ORTEGA Y GASSET e a teoria das gerações

I COLÓQUIO INTERNACIONAL ‘GERAÇÕES HISPÂNICAS’ – 07/04/2017

Margarida Almeida Amoedo[1]

CHAM-FCSH/NOVA-UAc

Embora seja possível encontrar numerosas referências a gerações em textos dos mais variados tipos e em épocas mais ou menos remotas, o tema das gerações só muito recentemente passou a ser abordado com amplitude e rigor.[2] No Século XIX, graças a uma agudização da consciência histórica, nomes como Comte, Stuart Mill, Giuseppe Ferrari ou Dilthey representam alguns dos principais autores que, provenientes de diferentes tradições culturais, iniciam o estudo das gerações. No entanto, não é possível a seu respeito falar propriamente em teoria das gerações porquanto, ou reduzem a geração a uma acepção meramente genealógica, ou se detêm na sua dimensão política, ou, na ausência de uma doutrina geral da vida histórica e social, produziram apenas antecipações parciais[3] do que ela viria a ser.

Na primeira metade do Século XX, porém, autores como, por exemplo, o filósofo José Ortega y Gasset, o historiador da arte Wilhelm Pinder, o historiador da literatura Julius Petersen e o sociólogo Karl Mannheim puderam já, graças a um aprofundamento das reflexões acerca da realidade histórico-social, propor o recurso à categoria de geração como instrumento de compreensão das dinâmicas internas do processo histórico.[4]

Atendendo à precocidade e ao significado filosófico da tematização por Ortega y Gasset das gerações, é a esta que nos dedicaremos em seguida. A doutrina da razão vital, pela qual é especialmente conhecido o autor espanhol, passa a ser assumida pelo próprio filósofo, a partir dos finais da década de 20 e princípios da década de 30 do século passado, como uma doutrina da razão histórica. E é precisamente nessa etapa de pensamento que a sua compreensão das gerações se consolida e edifica sobre o pano de fundo de uma concepção metafísica inconfundível.

No entanto, antes, Ortega abrira já El tema de nuestro tiempo (publicado em 1923) com um capítulo intitulado «La idea de las generaciones», onde afirma que o fenómeno primário na história é a sensação radical perante a vida, ou seja, a sensibilidade vital[5] e que a variação desta tem consequências históricas decisivas quando se produz, não num indivíduo, ou numa multidão difusa de indivíduos (como pretendem respectivamente as interpretações indivi­dualista e colectivista da história), e sim numa geração.

Apelando, nesse contexto, à relação entre indivíduo e massa que esboçara em Vieja y nueva política (1914) e na Segunda Parte de España invertebrada (1922), Ortega define nos seguintes termos o conceito que mais tarde irá usar no sentido rigoroso de categoria da investigação histórica: “Una generación no es un puñado de hombres egregios, ni simplemente una masa; es como un nuevo cuerpo social íntegro, con su minoría selecta y su muchedumbre, que ha sido lanzada sobre el ámbito de la existencia con una trayectoria vital determinada.”[6] Uma geração é, por isso, um com­pro­misso dinâmico entre massa e indivíduo e uma variedade humana, cujos membros têm em comum, por mais numerosas que sejam as diferenças que os separam, serem homens do seu tempo, muito mais afins entre si do que relativamente a indivíduos de outras gera­ções.[7] Assim, como Ortega sublinha, “cada generación representa una cierta altitud vital, desde la cual se siente la existencia de una manera determinada”[8].

A ideia de geração serve em El tema de nuestro tiempo como instrumento para pen­sar a diversidade e o ritmo em que se sucedem as épocas históricas, bem como para ava­liar as características de Espanha e em geral da Europa nos princípios da segunda década do século passado. Ortega alerta para o encadeamento entre as várias gerações que determina que cada uma delas receba as ideias, valorações, instituições e, em suma, o que foi vivido pela anterior e ao qual juntará o que resultar da sua própria espontaneidade. O recebido e o próprio constituem duas dimensões da vida de todas as gerações, ainda que nem todas lhes reconheçam o mesmo peso relativo. Em virtude das diferenças deste teor, torna-se patente na história um ritmo peculiar em que alternam épocas cumulativas e épocas eliminatórias, ou seja, as que correspondem respectivamente às gerações que sentem uma considerável homoge­neidade entre o que pode produzir a sua sensibilidade espontânea e o que foi produzido anteriormente, e àquelas que, pelo contrário, consideram haver uma heterogeneidade pro­funda entre as duas dimensões. Nas épocas cumulativas, os jovens acabam por se submeter aos anciãos, seja na política, nas artes, na ciência, ou em qualquer outro domínio, pelo que Ortega as designa também por épocas de senectude ou “tiempos de viejos”; nas épocas eliminatórias, os mais novos não são dóceis à autoridade do passado, entram até em beligerância construtiva com tudo o que não consideram pensado e sentido por si, dominando-os um espírito combativo que, em vez de conservar e acumular, quer substituir, construir nova­mente – por esta razão Ortega menciona-as como épocas de juventude, denominando-as também como “tiempos de jóvenes”.[9]

Um outro aspecto extremamente relevante em que se alicerça o fundamental da me­ditação orteguiana de El tema de nuestro tiempo reside na conclusão de que, se cada gera­ção se caracteriza por uma certa sensibilidade, cada uma consiste num conjunto peculiar de tendências íntimas, porquanto é possível afirmar, tal como a respeito do indivíduo, que uma geração tem a sua própria vocação, uma missão histórica. Não é impunemente, diz Ortega, que uma geração não cumpre a sua vocação, pois, desertora do posto que lhe pertence na história, ela fica condenada a uma sobrevivência de delinquente que “se arrastra por la existencia en perpetuo desacuerdo consigo misma, vitalmente fracasada.”[10] O pensador es­panhol, no livro em que formula explicitamente como tema do seu tempo a reacção contra o império da razão pura pelo encontro com a razão enquanto função vital, refere-se à vida humana como processo interno em que se cumpre uma lei de desenvolvi­mento[11] que permite, apesar dos acasos, prever o futuro, evitando o fracasso de uma época. Sabemos o significado que este tipo de preocupação teve ao longo de toda a vida de Ortega y Gasset e podemos confirmar como o seu pensamento filosófico – em especial com as suas doutrinas sobre a vida e a razão vital e histórica – decorre de uma genuína necessidade de compreender o sentido que se esconde por detrás da multiplicidade do acontecer histórico e, por essa via, poder intervir no seu curso. Por isso, interessava-lhe descobrir os vectores distintivos do seu tempo recortando-se sobre o pano de fundo mais amplo do correlativo enquadramento sobretudo espanhol, europeu e ocidental. Com esse fim em vista, apurar o seu próprio sentido histórico e tematizar a História por relação com a vida humana estreitam-se fortemente em Ortega. Daí que em El tema de nuestro tiempo a refle­xão sobre as consequências suicidas do relativismo e o carácter anti-histórico do raciona­lismo[12] seja introduzida pela menção genérica à variação da sensibilidade vital que resulta da diversidade de gerações e se configura em épocas também distintas. Com base nestas ideias, o filósofo madrileno reclama uma interpretação da vida que não anule a sua consis­tência histórica e postula, nomeadamente, a possibilidade de a História antecipar os grandes traços do futuro próximo[13].

Dez anos depois, num curso que viria a ser publicado (apenas em 1947) sob o título En torno a Galileo, o autor vai mais longe na caracterização do que é decisivo nas transfor­mações históricas e o conceito de geração torna-se bastante mais preciso. Partindo do facto ele­mentar de que as vidas se sucedem, o que acarreta ineludíveis mudanças na estrutura do mundo, Ortega busca a unidade de tempo em que o drama vital colectivo se altera signifi­cativamente e, como ele mesmo sintetiza, “esto no es sino hallar la razón y el período de los cambios históricos en el hecho anejo esencialmente a la vida humana de que ésta tiene siem­pre una edad. La vida es tiempo – como ya nos hizo ver Dilthey y hoy nos reitera Heidegger, y no tiempo cósmico imaginario y porque imaginario infinito, sino tiempo li­mi­tado, tiempo que se acaba, que es el verdadero tiempo, el tiempo irreparable.”[14] A idade do ser humano implica, então, quer a escassez de tempo, quer a pertença em cada momento a um determinado segmento do seu tempo vital. Para além disso, é possível verificar que numa mesma data convivem três modos de vida – o do jovem, o do adulto e o do velho – tão distintos, que tem cabimento falar de três idades diferentes alojadas na mesma actuali­dade histórica. Unidas enquanto contemporâneas, segundo o tempo externo e cronológico, separa-as o tempo vital, que apenas pode coincidir em seres humanos coetâneos e que têm entre si algum contacto vital. Distinguindo claramente o viver nas mesmas datas do ter a mesma idade, Ortega, no seu curso de 1933, define geração pelas notas de coetaneidade (não de contemporaneidade) e de participação num dado círculo de convivência, em virtude das quais os indivíduos da nossa espécie se tornam elementos de uma mesma comunidade de destino essencial que origina um estilo vital.[15]

A convivência num tempo cronológico de diferentes tempos vitais é considerada por Ortega a condição indispensável da história: “Merced a ese desequilibrio interior se mueve, cambia, rueda, fluye. Si todos los contemporáneos fuésemos coetáneos, la historia se deten­dría anquilosada, petrefacta, en un gesto definitivo, sin posibilidad de innovación radical ninguna.”[16]  Por conseguinte, no pensamento orteguiano, a constante procura humana de se­gurança determina transformações profundas do mundo graças ao sistema dinâmico das relações entre várias gerações[17] e estas, entendidas no sentido de polémica e não de ge­nealogia[18], exprimem melhor do que nenhum outro meio, a articulação da história com as suas mudan­ças. Por isso, a ideia das gerações converte-se, para Ortega, em método funda­mental da investigação histórica.

Ainda que, como Julián Marías sustentou, o tema das gerações tenha na obra orteguiana uma longa cronologia, que abrange toda a sua vida intelectual[19], em En torno a Galileo ele tem uma das suas exposições principais. Com clareza e sistematicidade são aí apresentadas, graças a um peculiar entendimento e uso da categoria de idade, três grandes etapas da nossa vida: a primeira, que dura até cerca dos trinta anos, é o período em que o homem se apercebe do mundo em que tem de viver; a segunda é aquela em que reage de uma forma original ao mundo, produ­zindo novas ideias nos domínios da ciência, da técnica, da arte, da religião, da política, da sociedade, ideias que são reforçadas pelos coetâneos e que acabam por se impor sob a forma de mundo vigente; a terceira grande etapa começa quando o homem governa o mundo que criou e tem de o defender das reacções que lhe são dirigidas por novos homens de trinta anos.[20]  Tendo vincado bastante que “el concepto de edad no es de sustancia ma­temática, sino vital” e que “tienen la misma edad, vital e históricamente, no sólo los que nacen en un mismo año, sino los que nacen dentro de una zona de fechas”[21], Ortega admite ainda subdividir as três etapas apre­sentadas, com vista a obter um instrumento mais rigoroso de análise da história. Primeira­mente, a infância é a idade em que não há intervenção histórica; em seguida, dos quinze aos trinta anos o papel público do jovem é receptivo, daí o carácter egoísta da juventude; dos trinta aos quarenta e cinco, o homem começa a actuar procurando modificar o mundo rece­bido; a este período de iniciação ou gestação segue-se o de predomínio ou gestão dos que entre os quarenta e cinco e os ses­senta anos sustentam em todos os âmbitos de actividade a vigência do mundo a que deram uma figura singular; finalmente, a partir dos sessenta – referência que, perante a actual longevidade humana, teria de ser corrigida – vive-se a velhice, idade em que a actuação histórica diminui radicalmente, mas em que sobrevivem os vestígios de um mundo anterior que deixou de ser vi­gente.[22] Então, resume Ortega, “desde el punto de vista importante a la historia, la vida del hombre se divide en cinco edades de (…) quince años: niñez, juventud, iniciación, predomi­nio y vejez.” E acrescenta: “El trozo verdaderamente histórico es el de las dos edades madu­ras: la de iniciación y la de predomi­nio.”[23] Uma vez que o filósofo tinha esclarecido previ­amente que o objecto da investiga­ção histórica são as variações na vida humana, não admira que reconheça primazia às duas gerações em que o ser humano descobre e gere as ideias constituintes de um novo mundo.[24] Outro aspecto que sublinha – inclusive como uma no­vidade da sua doutrina – é o facto de o período de plena actividade histórica do homem não corresponder a um tipo de vida homogéneo[25], mas sim a duas tarefas vitais completa­mente diferentes, de duas gerações contemporâneas que intervêm ao mesmo tempo na reali­dade histórica e, contudo, não são coetâneas, caracterizando-se até pela sua relação polé­mica. Por isso, Ortega tem de concluir que “lo decisivo en la idea de generaciones no es que se suceden, sino que se sola­pan o empalman.”[26] Esta sobreposição, que também se verifica com outras gerações – embora neste caso seja mais evidente –, dificulta a percepção habi­tual do ritmo e dos pe­ríodos das gerações históricas.

A regularidade dos quinze anos apon­tados para cada uma delas provoca, como Marías bem observou, um certo mal-estar, que leva a perguntar, por exemplo, se é admissível a quantificação precisa das coisas humanas e se não se introduz com ela um matematismo injustificado. Porém, a própria realidade dissipa estas possíveis objecções, desde que se entenda que tal quantificação não nos obriga a to­mar como exacto o número quinze: sai-se da infância por volta dos quinze anos, com cerca de trinta inicia-se a actuação histórica e esta verifica-se, ao longo de duas fases de duração aproximada, por uns trinta anos; e, a partir dos sessenta, há uma redução do número dos sobreviventes e a intervenção destes vai diminuindo.[27] Os quinze anos são, pois, conforme Marías sugere, a componente quantitativa da ideia de geração que em rigor é uma quali­dade viva[28] ou, nos termos do seu mestre, a “unidad concreta de la auténtica cronología histórica”[29]. Daí que a própria data de nascimento só adquira signifi­cado histórico se, como em relação a qualquer acontecimento humano, transcendermos o plano biológico e até o biográfico, para buscarmos a altitude ou o nível vital[30] que lhe corresponde numa série de gerações e num dado contexto cultural.

Um factor que hoje faria alterar, por certo, muitas das expressões do pensamento orteguiano é a participação crescente das mulheres na vida pública. Em muitos momentos da definição das diferentes idades e gerações a categoria de homem usada por Ortega só forçada e anacronicamente pode ser substituída pela de ser humano. Ainda que o filósofo não tenha deixado de referir, logo em 1923, que, para além do ritmo marcado pela alternância entre épocas cumulativas e épocas eliminatórias, importaria descobrir outros grandes ritmos históricos não menos evidentes e fundamentais, como, por exemplo, o ritmo sexual[31], a verdade é que, quando fala em homens do seu tempo ou na etapa em que o homem governa o mundo que criou, o pensador poderia, quando muito, ter presente apenas a experiência de raras mulheres com alguma intervenção pública e, inclusive neste caso, sem quaisquer condições de equidade no desempenho de funções sociais[32].

O panorama manteve-se quase inalterado por muitas décadas depois da geração do próprio Ortega, ao ponto de o nosso projecto de investigação sobre gerações hispânicas não ter muitos nomes de mulheres entre os autores e escolas que trazemos entre mãos. Há, contudo, um alerta que importa deixar sobre o trabalho em curso: ele incide sobre horizontes geracionais e o magma vivencial que os alimenta tem inúmeros protagonistas, mesmo que não sejam nomeados ou nomeáveis.

Por outro lado, estamos conscientes de que é possível analisar diferentes tipos de fenómenos geracionais e que nos campos diversos, por exemplo, da Literatura, das Artes Plásticas, da Filosofia, ou das Ciências, a índole dos grupos geracionais varia e, por conseguinte, a própria noção de geração parece resistir a abarcar, de maneira idêntica, fenómenos e grupos com caracteres incomparáveis. Por razões semelhantes, também nos estudos comparativos das tendências de pensamento no vasto mundo luso-brasileiro e ibero-americano seria absurdo um uso férreo de uma mesma régua para identificar as respectivas gerações. Neste como noutros assuntos, é ainda Ortega quem nos ensina a precaver-nos contra todo o escolasticismo, que desenraíza ideias e autores[33], quando o que pretendemos é compreendê-los no contexto histórico que os distingue e a cujo enriquecimento estão indelevelmente ligados.

 

[1] Ensina Filosofia, desde 1987 na Universidade de Évora, onde é Prof.ª Associada. A sua área privilegiada de docência é a de Axiologia e Ética, e Filosofia da Educação, destacando-se, dentre os seus interesses de investigação principais, o pensamento de José Ortega y Gasset a que há muito se dedica, desde a Licenciatura em Filosofia e o Mestrado em Filosofia Contemporânea concluídos na Universidade de Coimbra. A sua tese de Doutoramento foi publicada pela IN/CM sob o título José Ortega y Gasset: A Aventura Filosófica da Educação, a que se seguiram outras publicações, como, por exemplo, a sua tradução dos textos orteguianos sobre a Técnica.

[2] Julián Marías afirma-o e ilustra-o detidamente, no seu estudo intitulado El método histórico de las generaciones. Apresentado no Instituto de Humanidades, sob a forma de curso, em 1948-1949 e quase de imediato publicado, pela editora Revista de Occidente, em 1949, o texto seria actualizado em 1960 e teria edições sucessivas, daí em diante. MARÍAS, J. – El método histórico de las generaciones, 5ª ed., in Obras. Tomo VI. Madrid: Revista de Occidente, 1970, pp. 11-172.

[3] Cf. ibid., p. 66.

[4] Mais tarde, nas últimas décadas do século passado, a abordagem do ponto de vista geracional de muitos fenómenos dá origem a uma imensa bibliografia sobre gerações, como refere Hans Jaeger num breve texto muito interessante, em que discute criticamente o conceito e método das gerações. JAEGER, Hans – “Generations in History: Reflections on a Controversial Concept”, History and Theory, Middletown, Vol. 24, nº3 (1985), 273-292.

[5] Cf. ORTEGA Y GASSET – El tema de nuestro tiempo, in Obras completas. Tomo III, Madrid: Taurus/FJOG, 2005, p. 562. (Doravante, esta edição crítica de Obras completas – publicada em 10 Tomos, entre 2004 e 2010 – será citada através da abreviatura Oc, seguida apenas da indicação do tomo em numeração romana e da página ou páginas em numeração árabe.)

[6] Ibid., p. 563. Este aspecto da caracterização orteguiana de geração é uma das razões por que optamos por usar a expressão grupo de 98 a respeito de homens como Unamuno, Valle-Inclán, Baroja, Azorín, Ramiro de Maeztu, Antonio Machado e outros. Falar com todo o rigor em geração de 98 implicaria uma consideração muito menos restrita de pessoas e situação histórica, para além de obrigar a pôr em questão se todos aqueles autores pertencem à mesma geração e, no caso afirmativo, se 1898 constitui o marco a partir do qual tem início a sua plena actuação histórica.

[7] Cf. ibid., pp. 563-564.

[8] Ibid., p. 564.

[9] Ibid., p. 565.

[10] Ibid., p. 566.

[11] Cf. ibid., p. 569 e ss..

[12] Cf. ibid., p. 572 e ss..

[13]  Na História tem cabimento a profecia, escreve Ortega taxativamente – cf. ibid., p. 568. Concebida a vida humana como um processo interno cujos factos essenciais têm raiz no sujeito e se encadeiam entre si, a ciência histórica pode compreender uma situação vendo-a surgir necessariamente de outra anterior. A opera­ção intelectual requerida para esse fim, tanto pode debruçar-se sobre o passado, como profetizar o futuro. Muitos dos factos humanos ligam-se por necessidade psicológica como no exemplo a que Ortega recorre para que se entendesse melhor as duas direcções – para trás e para a frente – da investigação histó­rica: “Cuando nos cuentan que Pedro, hombre íntegro, ha matado a su vecino, y luego averiguamos que el vecino había deshonrado a la hija de Pedro, hemos comprendido suficientemente aquel acto homicida. La comprensión ha consistido en que vemos salir lo uno de lo otro, la venganza de la deshonra, en inequívoca trajectoria y con evidencia pareja a la que garantiza las verdades matemáticas. Pero con la misma evidencia, al saber la deshonra de la hija, pudimos predecir antes del crimen que Pedro mataría a su vecino.” Ibid., p. 569. Re­quisito fundamental da profecia histórica sustentada por Ortega é que parta, não da forma ou exterior das vidas analisadas – como acontece no profetismo de Oswald Spengler –, mas do interior de uma situação vital, distinguindo no seu pensamento e nas suas restantes criações uma espécie de registos sísmicos de tremores breves e insensíveis que, mais tarde, se poderão transformar em catástrofes telúricas. “En el puro pensamiento es (…) donde imprime su primera huella sutilísima el tiempo emergente” – ibid., p. 570 – e também a criação artística com as suas imanações ideológicas parecem a Ortega “infinitamente dóciles al más ligero soplo de los aloisios espirituales”  –  IDEM, La deshumanización del arte, in Oc, III, p. 870. Sobre a teorização orte­guiana da profecia histórica cf., ex., GRANELL, Manuel – «Teoría de la predicción histórica», in Ortega y su filosofía. Madrid: Revista de Occidente, 1960, pp. 97-116. E sobre os modos que ela assume cf., ex., RALEY, Harold C. – «Modes of Prediction in Ortega», in AAVV, Ortega y Gasset Centennial /Centenario Ortega y Gasset, Madrid: Ediciones José Porrúa Turanzas, 1985, pp. 69-80.

[14] ORTEGA Y GASSET, José – En torno a Galileo, in Oc, VI, pp. 392-393.

[15] Cf. ibid., pp. 393-394.

[16] Ibid., p. 393.

[17] “En el «hoy», en todo «hoy» coexisten articuladas varias generaciones, y las relaciones que entre ellas se establecen, según la diversa condición de sus edades, representan el sistema dinámico, de atracciones y repul­siones, de coincidencia y polémica, que constituye en todo instante la realidad de la vida histórica.” Ibid., pp. 394-395.

[18]  “A diferencia (…) de todas las otras teorías sobre las generaciones y aun de la idea tradicional e viejísima acerca de ellas, yo las tomo, no como sucesión, sino como una polémica (…). La polémica no es, por fuerza, de signo negativo, sino que, al contrario, la polémica constitutiva de las generaciones (…) es formalmente secuencia, discipulado, colaboración y prolongación de la anterior por la subsecuente.” Ibid., p. 399.

[19] Cf. MARÍAS, Julián – El método histórico de las generaciones, op. cit., pp. 77-79.

[20] Cf. ORTEGA Y GASSET, José – En torno a Galileo, op. cit., pp. 401-402.

[21] Cf. ibid., pp. 395-396.

[22] Cf. ibid., pp. 402-404.

[23] Ibid., p. 404.

[24]  Nunca será excessivo chamar a atenção para o significado peculiar de mundo no discurso orteguiano. En torno a Galileo é a esse respeito especialmente claro: “Con mayor o menor actividad, originalidad y energía, el hombre hace mundo, fabrica mundo constante­mente, y (…) mundo o universo no es sino el esquema o interpretación que arma para asegurarse la vida.” Ibid., p. 389. Na Lição VII do mesmo curso Ortega volta a acautelar possíveis interpretações erróneas das suas catego­rias: “Recuérdese que en nuestra terminología mundo significa el conjunto de soluciones que el hombre halla para los problemas que su circunstancia le plantea.” Ibid., p. 432.

[25] Cf. ibid., p. 402.

[26] Ibid., p. 404.

[27] Actualmente a duração média da vida humana é diferente da de que Ortega partiu no seu tempo, havendo um número muito maior de pessoas com mais de sessenta anos e muitas delas mantendo-se bastante activas, o que faz com que o esquema das idades se altere, em particular no que diz respeito ao período e às atribuições dos idosos.

[28] Cf. MARÍAS, Julián – El método histórico de las generaciones, op. cit., p. 135. A título de exemplo, Marías refere que no ser humano também a altura e o peso, não sendo exactamente determinados, não são quais­quer – nem dez metros e trezentos quilos, nem cinco centímetros e trinta gramas –, para concluir que “esa cifra de quince años funciona en cuanto «número redondo»”. Ibid..

[29]  ORTEGA Y GASSET, José – Prólogo a «Cartas finlandesas» y «Hombres del Norte», de Angel Ganivet, in Oc, V, p. 61.

[30] Cf. ibid., p. 407.

[31] Cf. IDEM – El tema de nuestro tiempo, op. cit., p. 565.

[32] Isso não obsta a que registe: “Se insinúa, en efecto, una pendulación en la historia de épocas sometidas al influjo predominante del varón a épocas subyugadas por la influencia femenina. Muchas instituciones, usos, ideas, mitos, hasta ahora inexplicados, se aclaran de manera sorprendente cuando se cae en la cuenta de que ciertas épocas han sido regidas, modeladas por la supremacía de la mujer. Pero no es ahora ocasión adecuada para internarse en esta cuestión.” Ibid..

[33] Cf. IDEM – La idea de principio en Leibniz y la evolución de la teoría deductiva, in Oc, IX, p. 1066 e ss..