ARIANO SUASSUNA

Autor: José Eliézer Mikosz

(16/06/1927 – 23/07/2014)

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1940/50

País

Brasil

Data e local de nascimento

16 de junho de 1927, Cidade da Parahyba, Paraíba.

Formação e acção

Ariano Suassuna nasceu em uma família com recursos financeiros, seu pai, João Suassuna possuía o cargo de Presidente do Estado (Governador). Seu pai foi assassinado por motivos políticos na cidade do Rio de Janeiro em meio a Revolução de 30. Após o incidente mudaram-se inicialmente para a cidade de Taperoá e então para Campina Grande, ambas na Paraíba.

Na adolescência foi viver no Recife (Pernambuco) onde estudou Direito na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Formou-se em 1950.

Ainda cursando a universidade escreve sua primeira peça de teatro Uma Mulher Vestida de Sol e recebe o prêmio Nicolau Carlos Magno.

Em 1989, foi eleito para a cadeira n.º 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1993, foi eleito para a cadeira n.º 18 da Academia Pernambucana de Letra e em 2000, ocupou a cadeira n.º 35 da Academia Paraíbana de Letras.

Actividade desenvolvida

Dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, professor e advogado.

Em 1945 inicia a colaborar como o Jornal do Comércio com o poema Noturno.

Em 13 de abril de 1946, o Teatro do Estudante de Pernambuco foi fundado por Hermilo Borba Filho com Gastão de Holanda, Joel Pontes, Aloísio Magalhães, Lula Cardoso Ayres, Aristóteles Soares e Ariano Suassuna que se propõe a combater tanto a mercantilização quanto o aburguesamento da arte. O grupo era quase todo formado por alunos da Faculdade de Direito.

Em 1955, Ariano escreve a peça O Auto da Compadecida, uma de suas mais conhecidas obras. No dia 11 de setembro de 1956 estreia esta peça no Teatro Santa Isabel. No ano seguinte, a peça é levada para o Rio de Janeiro e apresentada no 1.º Festival de amadores nacionais.

Em 1956 passa a dar aulas de Estética na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) deixando a advocacia. Se retira em 1994. Em 2008 volta a dar aulas na UFPE, no curso de Letras.

Em 1957 casa-se com Zélia de Andrade Lima (cinco filhos).

Em 1970 cria e dirige o Movimento Armorial.

Em 1971 publica o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta que levou 10 anos para ser concluído.

Em 1972 recebe o Prêmio de Ficção Nacional conferido pelo Ministério de Educação e Cultura.

Escreveu 15 livros e 18 peças de teatro. Suas obras A Mulher Vestida de Sol, Romance d’A Pedra do Reino e O Auto da Compadecida, foram transformadas em séries e filmes.

Em 1995, no governo Miguel Arraes, assume a Secretaria Estadual de Cultura onde desenvolve o projeto das aulas-espetáculo para difundir no Estado e no Brasil a cultura Pernambucana. Ariano recebeu inúmeros convites para realizar essas aulas em várias partes do país onde, com seu estilo próprio e seus “causos” cativavam o público.

Em 2007 assume a Secretaria Especial de Cultura do Estado, convidado por Eduardo Campos. No segundo mandato do governador, Ariano passa a integrar a Assessoria Especial do governo de Pernambuco.

Faleceu no Recife, no dia 23 de julho de 2014, decorrente de um AVC.

Data e local de falecimento

23 de julho de 2014 no Recife.

Lema e linha filosófica

A partir de bases e raízes da cultura popular, Suassuna buscou realizar uma obra de forma erudita e puramente brasileira onde culmina a criação do Movimento Armorial. Sua obra reúne criações livres e de alta capacidade de imaginação aliada a uma observação profunda dos hábitos e do folclore nordestino, principalmente do Estado de Pernambuco que o autor procura divulgar para outros Estados e países. Como nos dá testemunho a emblemática obra intitulada O Auto da Compadecida o humor e a sátira unem-se em personagens caricaturais onde é comum as ações finalizarem em lições de moral. A obra tem base na doutrina cristã, mas sem se aprofundar em questões religiosas, ela revela preconceitos, corrução e hipocrisia que podem permear o catolicismo. A peça se enquadra na tradição medieval dos Milagres de Nossa Senhora, em que numa história mais ou menos profana, o herói em dificuldades apela para Nossa Senhora. Dessa forma Suassuna com sua obra inovadora conseguiu realizar um trabalho de alto valor criativo que cativa e encanta o público.

Linha filosófica e caracterização geral da obra

Em 1970 Suassuna cria e dirige o Movimento Armorial. Este buscava ser um preceito estético erudito, que partia das ideias da cultura popular do nordeste, como os folhetos de cordel, os cantadores, as festas populares, entre outros. Na época de sua fundação oficial em 18 de outubro de 1970, num concerto da Orquestra Armorial de Câmara com abertura de exposição de arte relacionada ao contexto nordestino escreveu Suassuna: “o movimento lançado agora, sob a denominação de armorial resultou de 25 anos de pesquisas” (SUASSUNA, 1974). Isso demonstra que o conteúdo deste movimento foi engendrado por toda a vida adulta do escritor. O Movimento Armorial, ao estimular a criação de obras com expressões técnicas, conceituais e que conscientemente são elaboradas para fixar estéticas que partem do romanceiro popular do nordeste é na verdade a vertente brasileira da obra de arte total, na qual a música, a literatura, as artes plásticas, a dança, o teatro, o cinema, a arquitetura etc., são conversões dum mesmo movimento. Sem uma linha rígida de princípios o próprio Suassuna o considerou “um movimento aberto” (SUASSUNA, 1974, p.17). Isso não significaria, contudo, que essa “abertura” fosse capaz de fugir da zona de influência do romanceiro popular nordestino (particularmente da literatura de cordel) e os desdobramentos para as outras artes. As danças nordestinas do xaxado ao frevo, da marujada ao reisado; o teatro nordestino, enquanto espetáculo popular do mamulengo, do cavalo-marinho e do bumba-meu-boi, enfim, sobretudo a música tradicional nordestina com o uso de instrumentos como a viola advinda dos jograis lusos e do alaúde árabe via portugueses no nordeste dos séculos XVI ao XVIII, a rabeca sem a qual não há baião, os pífanos de ordem indígena, as zabumbas dos maracatus, o “marimbau”, uma criação armorial derivado do berimbau, os triângulos dos xaxados e dos xotes, entre outros. Uma orquestração que apresente composições modais, especialmente utilizando-se da chamada “escala nordestina” ou as variações do mixolídio ou às vezes o modo dórico com alternâncias de tipo quarta aumentada e sétima diminuta que aparecem sempre nos baiões, em alguns lundus “baianos” e nos frevos e influências nas melodias que remetam a cantigas da lírica Galaico-Portuguesa e outras do Segrel Português já modificado na colônia. A herança trovadoresca ibérica também é evidente na poesia nordestina e o próprio nome indicado para o movimento revela essa preferência estética em Suassuna. Mas, em relação às artes plásticas, além do trabalho ceramista e em menor grau de escultura é em torno da Xilogravura que o movimento armorial condensa artes plásticas, música e poesia do nordeste. O termo “Armorial”, provindo do termo francês “armoiries” ou “armes” (“Armas”), no sentido da heráldica, “conjunto das armas ou brasões da família” não é tomado, portanto, como neologismo. O próprio movimento armorial metaforicamente representaria uma “heráldica nordestina”, a qual se utiliza ainda de símbolos e grafismos criando uma verdadeira tipografia influenciada pela marcação de gado e com criação de um “alfabeto” próprio. (http://www.museuafrobrasil.org.br)

Em 1971 publica Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta. Para o personagem “Quaderna” utiliza elementos de cordel, da epopeia, do romance de cavalaria, das tradições populares e do mito de  Dom Sebastião para construir uma ficção que mistura o popular e o erudito. Em 1972 recebe o Prêmio de Ficção Nacional conferido pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura).

Em 1980 e 1985 Suassuna publicou, em tiragens de cerca de 50 cópias, dois álbuns intitulados Dez Sonetos Com Mote Alheio e Sonetos de Albano Cervonegro contendo, cada um, dez iluminogravuras, a partir de três temas fundamentais: a morte, o feminino e o sagrado. Gênero artístico criado pelo escritor, eles integram poemas e ilustrações criados pelo artista em consonância com o que propunha o Movimento Armorial, lançado em 1970: a realização de uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular brasileira privilegiando a integração entre as diversas manifestações artísticas.

Bibliografia activa

  • Uma Mulher Vestida de Sol, 1947
  • Cantam as Harpas de Sião (ou o Despertar da Princesa), 1948
  • Os Homens de Barro, 1949
  • Auto de João da Cruz, 1950 (Prêmio Martins Pena)
  • Torturas de um Coração, 1951
  • O Arco Desolado, 1952
  • O Castigo da Soberana, 1953
  • O Rico Avarento, 1954
  • Ode, 1955 (poesia)
  • O Auto da Compadecida, 1955
  • O Casamento Suspeito, 1956
  • A História de Amor de Fernando e Isaura, 1956
  • O Santo e a Porca, 1958
  • O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, 1958
  • A Pena e a Lei, 1959
  • A Farsa da Boa Preguiça, 1960
  • A Caseira e a Catarina, 1962
  • O Pasto Incendiado, 1970 (poesia)
  • Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta, 1971 (parte da trilogia)
  • O Movimento Armorial, 1974.
  • Iniciação à Estética, 1975
  • A Onça Castanha e a Ilha Brasil, 1976 (Tese de Livre Docência)
  • História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana, 1976 (parte da trilogia)
  • Sonetos Com Mote Alheio, 1980 (poesia)
  • DIEGUES JÚNIOR, Manuel; SUASSUNA, Ariano et al. Literatura popular em verso: estudos. Belo Horizonte: Itatia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.
  • Poemas, 1990 (Antologia)
  • Almanaque Armorial, 2008

Bibliografia passiva

ALOAN, Rafael Bastos. A Organologia e adaptação timbrística do Movimento Armorial. Instituto Villa-Lobos, Centro de Letras e Artes, Universidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, 2008.

FAJER, Roberta Fernandes. Narrativas de memória e cultura em Ariano Suassuna. Dissertação de Mestrado, 2017. Disponível em <http://dspace.unilasalle.edu.br/bitstream/11690/715/1/rffajer.pdf> Acessado em 10/09/2019.

FARIAS, Sônia Ramalho de. O Sertão de José Lins do Rego e Ariano Suassuna: espaço regional, messianismo e cangaço. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2006.

MARQUES, Roberta Ramos. A afirmação épica do “povo brasileiro” na “nação castanha” de Ariano Suassuna e Quaderna. Artigo publicado, 2009. Disponível em <http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/94> Acessado 10/09/2019.

SIMÕES, Ester Suassuna. A   morte,   o   feminino   e   o  sagrado:   uma   leitura   intersemiótica das iluminogravuras de Ariano Suassuna. Dissertação de Mestrado, 2016.

INTERNET

http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice-biografico/movimentosesteticos/movimento-armorial

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ariano_Suassuna

https://www.ebiografia.com/ariano_suassuna/

https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/9879/9879_2.PDF