JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI

(1894-1930)

Autoria: Isabel Araújo Branco

Horizonte geracional

GERAÇÃO DE 1930 (Generación del Centenário)

País: Peru

Data e local de nascimento

Moquegua, 14 de Junho de 1894

Formação e Acção

José Carlos Mariátegui La Chira foi um pensador marxista que dedicou uma importante parte da sua obra a analisar a sociedade peruana, as causas dos seus problemas e a apontar possíveis soluções a curto, médio e longo prazo, tendo bastante impacto não apenas no seu país, mas junto das camadas intelectuais de toda a América Latina. A impressionante multidão que acompanhou o seu funeral em Lima, em 1930, reflecte a sua popularidade igualmente nos sectores populares.

Actividade desenvolvida

José Carlos Mariátegui formou-se em Jornalismo e colaborou com os jornais La Prensa e El Tiempo e com as revistas Mundo Limeño, Lulú, El Turf e Colónida, utilizando por vezes o pseudónimo Juan Croniqueur. Fundou a revista Nuestra Época em 1918 e o jornal La Razón em 1919, títulos com intervenção social e política claramente de esquerda. Após uma estada na Europa, criou em 1923 Vanguardia: Revista Semanal de Renovación Ideológica, em 1926 Amauta e em 1928 Labor. Em 1925 fundou a Editora Minerva. Em vida publicou La escena contemporánea (1925) e Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928). Postumamente foi editado El alma matinal (1950) e Defensa del Marxismo: polémica revolucionaria (1969).
Mariátegui foi um dos fundadores do Partido Socialista Peruano (1928, mais tarde rebaptizado Partido Comunista Peruano) e da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (1929).

Data e local de falecimento

Lima, 16 de Abril de 1930 (35 anos)

Lema e linha filosófica

Integrando-se na corrente marxista, José Carlos Mariátegui procura, nos seus ensaios e artigos, compreender os problemas sociais, políticos e económicos do Peru de forma interventiva e activa. Nesse sentido, um dos aspectos que mais particulariza o seu pensamento é a sua posição sobre os indígenas, tornando-se um dos primeiros intelectuais latino-americanos a abordar esta questão, na senda, aliás, do cubano José Martí, algumas décadas antes.
Linha filosófica e caracterização geral da obra

Em 1928, no artigo «El problema del indio», José Carlos Mariátegui mostra como os indígenas foram utilizados pelos colonos espanhóis para a exploração de minas e outros trabalhos duros, num sistema forçado e não remunerado que levou à morte de milhões de pessoas. Mesmo com as alterações legislativas e a protecção dos índios pela lei, manteve-se na prática a exploração e a injustiça social, política, económica e cultural. Nem sequer a independência teve consequências positiva para os índios, considera Mariátegui: os avanços aprovados não foram aplicados.
«A aristocracia latifundiária da Colónia, detentora do poder, manteve intactos os seus direitos feudais sobre a terra e, por conseguinte, sobre o índio», afirma Mariátegui, acrescentando que «a República empobreceu o índio, agravou o seu abaixamento e exasperou a sua miséria», representando para este grupo «a ascensão de uma nova classe dominante que se apropriou sistematicamente das suas terras». «Numa raça de costumes e de alma agrárias, como a raça indígena, este desapossamento constituiu uma causa de dissolução material e moral. A terra sempre foi a alegria do índio. O índio desposou a terra. Sente que “a vida vem da terra” e regressa à terra. Portando, o índio pode ser indiferente a tudo menos à posse da terra, que as suas mãos e o seu alento lavram e fecundam religiosamente», declara.

A época contemporânea de Mariátegui não apresenta um melhor panorama, pois persiste «a mais bárbara e omnipotente feudalidade» e os índios vivem «num grau extremo de abatimento e de ignorância». Mariátegui calcula que quatro quintas partes da população do Peru são constituídas por indígenas e camponeses. Daí considerar que «a questão indígena é a base da nossa economia». Para solucionar os problemas dos índios é necessário extinguir o feudo e partilhar a terra.
No texto, o autor declara que as ideias socialistas provocaram «um forte movimento de reivindicação indígena» no Peru e levaram a uma nova consciência, pelo que, «pela primeira vez, o governo foi obrigado a aceitar e proclamar pontos de vista indigenistas, ditando algumas medidas que não tocam os interesses do gamonalismo e que são, por isso, ineficazes. Pela primeira vez também o problema indígena […] é colocado nos seus termos sociais e económicos, identificando-se acima de tudo com o problema da terra.» Mariátegui considera que os problemas dos índios têm de ser resolvidos por eles próprios, mas unidos num todo nacional.

Bibliografia activa

Defensa del Marxismo: polémica revolucionaria, Lima: Biblioteca Amauta, 1969;
El alma matinal, Lima: Biblioteca Amauta, 1950;
La escena contemporánea, Lima, Minerva, 1925;
Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana, Lima, Minerva, 1928.

Bibliografia passiva

ARTETA, Álvaro Campuzano, La modernidad imaginada: arte y literatura en el pensamiento de José Carlos Mariátegui (1911-1930), Madrid, Frankfurt, Iberoamericana, 2017.

CHANG-RODRÍGUEZ, Eugenio, Poetica e ideologia en Jose Carlos Mariategui, Madrid, J. Porrúa Turanzas; 1983.

KOHAN, Néstor, LÖWY, Michael, PÉREZ, Gustavo, Mariátegui y la revolución en América Latina, Barcelona, Editorial Yulca, 2014.

ARCHENA FERNÁNDEZ, Juan, José Carlos Mariátegui, Madrid, Sociedad Estatal para la Ejecución Programas del Quinto Centenario, 1987.

SICILIA, Luis, José Carlos Mariátegui. Un marxismo indígena, Buenos Aires, Capital Intelectual, 2007.

TORRES FERNANDEZ, Juan José, La aventura de Mariátegui: nuevas perspectivas, Lima, Pontificia Universidad Católica del Perú, Fondo Editorial, 1995.