revista de Filosofía Paradoxa nº 14, Universidad Tecnológica de Pereira, 2007.